postado em 19/02/2011 08:00
O presente foi entregue no início da semana, em meio ao romantismo do Valentine;s Day (Dia dos Namorados). Mas, para desembrulhar o pacote e conhecer o conteúdo da surpresa que alegrou os apaixonados pelo Radiohead, o fã se viu obrigado a esperar quatro longos dias. Um teste de nervos que chegou ao fim ontem, quando o oitavo disco dos ingleses começou a trafegar em velocidade acelerada na banda larga da música pop. As especulações sobre The king of limbs tomaram conta das redes sociais e engordaram as expectativas por um dos lançamentos mais aguardados de 2011.A própria banda disparou o alarme falso: anunciou o lançamento para hoje, mas preferiu antecipá-lo em um dia. Com apenas oito faixas e uma atmosfera experimental que remete aos enigmáticos Kid A (2000) e Amnesiac (2001), o rebento já provoca reações divididas na web. No Twitter e no Facebook, há quem reclame da ausência de hits. Mas também são muitos os defensores da atitude provocativa de uma banda que, mais uma vez, faz questão de mimar os fãs. Numa primeira audição, The king of limbs pode sufocar o ouvinte em camadas de ambient music, dubstep e free jazz.
A faixa escolhida para divulgar o álbum, Lotus flower, destaca-se como a mais acessível do pacote. Ainda assim, troca a estrutura de uma canção pop convencional por um loop incessante de baixo e bateria, que envolve os lamentos de Thom Yorke ; mais aflito e melancólico do que nunca. No clipe, que apareceu ontem no YouTube, o vocalista surge em imagens em preto e branco, vestindo um chapéu preto, numa dança sem coreografia que deixa lembranças de Michael Stipe, do R.E.M. Na segunda metade do disco, os arranjos esparsos abrem caminho para o intimismo de Codex, Give up the ghost e Separator, num tom de languidez que se assemelha às baladas mais desencantadas de In rainbows (2007). Sem facilidades.
A primeira conclusão a se tirar do disco é que, ao contrário de In rainbows e Kid A, desta vez o Radiohead não aponta claramente para uma reinvenção musical. Segue soturno, por vezes hipnótico, mas um tanto previsível dentro do estilo que criou para si.
No entanto, ainda dribla obviedades ; uma estratégia que pratica desde 2000, quando, após o sucesso de Ok computer (1997), gravou o polêmico Kid A (2000). Mas que surtiu o efeito de um ataque terrorista ; contra a indústria musical ; no inesperado In rainbows. Abalado por um rompimento traumático com a gravadora EMI, o grupo decidiu lançar o disco por conta própria, via internet e a preço definido pelo público ; que, se preferisse, poderia levar o álbum de graça.
Pela primeira vez, uma grande banda parecia disposta a enfrentar o modelo comercial das gravadoras e dispensar, num só fôlego, toda a fórmula de marketing associada a eventos do show business. Nem toda a comunidade musical, no entanto, aprovou o método. Thom Yorke, o vocalista, fez que não entendeu a controvérsia. Em entrevistas, comparou a indústria de discos a um ;navio afundando;. ;O plano é não fazer planos;, afirmou.
Pé no freio
Para quem esperava uma nova revolução, porém, o esquema comercial de The king of limbs pode ter provocado certa decepção. Em parte, ele ameniza o radicalismo de In rainbows, estipulando um valor fixo para o disco ; que pode ser comprado no site www.thekingoflimbs.com em versão digital (a US$ 9, na opção de arquivos de MP3) ou num box luxuoso (apelidado de ;Newspaper album;), que sai por US$ 48 e estará disponível em 9 de maio. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, o CD chega às lojas no fim de março.
Apesar da cautela, o Radiohead mantém uma ideia arriscada que deu certo em In rainbows. Com um olhar atento para as transformações no consumo de música, descobriu uma forma de ganhar dinheiro com o vazamento do disco na internet (já que muitos fãs aceitam pagar pelo download) e, de lambuja, criar um clima de ;audição coletiva; que une o público e a crítica. Cerca de um milhão de pessoas fez o download daquele disco, enquanto que 100 mil preferiram comprar o box especial. O CD, quando desembarcou nas prateleiras inglesas, vendeu 44 mil cópias na primeira semana.
Derrubado o mito de que sucessos da web não vendem bem, o Radiohead agora tenta provar que a ideia não perde o efeito numa segunda rodada. Produzido por Nigel Godrich, parceiro habitual, The king of limbs começou a ser escrito em maio de 2009, entre Oxford (Inglaterra) e Los Angeles (Estados Unidos). E, apesar das semelhanças com discos anteriores, não soa como nada que o grupo tenha gravado antes. Nesta altura, os fãs já estão começando a organizar as peças do quebra-cabeça.