Diversão e Arte

As marchinhas ressurgem com força na folia, com concursos e blocos de rua

postado em 04/03/2011 07:00
Haroldo Costa: Que tal ouvir ;O teu cabelo não nega, mulata;, em vezde ;Posso não, quero não, minha mulher não deixa, não;. Ou quem sabe ;Mamãe, eu quero mamar; no lugar de ;Extravasa, libera e joga tudo pro ar;. Vale também trocar o hit baiano Tchubirabiron pelo clássico Ó abre alas. Essa é a proposta de muitos carnavais espalhados país afora que estão preterindo axés, tecnobregas e outros gêneros musicais similares e dando ênfase às tradicionais marchinhas. O clima de nostalgia dessas canções ; muitas vezes até centenárias ; tem contagiado foliões de todas as idades.

O centro de toda essa eclosão é o Rio de Janeiro, que revive mais do que nunca seus tradicionais bailes e, principalmente, blocos. E claro que boa parte da trilha sonora é feita de Alala-ô, Cabeleira do Zezé e Cia. limitada. ;Já há algum tempo o carnaval está muito voltado para a Bahia, que é extremamente comercial. As pessoas pagam fortunas pra correr atrás do trio, ao contrário do carnaval de rua, de blocos, que é extremamente democrático. Não quero tirar o mérito, mas a folia baiana é mais uma maratona do que um carnaval. E agora, no Rio, alguma coisa começa a brotar e a cidade prova mais do que nunca que o carnaval de rua voltou com força total. As marchinhas também estão nessa onda;, acredita o historiador da música popular brasileira, Renato Vivacqua, carioca radicado em Brasília.

Para um dos principais pesquisadores e promotores do carnaval, Haroldo Costa, na verdade, as marchas carnavalescas sempre estiveram presentes, mesmo que de maneira discreta. Entretanto, a criação do Concurso de Marchinhas da Fundição Progresso, no Rio, há seis anos, acabou despertando um novo interesse sobre esse gênero musical tão brasileiro.

;Antigamente, fazia-se um repertório exclusivo para o carnaval e foi assim que surgiram as marchinhas notórias que conhecemos. Mas, ao longo dos anos, a falta de interesse das gravadoras e das rádios por elas fez com que a prioridade da folia fosse os sambas-enredo e depois o axé, e elas ficaram sem estímulo. Com o concurso da Fundição e os blocos de rua bombando, voltou a se difundir e a propagar as marchinhas. Os blocos não deixaram a marchinha morrer;, comenta Haroldo que é o diretor artístico dos Bailes Devassa, que vão ser realizados pela primeira vez no Rio e terão um repertório basicamente voltado para as tradicionais músicas carnavalescas. ;É outro ponto importante. A volta dos bailes adultos e infantis não é só no Rio, mas em outras cidades. Não deixa de ser também um resgate do nosso carnaval;, acredita ele, que também faz a direção musical do famoso Baile do Copacabana Palace.

[FOTO2]Segredo
E qual será o segredo do sucesso das marchinhas? Mesmo canções compostas há décadas estão na ponta da língua de crianças, jovens e adultos. Não há quem resista aos versos de Me dá um dinheiro aí ou Mulata bossa nova. ;Não é querer ser saudosista, e toda época tem seus bagulhos, mas músicas boas ficam para a história e esse é o caso das marchinhas, especialmente as compostas entre os anos 30 e 50. Elas eram brejeiras, tinham letras e melodias maravilhosas, até porque eram feitas pelos grandes compositores daquele período. Hoje, o pessoal está preocupado em criar música hermética, que precisa de bula pra entender;, alfineta Vivacqua.

O historiador acrescenta que as marchinhas sempre arrebataram o público pelo seu cunho social e por sua leveza, alegria e malícia. ;As marchas eram um almanaque do ano e do dia a dia. Tudo o que acontecia virava música. A conquista da Lua, a eleição de um político. Elas eram um verdadeiro jornal cantado. E o povo se projetava naquilo, se via naquilo;, opina.

As marchas carnavalescas de hoje também mantêm os assuntos da atualidade e a crítica social como temática e, inclusive, uma das que prometem fazer mais sucesso no carnaval 2011 é a Marcha do xixi, de João Roberto Kelly, que alerta os foliões para a utilização de banheiros nos blocos.

Pirenópolis

Brasília também tem uma parte de sua folia voltada para as marchas carnavalescas. Bailes em clubes e blocos tradicionais da cidade não deixam de cultuar essas animadas canções. ;O Pacotão é o nosso grande exemplo. Sempre organiza concurso, tem esse cunho político nas canções, apesar de não se preocupar muito com a estética. Mas é louvável porque não deixa de manter a tradição;, destaca Renato Vivacqua.

Na cidade histórica goiana de Pirenópolis, a 150km da capital federal, há cinco anos, pelo menos, o repertório do carnaval é basicamente tradicional. Em 2011, pela primeira vez, não será permitido o som automotivo no centro da cidade. ;A nossa folia é bem voltada para a família, só com marchinhas mesmo. No começo, tivemos uma certa resistência, especialmente por parte dos jovens, mas fizemos um trabalho de conscientização e hoje já é algo consolidado;, assegura o secretário de Turismo do município, Sérgio Rady. Toda a folia acontece na Rua Direita, uma das principais do centro histórico, onde casarões coloniais remetem ao passado tornando a diversão dos antigos e novos blocos carnavalescos garantida.

Tradição
A marchinha é reconhecida como a música de carnaval no Brasil. No seu período áureo, que foi da década de 1920 a 1960, foram criadas canções bem populares da nossa história, reunindo no seu time de compositores alguns dos mais importantes nomes da música brasileira tais como Braguinha, Mário Lago, Lamartine Babo, Noel Rosa, Herivelto Martins, entre outros. Ó abre alas, de Chiquinha Gonzaga, é considerada a nossa primeira marchinha e data de 1889. A fórmula de sucesso das marchas carnavalescas era razoavelmente simples: compasso binário, como a marcha militar, andamentos acelerados, melodias simples e de forte apelo popular, além de letras irônicas, sensuais e engraçadas.

Programação Carnaval Pirenópolis
5 a 8 de Março as 21h às 3h:
Tradicionais archinhas com Banda Phoenix ocal: Rua Direita, Centro Histórico

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