postado em 25/03/2011 07:28
Seal é homem de palavra. Na turnê Commitment, que chegou a Brasília na noite de quarta-feira, prometeu um script que, para os fãs, soa irrecusável: os hits, os clássicos da soul music (interpretados no disco Soul, de 2008) e uma combinação de faixas de dance music com momentos mais românticos, que resumem a fase serena da carreira do londrino. Sem fugir um milímetro desse compromisso, o cantor cumpriu com simpatia os planos de um show longo e generoso ; um presente endereçado especialmente a quem o segue desde o início dos anos 1990.;Esta é minha primeira vez em Brasília. Vocês querem ir rápido ou um pouco mais devagar?;, perguntou. A resposta indecisa da plateia, que reuniu 3,5 mil pessoas (de acordo com a organização do evento), não parecia assim tão importante: na cidade, Seal encenou com poucas alterações o repertório da turnê brasileira. A surpresa ficou para o bis, mais extenso que o de São Paulo, onde tocou há uma semana. Na última das cinco músicas, Bring it on, se ajoelhou no palco e escolheu uma fã para o acompanhar numa dança.
Boa parte do público pagou para ouvir dois antigos sucessos: Crazy e Kiss from a rose. Eles chegaram tarde, 1h30 após o início do show, uma grudada à outra. Mas a espera não se tornou cansativa. Mesmo quando não improvisa, Seal seduz com uma performance que não dá motivos para desatenção ; seja pela potência da voz ou pela energia de uma dança cheia de provocações. Com figurino que lembrou editoriais de moda, o marido da modelo alemã Heidi Klum desfilou na ;passarela; do Ginásio Nilson Nelson em visual sui generis: vestidão preto, calça, casaco amarelo-gema, unhas pintadas de preto.
Antes do show, que começou com apenas três minutos de atraso (às 21h33), os fãs se manifestavam com discrição. Eram raras as camisas com fotos do cantor. Houve quem levasse cartazes ou rosas (para o momento Kiss from a rose), mas eles estavam bem escondidos. ;Espero que apareça no palco um homem de dois metros, de terno branco, com um vozeirão incrível, cantando canções lindas;, comentou Laura Marcelino Martins, 49 anos. À exceção do terno branco, as expectativas foram cumpridas. O coro forte dos fãs, porém, só apareceu em poucos trechos, como Love;s divine e Prayer for the dying.
Samba?
O cantor, que completou 48 anos em fevereiro, alternou as duas facetas preferidas do público: o de popstar das pistas de dança (de Crazy e Killer, os primeiros hits da carreira) e o de crooner para casais apaixonados (de Kiss from a rose e Violet). O lado soulman, que seria inusitado, não chegou a destoar do roteiro: são macias, e até convencionais, as versões para joias como It;s a man;s, man;s, man;s world (de James Brown e Betty Jean Newsome) e I can;t stand the rain (de Ann Peebles, Don Bryant e Bernard Miller). Se as imagens genéricas do telão pouco acrescentavam às canções, a banda fazia a diferença: além de um competente quarteto de músicos, quatro louras se destacavam na seção de sopros.
Pouco antes da dançante The right life, Seal chegou a ameaçar uma homenagem à música brasileira. ;Estão prontos para o samba?;, perguntou. Mas ficou nisso. Apesar dos rebolados, não foi com MPB que o cantor mostrou dedicação aos brasileiros: o mais importante foi que não faltou fôlego (nem suor, aparente já na primeira música) a essa revisão de uma trajetória que, apesar dos altos e baixos, se compromete com os fãs. Na palavra de Seal, eles podem confiar. (TF)