postado em 15/03/2011 07:10
Hebe Camargo não é senhora nem aqui nem na China. Completou 82 anos na última terça-feira (ela adora fazer aniversário no Dia Internacional da Mulher), mas sente-se com 18. Como uma menina em início de carreira, tem fôlego de sobra para o carnaval, gosta de conhecer gente, lugares novos, e fala de seu programa com um entusiasmo comovente. Ri o tempo todo, faz piada, acha graça de tudo. Está animadíssima com a estreia hoje, às 22h, na RedeTV! (aqui retransmitida pela TV Brasília). É uma noite de gala. Danada, a loura conseguiu entrevistar até a presidente da República. ;Ah, fiz tudo o que eu queria;, comemora. ;Estou tão feliz!” Em 60 anos de televisão ; sim, ela está no ar desde a inauguração, em setembro de 1950 ;, Hebe sempre fez o que quis. Não ;cansou a imagem;, não ficou deslumbrada, continuou a falar com o público de igual para igual. Ninguém a chama de senhora. Nem a moça da faxina nem a vizinha ricaça do Morumbi, o bairro paulistano onde ela mora, cercada por seis cachorros, uma galinha, um papagaio, uma cacatua, um lóris vermelhinho (;que é uma teteia;) e um monte de bem-te-vis que vêm da rua para ;bicar o alpiste e beber uma aguinha;. ;Sou abençoada. Moro em frente à Igreja de São Pedro e São Paulo. Quando toca o sino, ao meio-dia, faço o sinal da cruz, rezo e agradeço.;
Você foi a estrela do carnaval; Desfilou pela Beija-Flor, fez entrevistas no camarote e ainda comemorou os 82 anos em cima de um trio elétrico. Que pique é esse, Hebe?
Saí da homenagem ao Roberto (Carlos) às 7h30, fui pro hotel, troquei de roupa, peguei um avião, fui pra Bahia, cheguei lá, troquei de roupa e fui pro trio (risos). Foram cinco horas em cima do trio, só recebendo homenagens. Onde parava tinha bolo, cantavam Parabéns pra você, uma coisa inacreditável.
Foi a primeira vez que subiu num trio?
Foi. Antes, eu via pela televisão e dizia: ;Meu Deus, como as pessoas aguentam?; Paguei a língua! (risos). E foi maravilhoso. Não consigo esquecer. Deito, fecho os olhos e vejo tudo de novo. Uma coisa linda, aquele povo gritando o meu nome. Ai, que coisa deliciosa! Não tem preço.
Não ficou exausta?
Não. Nem eu mesma acredito. Foi uma loucura que fiz, mas, engraçado, não senti cansaço. Até o sol deu um jeitinho de entrar pelo outro lado do carro, ele se desviou de mim. É Deus, né?
Essa vivacidade é o que mais chama a atenção em você;
Pois é, as pessoas perguntam onde arranjo essa energia e essa alegria, dizem que querem ser como eu, querem achar graça na vida como eu. Porque acho graça em tudo, né? Na Bahia, fomos a Maraú, que eu não conhecia, um lugar tão tranquilo, você olha aquela paisagem linda, aquelas árvores, aquele mar verde, aquelas andorinhas cantando; Mico, eu não vi, mas dizem que eles vêm comer na sua mão. Não paguei mico (risos), mas adoro. Queria ter visto os miquinhos de lá, beijar a mãozinha deles, mas não deu.
E o que foi fazer lá? Descansar?
Fomos ver a casa de uma amiga, que está construindo lá. A gente foi pela praia, num carrinho desses que podem passar na água. O pessoal me reconhecia de longe, ficava gritando ;Hebe, Hebe;. Uma moça, chamada Dora, quando me viu, foi atrás do carro até chegar à casa aonde íamos, correu uns 2km. Aí falamos para ela entrar, e ela me beijou, me amassou, falou que me ama. Ah, como é que eu posso com uma demonstração dessa? Uma coisa! Eu caía nos braços de todo mundo, beijava, era beijada. Nossa, nunca beijei tanto.
Você ainda se sente meio criança?
Completamente. Lá eu estava me sentindo com 18 anos. Não senti em nenhum momento a idade que eu estava fazendo. Acho que mamãe errou quando foi ao cartório. Porque não é possível. Eu não sinto. É uma coisa linda, linda, linda. Como eu digo, linda de viver. E amanhã (ontem) vou gravar o meu segundo programa na RedeTV. Porque a estreia eu já gravei.
E o programa de estreia, foi como você queria?
Ah, fiz tudo o que eu queria. O diretor é novo, ainda não sabe como sou, e me deixou muito à vontade. Então fiquei como sou, falando as besteiradas que falo (risos). Mas acho que o público gosta de mim assim, né? Se eu ficasse muito sofisticada, não seria eu.
Desde o início, você fala com o público de igual para igual;
É, e eu falo isso para os artistas que estão começando e vão ao meu programa: ;Olha, cuidado para não ficar deslumbrado;. Porque é um perigo, né? A pessoa fica deslumbrada e de repente acaba. Mas eu voltei deslumbrada do Rio e da Bahia (risos). Quando cheguei em casa, o copeiro colocou um monte de jornais na mesa, todos mostrando fotos minhas, eu no Rio, eu na Bahia. Gente, como é que pode? Virei celebridade! (risos)
No Rio, você entrevistou celebridades no camarote para o seu programa;
Muitos, inclusive o Jude Law. (risos)
Deu até selinho nele, né?
Dei, mas agora não é mais selinho, né? É beijo técnico.
Disseram para ele que você era a Oprah (Winfrey) brasileira. Você gosta da comparação?
Todo mundo tem mania de me chamar de Oprah, mas não tem nada a ver. Ela é bárbara, só que eu não faço o que ela faz. Faço do meu jeitão. Mas não me aborreço com a comparação, não. Acho gozado.
E quem mais você entrevistou no carnaval?
Entrevistei Ronaldão, Milton Nascimento, Luma de Oliveira, o Neymar, que é uma gracinha, aquele cantor do Black Eyed Peas (will.I.am), que levou um susto quando dei um selinho nele; (risos) Porque apesar de a Rita Lee ter proibido, eu ainda estou dando selinho em todo mundo. Só não dei no Roberto, porque o carro dele ficou longe do meu.
E a entrevista que você fez com a Dilma em Brasília, como foi?
Fiquei com uma impressão muito boa dela. Estou torcendo para que dê tudo certo. Ela é bem diferente da Dilma que a gente vê na televisão, séria, ríspida. Pessoalmente, ela é bem suave, andou comigo pelo Palácio, mostrou tudo. Saí bem encantada com ela.
Deu selinho na presidente?
Não dei. Mas se voltar lá, eu dou. (risos)
Depois de 25 anos no SBT e do susto com a doença (um tumor no peritônio, tratado em 2010), você começa uma nova fase na RedeTV. A sensação é essa mesmo, de recomeço?
Sim, é como um recomeço. Vamos fazer de conta que estou com 18 anos, iniciando uma carreira. Porque é assim que estou me sentindo. Estou tão feliz! Feliz de estar na Rede TV! e pela maneira com que estou sendo recebida lá, as chamadas do programa; Isso é muito importante para a carreira, principalmente para quem está começando, como eu. (risos)
Brincam que você é uma festa ambulante, que não há tristeza que resista com você por perto;
(risos) Adorei isto, festa ambulante! Você me autoriza a usar?
Você chora e ri com a mesma intensidade?
Não, eu me emociono, mas em geral seguro o choro. Na Bahia eu não consegui, chorei mesmo. Me abracei na Claudinha (Leitte), depois no meu filho, Marcelo, e solucei. Mas de felicidade.
É de guardar mágoas, ou perdoa fácil?
Não. De que adianta guardar mágoas? Essas coisas não fazem parte da minha vida. Sou uma pessoa feliz com a vida. Hoje fiquei brincando com meus pássaros, com meus cachorros. Ganhei uma galinha linda, cheia de plumas. Nunca tinha visto uma assim. Ela é linda! O nome dela é Margarida, a gente chama de Guigui. Você precisava ver que gracinha ela é.