Diversão e Arte

Peça Uma última cena para Lorca fisga a atenção do espectador

postado em 25/02/2011 08:00
Da Matta e Vanessa Di Farias em peça cujo ritmo é afetado pelo desequilíbrio das atuaçõesEm sua segunda temporada na cidade, Uma última cena para Lorca, em cartaz até domingo no Teatro Caleidoscópio (CLSW 102 ; Sudoeste), fisga a atenção do espectador logo no primeiro instante. Em vez de uma fala do texto, a montagem se inicia sob uma luz rubra e dramática, embalada por uma vigorosa música flamenca, com direito a cajón, castanholas, pau de chuva, violão e acordeons. Até mesmo o pilão da mulher, que se revelará doceira, é transformado em instrumento. Antes de atuarem, os artistas em cena soltam as vozes afinadas, numa musicalidade explosiva, elevando a expectativa às alturas.

O ritmo vertiginoso, que segue pela qualidade da dramaturgia de Antonio Roberto Gerin, no entanto, encontra alguns obstáculos surgidos de opções da direção. Um deles é a cena farsesca das máscaras ; em que Vanessa Di Farias e Flávio Monteiro (nos papéis de Maria e de Menino) quebram completamente a unidade narrativa da montagem, mantendo um diálogo entrecortado por gestos robóticos.

A narrativa encontra dificuldade também na equalização das atuações. Nem todos os atores estão par a par no jogo cênico. Um exemplo maior é o ator Da Matta, no papel de Lorca, que, em que pese o texto privilegiar as personagens femininas, não consegue impor as fragilidades do poeta oprimido tanto pelos tipos que cria quanto pelas forças militares que querem dizimá-lo. Alguns coadjuvantes também quebram a narrativa crescente. Flávio Monteiro é tão menino no primeiro momento que, quando precisa virar um jovem sedutor, tem dificuldades de revelar essa crucial faceta do personagem.

No elenco numeroso, há méritos como os desempenhos de Vanessa di Farias, que transita, com humor e versatilidade, entre os momentos distintos da personagem, Dina Brandão, que, no papel de Altiva , dosa com maestria as provocações do ;diretor; Lorca, sempre mudando a entonação das interpretações. Dudu Bartholo, que vive a mãe da jovem Maria, também encontra a medida de sua expressão.

Se por um lado o diretor André Amaro oscila na condução do trabalho do ator, por outro cresce quando organiza a encenação, criando um espetáculo esteticamente agradável. Quando se esperam leques e saias vermelhas, símbolos exauridos do imaginário ibérico, ele revela uma Espanha mais dura e realista, com figurino seco e adequado à época. Em cena, poucos objetos (instrumentos musicais, a máquina de escrever, uma mesa de doces e uma janela) permitem que o foco recaia entre ator e texto.

Por essa janela, Maria admira a rua, sempre inacessível, e Lorca observa o cerco da ditadura, sempre se aproximando. No momento da invasão, as luzes piscam e os socos na parede do pequeno teatro transportam os espectadores para esse angustiante lugar do encontro próximo, e inevitável, com a morte. Uma última cena para Lorca narra os dois últimos dias do escritor, antes de ser capturado e fuzilado, em 1936, durante a Guerra Civil espanhola.

UMA ÚLTIMA CENA PARA LORCA

Teatro Caleidoscópio (Q.102 do Sudoeste, Bl. C, galeria; 3344-0444). Hoje e amanhã, às 21h; domingo, às 20h. Ingressos: $ 40 e R$ 20 (meia válida também para professores e doadores de 1kg de alimento ão perecível). Não recomendado para menores de 14 anos

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