Diversão e Arte

Brasília abarca exposições com técnicas e estilos variados. Veja roteiro

Nahima Maciel
postado em 07/04/2011 07:19
Ruídos contemporâneos: A noite de Brasília tem cores fortes, silêncios cortados por raios e céu negro envolvente e sufocante.Há lugar para animação, pintura, escultura, vídeo e instalação no roteiro de mostras em cartaz na cidade. Com diferentes linguagens e poéticas particulares, quatro exposições reúnem artistas da cidade e de todo o Brasil em um percurso marcado pela diversidade de técnicas e ideias. Na Casa da Cultura da América Latina (CAL), Renato Barbieri e Regina Pessoa experimentam a poesia visual e musical, enquanto João Angelini explora ao máximo a técnica artesanal na produção das animações na Galeria Dulcina. A Referência Galeria de Arte buscou, em Minas Gerais, os artistas de uma coletiva com esculturas e pinturas. Wagner Hermusche leva suas noites brasilianas para a Câmara dos Deputados e colore o Espaço Zumbi dos Palmares com tonalidades luminosas. Veja quais são e o que trazem essas exposições.

Abaporu esticado
; O horário de visitação da exposição Mulheres, artistas e brasileiras, em cartaz no Palácio do Planalto até o dia 5 de maio, foi esticado em duas horas diárias. Agora, o público poderá ver as 80 obras, de 49 artistas plásticas brasileiras, das 18h às 20h, de segunda a domingo. Entre elas, Tarsila do Amaral com o Abaporu.

Brasília noturna
; A noite de Brasília tem cores fortes, silêncios cortados por raios e céu negro envolvente e sufocante. Wagner Hermusche se apropria desse horizonte em Ruídos contemporâneos, exposição que retoma as gravuras de Noites brasilianas e complementa o conjunto com série de desenhos em pastel sobre papel negro e uma pintura. A paisagem urbana de uma Brasília noturna de luzes pontuais, riscos velozes e alguns neons indica o foco de Hermusche, que há anos explora o potencial visual da cidade. Visitação até 29 de abril, de segunda a sexta, das 9h às 17h, no Espaço Zumbi dos Palmares (Câmara dos Deputados).

Animação artesanal
; João Angelini recusa qualquer tipo de manipulação digital da imagem. Orienta-se por esse princípio desde 2005, quando experimentou pela primeira vez trabalhar animações de forma artesanal. Entre-quadros é uma resposta para essa negação. Há caminhos para a arte tecnológica que não passam pelo desenvolvimento de novas ferramentas. São quatro as respostas de Angelini para tal afirmação, todas elas criadas graças à Bolsa de Criação Artística da Funarte. Em Sintonia 2011, seis televisões emitem chiados e sons que, coordenados, resultam numa pequena melodia peculiar. D0NA é mais explícito: os frames de uma possível animação dispostos lado a lado, no plano da parede, revelam o caráter artesanal de qualquer desenho sequenciado, ideia retomada em Linhas. ;É tudo artesanal, que é o que define a animação. Faço tudo sem manipulação de imagem e hoje em dia já não estou nem editando. É o foco da minha pesquisa;, garante. Célula é o mais delicado dos objetos. Uma animação projetada sobre um quadrado de papel de 4X3 cm é ampliada com auxílio de uma lupa. O projeto faz parte de pesquisa na qual Angelini experimenta projeções sobre superfícies minúsculas numa tentativa de apontar a poesia e a potencialidade de processos artesanais cada vez menos comuns na história recente da animação. Visitação até 29 de abril, de segunda a sexta, das 13h às 18h30 na Galeria Dulcina (Conic).

Música e ilusão
; A ideia ficou engavetada alguns anos até o cineasta Renato Barbieri conseguir dar forma à instalação Corpo alma. Precisou conhecer a artista plástica Regina Pessoa para solucionar a vontade de construir um espaço no qual pudesse integrar imagem, objetos musicais e sons. Inspirada em leituras do filósofo Merleau Ponty, a dupla idealizou a projeção em cartaz na galeria da CAL. Um piano semidestruído e um violino servem de suportes para as imagens de músicos em ação. As mãos ao piano são apenas uma projeção, e a música de Luis Olivieri completa a proposta poética. O recinto é sombrio e aconchegante, às vezes, até fantasmagórico, o que contribui para reter a atenção. Os fantasmas projetados nos instrumentos agradam e incitam reflexões sobre a memória. Os instrumentos estão inutilizados, mas carregam uma história musical que Barbieri e Regina quiseram evidenciar. ;Queríamos instrumentos em estado de abandono para encontrar a sua essência. Procuramos muito pelo piano. Esses objetos são suportes da música e, na instalação, viraram suportes da imagem. É a imagem quem toca e da imagem vem o som. É uma espécie de espelhamento;, diz Barbieri. Visitação até o dia 24, de segunda a sexta, das 10h às 18h, e sábado das 12h às 18h, na casa da Cultura da América Latina (CAL ; SCS Qd 4 Ed. Anápolis).

Minas em quatro linguagens
; Eles são mineiros e, segundo o crítico Márcio Sampaio, carregam sim uma poética profundamente enraizada na terra natal. Pode ser o construtivismo colorido de Rodrigo de Castro, a acumulação divertida de Marcos Coelho Benjamim, a pintura evocativa de Manfredo Souzanetto ou a dobra do aço de Amilcar de Castro, a paisagem e a cultura mineira têm presença marcante. A referência aparece, inclusive, no título 2XminasX2, mostra em cartaz na Referência Galeria de Arte. Talvez não seja possível falar em uma arte tipicamente mineira, mas Sampaio garante que é possível encontrar ecos do que seria uma certa mineiridade. O aço das esculturas de Amilcar está conectado com a produção industrial do metal, assim como os objetos reaproveitados por Benjamim. A paisagem das montanhas mineiras ; que tanto atraíam Guignard e Tarsila do Amaral ; também pode ser evocada nas formas arredondadas da pintura de Souzanetto e as cores vibrantes das telas de Castro parecem excessivamente exuberantes para as tonalidades experimentadas pelos construtivistas. Visitação até 18 de abril, de segunda a sábado, das 10h às 22h, e domingo das 14h às 20h, Referência Galeria de Arte (CasaPark).

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação