;Estou cansado de ouvir falar em Freud, Jung, Engels, Marx, intrigas intelectuais rodando em mesa de bar;;, cantou Renato Russo em Conexão amazônica. Quem não se cansa de escutar Legião Urbana é o potiguar André Barros, há três anos morando em Brasília, e que aceitou o desafio de fazer uma palestra hoje sobre tema inusitado: as ideias filosóficas que habitam as letras da Legião. ;A palestra será bem interativa;, avisa o estudante universitário de 20 anos, formando em letras na Universidade de Brasília (UnB). ;Quem estiver disposto, pode trazer seu violão para uma tradicional rodinha com músicas da Legião;. Antes do violão, porém, Barros discorrerá sobre as ;mensagens; que identifica nas composições de Renato: ;Muitas surgem como respostas para a vida das pessoas que as escutam, seja uma resposta para o que elas vivem em seus relacionamentos humanos, seja uma resposta para a situação sociopolítica de nossos tempos;, acredita o palestrante. A seguir, André Barros comenta a relação que enxerga entre a filosofia e algumas das músicas mais conhecidas da banda mais popular do Brasil:
Quais são as letras mais representativas desse lado filosófico de Renato Russo?
A maioria das músicas conhecidas aborda questões filosóficas. Talvez seja por isso que elas são tão significativas para quem as escuta. Pais e filhos, Monte Castelo, Índios, Metal contra as nuvens... Todas essas músicas falam de aspectos que estão dentro de nós, que vivenciamos cotidianamente. Mas uma que tem um conceito filosófico claramente definido é Quando o sol bater na janela do seu quarto.
Poderia detalhar a relação entre Quando o sol bater; e os ensinamentos de Buda?
Essa música tem dois versos que fazem parte da doutrina budista: ;Tudo é dor/ e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor;. É simplesmente outro jeito de falar das ;quatro nobres verdades; de Buda. Ele ensinava que a dor é parte da experiência humana, e que ocorre porque nos apegamos ao aspecto passageiro das coisas, e não à sua essência, que é eterna. Se nos apegamos a algum bem material, por exemplo, estamos automaticamente nos condenando à dor, porque não há nada material que não seja destruído pelo tempo. Então quando esse bem não existir mais, sentiremos dor.