Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

'Brasília vai se ver na tela', diz René Sampaio

Diretor do filme Faroeste Caboclo, inspirado na canção de Renato Russo, afirma que versão cinematográfica fugirá dos estereótipos

O brasiliense René Sampaio tinha 14 anos quando ouviu Faroeste Caboclo pela primeira vez. Na época, morava no Plano Piloto e estudava no Sigma. Desde então, como muitos meninos da época, queria ver no cinema as desventuras de João de Santo Cristo, o ;bandido destemido e temido no Distrito Federal; imaginado por Renato Russo em 1979, quando tinha 18 anos e era o Trovador Solitário. Após concluir o curso de Comunicação Social na Universidade de Brasília (UnB) e se enveredar no universo do cinema, fazendo curtas-metragem, como o premiadíssimo Sinistro, René colocou na cabeça o plano de filmar a canção eternizada pela Legião Urbana. Hoje, aos 37 anos, ele está próximo de concretizar o sonho. Daqui a duas semanas, como diretor, começa a rodar o longa-metragem em sua terra natal, após quatro anos de pesquisas e captação de recursos.

Em uma descontraída conversa com a equipe do Correio, no hotel para onde ele e boa parte da equipe do filme se mudaram e vão morar nos próximos três meses, René falou do seu primeiro longa. Revelou segredos como pontos de locação e até a presença do único filho de Renato Russo no filme. Só não contou qual papel Giuliano Manfredini, 22 anos, interpretará. O diretor também adiantou que tentará, ao máximo, fugir dos estereótipos da capital da República. ;Vamos contar histórias de pessoas comuns que moram na capital do país. Vamos mostrar que Brasília é uma cidade como outra qualquer, com seus problemas e suas virtudes;, ressalta.

Roteiro do filme

O filme não é exatamente de um faroeste, um bangue-bangue. Brasília tem uma secura, a poeira. Vamos filmar uma Ceilândia em construção, com características que lembram os velhos e novos filmes de faroeste. Mas vamos adaptar isso para o mundo real do início dos anos 1980. É um filme que trata das desigualdades sociais, da realidade daquele período e, principalmente, da relação de João do Santo Cristo e Maria Lúcia.

Brasília no cinema
Brasília vai se ver na tela porque vamos filmar muita coisa nas cidades-satélites. O filme vai retratar a Brasília classe média, de quem estuda na UnB (Universidade de Brasília), mora nos blocos do Plano Piloto. Maria Lúcia, por exemplo, é filha de uma família do Plano. O filme também mostrará a rotina daqueles que pegam ônibus, passam pela rodoviária diariamente. O contraste da cidade, que ainda é muito atual.

Segredos revelados
Para não perder a graça, não posso revelar detalhes do roteiro. Mas posso adiantar que filmaremos, por exemplo, duas festas. Uma de rock, no Plano Piloto, frequentada por Maria Lúcia, e a clássica Rockonha. Houve várias Rockonhas no fim dos anos 1970, mas, a da música, ocorreu numa chácara de Sobradinho. E vamos rodar lá, no mesmo local. Já visitamos o terreno, conversamos com o dono da propriedade, que organizou a Rockonha original. Já o famoso Lote 14, como toda a Ceilândia, será reconstituído em uma localidade do Entorno, onde vamos montar uma pequena cidade cinematográfica.

[SAIBAMAIS]Fugindo de estereótipos
Em Faroeste Caboclo, vamos tentar fugir dos estereótipos de filmes sobre Brasília. Não vai ter reunião de deputados para negociatas. Em vez dos policiais federais lutando contra o crime organizado, vamos mostrar os traficantes e os usuários. Vamos mostrar a vida em Brasília, mas a vida de verdade, de quem aqui mora. Vamos contar histórias de pessoas comuns que moram na capital do país. Vamos mostrar que Brasília é uma cidade como outra qualquer, com seus problemas e suas virtudes.

Escolha do elenco
O elenco é sensacional. Todos estão muito comprometidos com o filme. Eles estão se dedicando muito aos personagens. Aliás, os personagens vão dar o tom do filme. Podem até mudar parte do roteiro. Vale ressaltar que mais da metade do elenco é de Brasília. Para os protagonistas, a princípio, queríamos apenas novatos, anônimos. Para isso, fizemos testes em Brasília, no Rio de Janeiro, em São Paulo e na Bahia. Mas, a Ísis (Valverde), por exemplo, se doou tanto, mostrou tanta vontade de fazer esse projeto, que não tinha como não ser a Maria Lúcia. Já no caso do Santo Cristo, um baiano, não apareceu ninguém melhor que o baiano Fabrício Boliveira. O mesmo ocorreu com Jeremias ; será interpretado pelo carioca Felipe Adib.

Possíveis cobranças
Não sinto peso algum em filmar Faroeste Caboclo. Tenho noção da responsabilidade, o que é diferente. É uma oportunidade de fazer um grande trabalho. Mas é um trabalho artístico como tantos outros. É a versão artística de um diretor de cinema para esse tema. Talvez sinta a cobrança na estreia. Mas, até agora, não ouvi ninguém dizer coisas do tipo: ;Pra que fazer isso? Pra que fazer um filme desse?;. Isso sim seria um peso. No entanto, até agora, só recebemos apoio, principalmente de Brasília, que abraçou o projeto.

Renato Russo e família
Até agora, tivemos uma relação sensacional com a família do Renato Russo. Ela tem nos dado total apoio. Tanto que o Giuliano, filho dele, fará uma aparição no filme. Não posso revelar como, mas adianto que tem muito a ver com a história, pois hoje ele tem a idade (anos) de muitos dos personagens da música escrita pelo pai. Mas não é um filme sobre o Renato Russo, a história dele. É sobre o Faroeste Caboclo, a maior obra dele. Isso tem que ficar bem claro.