Diversão e Arte

Gastronomia se transforma em lucrativo filão entre os canais fechados de TV

Nahima Maciel
postado em 17/02/2011 08:00

Participantes de reality shows gastronômicos: viagem pelo mundo à procura de sabores e restaurantes

A cozinha pode ser industrial, aconchegante, ao ar livre, improvisada ou até despedaçada. O importante está no comando. O cozinheiro funciona como showman. E nessa descrição entram todos os tipos de personalidades. Tem o cara da lambança, a moça de curvas fartas, o francês abrasileirado, o estressado briguento e o bonitão elegante. Os programas de gastronomia invadiram os canais da televisão a cabo e esse fenômeno já completa uma década. Na esteira de celebridades como Nigella Lawsson, Jamie Oliver, Gordon Ramsay e Anthony Bourdain apareceram outros, menos badalados, mas muito presentes quando se trata de culinária e gastronomia.

Os canais GNT e Discovery são os campeões de programas. As manhãs de sexta-feira trazem um pacote no GNT. Entre 9h e 11h30, o espectador se depara com Nigella, Claude Troisgros, Olivier Anquier, Chuck e Jamie Oliver. No Discovery Home and Health e Travel & Living a grade inclui programas de gastronomia todos os dias, a partir das 22h. Nesses predomina a combinação entre viagens e gastronomia. Chefs como Anthony Bourdain e Eduardo Osuna viajam pelo mundo à procura de sabores e restaurantes. Os reality shows são um caso à parte. Chefs iniciantes aprendem a montar um cardápio e figuras, como o badalado Gordon Ramsay, dono de 22 casas espalhadas pelo mundo, infernizam a vida de donos de restaurantes para organizar cozinhas caóticas.

A chef Alice Mesquita, do Alice Brasserie, no Lago Sul, gosta de formatos reality show como os programas de Ramsay. ;Ele vai salvar os restaurantes e é muito real. Só existe aquilo, é raríssimo ser fora daquilo;, conta. Para Alice, o sucesso de Nigella e Jamie Oliver se deve a uma combinação especial. ;É cozinha simples, com boa apresentação. Desperta a curiosidade e desmistifica a gastronomia. Esses programas tornam acessíveis coisas que só se comia no restaurante.;

O formato clássico, com apresentação de receita e modo de execução, cedeu espaço a programas que extrapolam a intenção de apenas ensinar. Viajar pelo mundo e descobrir a cultura por meio da culinária ou acompanhar os bastidores dos restaurantes são variações sobre a mesma temática. Ana Toscano, chef do Villa Borghese (Asa Sul) e ex-apresentadora do programa Temperando a vida (2002-2009), acha os reality shows maçantes e sem interesse. ;Você não vê como a comida é feita, só sobra o estresse da cozinha;, repara. ;E muitos não são programas de culinária e gastronomia e sim de variedades, porque eles viajam e depois comem. Não ensinam. Prefiro os que ensinam. Cada um quer fazer uma coisa diferente, mas o público gosta mesmo é do simples e lindo.;

Há menos de três décadas, A cozinha maravilhosa da Ofélia era uma das poucas opções de programas de culinária na televisão. William Chen, do Babel (215 Sul), e o dinamarquês Simon Lau Cederholm, do Aquavit (Lago Norte), lembram-se da simplicidade de Ofélia. O aumento do poder aquisitivo do brasileiro mudou o interesse pela gastronomia, que virou um hobby, quase uma moda. O reflexo está na variedade de programas contemporâneos. ;As pessoas se identificam (com os apresentadores). Nigella, por exemplo, parece que nunca entrou numa cozinha, é uma pessoa comum. As receitas têm conteúdo, mas ela não é chef;, diz Simon. William gosta do Top chef, que avalia o desempenho dos chefs, e de Jamie Oliver, um ;lambão; no entendimento do brasiliense. ;É legal, o cara se sente próximo a ele. A gastronomia está na moda. Com a elevação da qualidade de vida, as pessoas têm mais tempo para o hobby.;

Viagens, gastronomia e variedades
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É o filão da Discovery Travel . Na grade, nove opções de chefs viajantes. O formato faz sucesso, embora não ensine o espectador a cozinhar. A ideia é visitar culturas do mundo sob o pretexto da culinária. Comidas exóticas e Anthony Bourdain: Sem reservas estão entre os mais conhecidos. No primeiro, Andrew Zimmern come insetos na Tailândia e frutos do mar melequentos no Chile. Bourdain prefere a sofisticação e avisa que seu programa não é sobre comida, mas sobre culturas. ;A fórmula do Bourdain é ele mesmo. É muito importante essa receita ter consistência com uma pessoa que tenha o fator entretenimento. Só turismo não segura um canal sete dias por semana. Então temos que fazer turismo relacionado à cultura;, explica André Rossi, diretor de programação da Discovery. A fórmula se repete em A volta ao mundo em 80 sabores, no qual Eduardo Osuna visita sabores exóticos (de preferência) sem sair da própria cozinha e em Ásia: sabor e cultura , Bobby Chinn explora as estranhezas das comidas de rua de cidades asiáticas, com direito a visitas a mercados.

[SAIBAMAIS]Reality shows
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O cotidiano de profissionais da área de gastronomia só não atrai mais atenção das lentes que a combinação viagem-comida. Aqui a celebridade é o britânico Gordon Ramsay, tirânico na avaliação da disputa dos chefs de Hell;s kitchen (Liv) e implacável na missão de salvar cozinhas de restaurantes em Kitchen;s nightmare (Fox). O Top chef (Sony) segue o mesmo formato com competição de chefs avaliados por júri de celebridades. Natalie Portman, Anthony Bourdain e Nigella Lwasson já participaram do programa. No Discovery Home, Curtis Stone ensina os participantes a cozinharem na própria casa em Chef a domicílio e Emeril Lagasse convida os frequentadores de um mercado de produtos orgânicos a cozinharem in loco com ingredientes à venda em Emeril: Eco-Gastronomia. Em Cake Boss (Liv) as câmeras acompanham os bastidores da confeitaria de Buddy Valastro, conhecido nos Estados Unidos por confeccionar bolos temáticos.

Cozinha simples e aconchegante
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É a fórmula tradicional, com algumas modificações que fazem dos programas verdadeiros espetáculos. O segredo está no carisma do apresentador. Nigella Lawsson e Jamie Oliver são as estrelas. Ela fez sucesso com receitas simples e uma cozinha aconchegante e Oliver, com o dinamismo e o jeito moleque de bagunçar o balcão. O GNT é a meca desses programas. Por lá circulam também o agitado Gerry Gavin, Olivier Anquier e Claude Troisgros, chefs franceses radicados no Brasil. A cozinha de Gavin parece palco de show de hip-hop de tão dinâmica. Mais calmo, Anquier mistura sessões na cozinha com viagens pelo Brasil em em Diário do Olivier. Troisgros segue a fórmula dos convidados. Que marravilha! Tem sempre uma celebridade, pretexto para o chef e adorno para captar audiência.

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