postado em 22/02/2011 08:00
Quando sobe ao palco, o violinista brasiliense Ayrton Coelho Pisco sabe que não basta tocar bem: ele tem que causar admiração. Desde criança, passou a mostrar talento precoce com o instrumento e acostumou-se ao fato de que sempre se espera muito dele. Sob pressão, em vez de se encolher, Ayrton cresce. É assim que o garoto tem se destacado em festivais e concursos no Brasil e no exterior. Hoje, aos 15 anos, ele se prepara para mais um desafio: é o único brasileiro selecionado para a segunda edição da Competição Internacional de Violino Yankelevitch, a ser realizada entre 3 e 12 de março, na cidade russa de Omsk.;As pessoas esperam que eu vá bem, tenho obrigação de fazer um bom trabalho lá;, observa Ayrton, cujas passagens de avião serão pagas pelo Ministério das Relações Exteriores. Na gelada região da Sibéria, onde poderá enfrentar temperaturas abaixo de zero, o jovem se juntará a outros 66 jovens de 15 países, como Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos. Em sua categoria, destinada a instrumentistas de até 15 anos, haverá 29 competidores. Os 38 restantes pertencem ao grupo que varia de 16 a 28 anos de idade. O concurso tem duas fases, a primeira das quais é eliminatória. Na chave de Ayrton, o primeiro colocado recebe um prêmio de 50 mil rublos, valor equivalente a R$ 2.845; o segundo lugar ganha 30 mil rublos (R$1.707); e o terceiro, 18 mil rublos (R$ 1.024).
O brasileiro ensaia para apresentar, além de uma peça de um compositor russo, quatro composições escolhidas de uma lista de alta complexidade predeterminada pela organização do evento: Melodias ciganas, do espanhol Sarasate; Sonata em lá maior para violino, do italiano Veracini; Concerto para violino em mi menor, Op. 64, do alemão Mendelssohn; e Cantabile, do italiano Paganini. Para ser selecionado, Ayrton precisou apenas apresentar seu currículo, que foi analisado por um júri composto por oito músicos e professores oriundos de França, Rússia, Itália, Coreia do Sul e Ucrânia. ;Fiquei muito contente. Eu não sabia o nível das pessoas que se candidataram;, comemora.
Atualmente, Ayrton ocupa o posto de spalla da Orquestra ArtBrasília, da EMB, da qual é aluno. Também treina em casa, sob a orientação de seu pai, o mineiro Ayrton Macedo Pisco, que dá aulas de violino na EMB há três décadas. ;Quando você está sujeito a uma competição de nível internacional, não importa ter todo o talento do mundo se não tiver esforço;, sentencia o professor. ;Você precisa saber que, no domingo, em vez de ir ao clube ou ficar com a namorada, tem que estudar. É o preço a ser pago. Nessa área, os bons não têm lugar, só dos ótimos para cima;, complementa.O pai tenta estabelecer uma rotina exigente de estudos. A ideia é que o jovem pratique o instrumento ao menos quatro horas diárias, iniciando e finalizando os estudos sempre nos mesmos horários. ;Deveria ser assim, mas não é o estilo dele. Está longe de ter o rigor que eu queria que tivesse;, observa o pai. O filho desconversa: ;É exagero dele. Às vezes, só fico chateado porque tenho que estudar em vez de acabar de ver um programa na tevê ou algo assim.;
O local em que a família mora possui o clima de recolhimento e concentração favoráveis à preparação de um grande artista. A chácara fica nos arredores da Granja do Torto e o acesso é por meio de uma esburacada estrada de terra. No quintal, há pés de goiaba, pinha e figo, além de um galinheiro e um tanque para criação de peixes ornamentais. Ao fundo do terreno, escuta-se o chiado de um rio. A localização da casa foi determinante para que se escolhesse o violino para ser o instrumento do pequeno Ayrton. ;Afinal, ele teria um professor em casa. Ficaria difícil de levá-lo e trazê-lo para ter aulas em outro lugar;, explica o pai.