Diversão e Arte

Programa Custe o que custar está na fronteira do humor e da notícia

Mauro Trindade
postado em 23/03/2011 07:57
Rafinha Bastos, Marcelo Tas e Marco Luque, apresentadores do CQC 3.0: sucesso está na mistura de linguagensÉ engraçada a abertura de Custe o que custar, da Band, que agora ganhou o sufixo nerd 3.0. No meio daquela boate de luzes piscando, uma voz em off anuncia o programa como ;seu resumo semanal de notícias;. É a prova de que, cada vez mais, a ideia do que é ou não jornalismo está em grande transformação. Valores como isenção, sobriedade e distanciamento da notícia parecem cada vez mais coisas do passado.

A figura do apresentador inexpressivo, encastelado em sua bancada e incapaz de misturar informação e emoção, não existe há tempos. No Jornal Hoje, os simpáticos Evaristo Costa e Sandra Annenberg tricotam alegremente sobre todos os assuntos. Mesmíssimo caso de Ana Paula Padrão e Celso Freitas, no Jornal da Record. E até os mais sisudos, como William Bonner e Fátima Bernardes, do Jornal Nacional, ;comentam; com olhares de aprovação ou irritação as reportagens que anunciam.

Nesse sentido, o CQC 3.0 ; exibido pela Band às segundas, às 22h15 ; e ainda A liga (também da Band) e até o Pânico na TV! (da RedeTV) podem ser encarados, ao menos parcialmente, como jornalísticos. São híbridos. E muito de sua popularidade está na mistura de diferentes linguagens televisivas em uma mesma atração, a despeito de que o tal ;resumo semanal de notícias; não ter proferido nem uma única palavra a respeito do maior desastre do Japão desde Nagasaki. Na verdade, o jornalismo não se resume a noticiar, mas também a hierarquizar o que mais e o que é menos importante.

E é nisso que esses programas humorísticos diferem absolutamente dos jornalísticos tradicionais. Sem a obrigação de acompanhar a pauta de acontecimentos da semana, os humorísticos podem explorar temas diferentes com muita criatividade como, por exemplo, a atuação dos deputados calouros no Congresso, um assunto que poderia ser explorado em qualquer jornal ;sério;.

A audiência adolescente que o CQC merecidamente conquistou demonstra que a crise pela qual passam os jornais impressos não deve ser entendida como um desinteresse de uma juventude semianalfabeta que, em breve, vai voltar ao tacape e aos grunhidos por culpa da internet. Não importa se forem veiculadas por sinais de fumaça, papiros, cinejornais ou em handset display glass. Notícias sempre vão existir.

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