postado em 09/03/2011 07:30
Normalmente, as pinturas de Rinaldo Silva são repletas de figuras. Elas fazem parte do mundo que rodeia o artista. Mas quando trocou Recife por Brasília, a paisagem mudou. Ficou difícil enxergar pessoas pelas ruas da capital, e o estranhamento de Rinaldo acabou por refletir-se em seus quadros. Quando as curvas da cidade tomaram as telas, as figuras sumiram. Por isso, o clima desértico dos quadros de Brasília, eu vi porque fui lá. Em cartaz na galeria Objeto Encontrado, a exposição resume um olhar comum a forasteiros que visitam a cidade. No entanto, não é só da observação óbvia que Rinaldo se alimenta.O artista desembarcou na cidade há três anos. Precisou de um tempo para amadurecer a ideia de pintar a paisagem brasiliense e o fez ao ceder à insistência de um amigo. Não foi fácil. Rinaldo tem problemas em se adaptar a outras cidades que não sejam Recife. ;Sou um saudoso crônico com relação ao espaço;, brinca. ;Quando você fica querendo fugir da sua raiz, faz o que deveria fazer e vai expressar seu canto e acho que isso está expresso nas linhas de Brasília.;
Rinaldo aceitou a nova condição de morador do Planalto Central e resolveu ver como poderia traduzir isso em tintas e pinceladas. Encontrou o que acredita ser uma visão diferenciada. São muito orgânicas as paisagens da série. As cores ousadas e quentes e o abuso do azul, verde e branco funcionam como uma forma de ressaltar o seu olhar pictórico. Acostumado a levar cavalete para as paisagens que decidia pintar, mudou de tática: partiu de fotografias e da própria memória. ;A cidade é muito sedutora. Fiz as fotos e pintei. A distorção vem do meu olhar e trago uma nova realidade. Descobri que é uma cidade muito orgânica e, quanto mais orgânica, mais vida ela tem;.
O clichê da falta de esquinas e de encontros entre as pessoas ainda está no discurso do artista, mas é encarado com certo carinho. Ele quer compreender como se dá o relacionamento do brasiliense com sua paisagem e tal compreensão passa pela pintura. ;A vida social aqui é complexa. Em Recife, a parte social não é tão desagregada do humano.; As vistas clássicas estão todas lá. Esplanada dos Ministérios, um ângulo inusitado do Museu da República, o Cine Brasília visto de canto, a lateral da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, o Supremo Tribunal Federal e um Buraco do Tatu sob várias perspectivas formam o conjunto. ;Essa coisa de vista é bom porque cada pessoa tem um olhar. Fiz uma visão de um plano, mas sempre com a perspectiva;, avisa. (N.M.)
BRASÍLIA, EU VI PORQUE FUI LÁ
Exposição de pinturas de Rinaldo Silva. Visitação até 26 de março, de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 18h, na Galeria Objeto Encontrado (SCLN 102, Bl. B, Lj 56).