Diversão e Arte

Cresce na tevê o número de programas ligados a viagens pelo mundo

O público jovem é o grande filão desse gênero

postado em 10/03/2011 07:00
Família de Nalu pelo mundo, na grade do Multishow, revela paisagens londrinasVocê pode estar endividado, talvez nunca tenha tirado um passaporte na vida e, nas férias, opte por se esconder no sítio de um parente. Não importa. Se quiser conhecer lugares remotos e exóticos, como Tunísia, Marrocos, desertos com nomes misteriosos (já ouviu falar no Kalahari, na África?), praias selvagens e megalópoles tecnológicas, basta ligar a televisão. Graças à infinidade de programas de turismo que as emissoras incluem nas grades de programação, é possível dar um giro global sem enfrentar a espera nos aeroportos, a diferença no fuso-horário, pequenos imprevistos e, ainda melhor, sem gastar nenhum centavo. Por outro lado, por melhor que seja a definição do seu aparelho de tevê, ele nunca traduzirá com perfeição o dégradé do mar e do pôr do sol, o cheiro fumegante do prato típico e a hospitalidade da população local. Mas além de permitir uma aventura a bordo do sofá de casa, essas produções oferecem um cardápio tentador a quem vive sonhando com a próxima expedição pelo mundo.

Na televisão brasileira, quem mais investe no filão é o canal a cabo Multishow. Este ano, serão 14 atrações do gênero, que se tornou um dos pilares da programação, desde que a emissora fez uma pesquisa, em 2009, e identificou um interesse crescente do público jovem por programas de viagem e aventura. ;O jovem vê neles uma maneira de se desconectar da rotina, ainda que temporariamente. O maior desejo de consumo do jovem hoje é viajar, mas há impedimentos, como dinheiro, faculdade, trabalho. Nos programas de TV, ele realiza parte desse desejo;, avalia o diretor do Multishow, Guilherme Zattar. As produções que fazem mais sucesso entre o público do canal são o Vai pra onde, que entra em sua quinta temporada; Não conta lá em casa, em breve terá sua quarta fase; Nalu pelo mundo, no ar pelo terceiro ano consecutivo; e o Viagem sem fim, no segundo ano.

Mas nem todos os viajantes profissionais exibem suas peripécias nesse canal. Um dos mestres do gênero é o jornalista Luis Nachbin, que já mergulhou em tradições pouco conhecidas de 53 países, reveladas em seu programa Passagem para; exibido pelo canal Futura. Em seu currículo, constam coberturas de eventos esportivos pela TV Globo, reportagens para o programa Muvuca, apresentado por Regina Casé, e diversas edições do Globo Repórter, como a viagem pela ferrovia Transiberiana e o tour pelos países do Sudeste Asiático. O que faz de Nachbin um espécime raro na televisão é o fato de ele ser um dos poucos videorrepórteres em atividade: conta com ajuda na pesquisa prévia, mas viaja sozinho, filma e faz as entrevistas que vão ao ar. ;Mas não edito sozinho, preciso do olhar do outro;, avisa.

[SAIBAMAIS]Este ano, ele surgirá em uma nova empreitada televisiva: estreia em breve, também no canal Futura, o programa Entre fronteiras, série com 20 episódios que revelará personagens pitorescos, habitantes de regiões fronteiriças do país. ;Os personagens serão pontos de partida para fazer uma crônica do cotidiano;, destaca o apresentador/viajante, acrescentando que os episódios serão exibidos em toda a América Latina e na região sul dos Estados Unidos, pelo canal Infinito. Dentre as produções da nova safra, Nachbin vê originalidade e inovação em Não conta lá em casa (Multishow), mas acredita que algumas atrações de viagem erram na dose. ;Me incomoda uma certa obsessão de ter alguém como fio condutor. Há apresentadores que se colocam o tempo inteiro em primeiro plano, sendo que a novidade é o entrevistado;, comenta.

O cardápio de paisagens e tradições em território desconhecido não é exclusividade das emissoras a cabo. No ar em Companhia de viagem há 16 anos pelo canal CNT, o apresentador Márcio Moraes defende seu pioneirismo no ramo. ;Meu programa de viagem é o mais antigo da América Latina. O segundo em antiguidade é exibido no México, há 12 anos;, orgulha-se o antigo executivo que viajava a trabalho durante uma temporada nos Estados Unidos e, na volta ao Brasil, decidiu fazer do hábito profissão. Nesse período, já rodou 151 países, 273 cidades e acumula 15 passaportes recheados de carimbos na gaveta.

No começo, a dificuldade em arrumar patrocinador era grande. ;Ninguém viajava neste país. Hoje, encontro brasileiros em todos os cantos. Só no ano passado, 10 milhões de brasileiros viajaram de avião pela primeira vez;, comemora. A proposta de Moraes não é simplesmente revelar pontos turísticos, mas oferecer uma experiência ao telespectador. ;É um programa sobre estilo de vida. Nos lugares, busco atividades que promovam o bem-estar, caminhadas, luaus na praia. As pessoas estão muito estressadas atualmente;, acredita o empresário, que ainda mantém um programa na internet, uma revista de viagens, uma coluna replicada em diversos jornais e revistas e recentemente criou um aplicativo em Ipad para o programa.

Proporcionar uma experiência também é o propósito de 50 por 1, programa que Álvaro Garnero estrela na TV Record. ;Quero mostrar o que comem, como se divertem, como vivem, o que é diferente, o que é parecido, o que é bizarro. Mostrar prédios e museus pode ser visualmente bonito, mas as pessoas são a essência de qualquer lugar;, afirma Garnero, que elegeu como tema da 4; temporada uma maratona à la Júlio Verne: ele dará a volta ao mundo em 80 dias, a bordo de cargueiros, motorhomes, trens e transatlânticos, sem jamais pisar em um avião.

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