Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Literatura contemporânea espanhola é tema de debate

A literatura contemporânea tem DNA. É transgressora, tem forte carga biográfica e bebe na pós-modernidade sem esquecer as tradições. O autor espanhol Andrés Barba acredita nesse mapa genético e se guiou por essa cartografia para montar Uma modernidade alternativa, renovação e tradições. Literatura espanhola e brasileira da democracia, encontro de escritores brasileiros e espanhóis organizado pelo Instituto Cervantes para debater sobre os traços comuns a todos que escrevem neste início de século 21. ;A ideia era agrupar escritores que começaram a escrever durante a democracia espanhola. Fiquei pensando quais eram os pontos em comum desses escritores e descobri que muitos utilizavam material biográfico e todos tinham um ponto de transgressão;, explica Barbas, ele mesmo autor e vencedor do 35; Prêmio Anagrama de Ensaio em 2007, coescrito com Javier Montes, um dos convidados do encontro em Brasília.

Programados para amanhã e quinta-feira, os debates estão divididos em duas mesas temáticas. A primeira tem como foco o uso de material biográfico e o sentido de transgressão na literatura. Além de Barba, participam os espanhóis Marcos Giralt e Marta Sanz e a brasileira Elvira Vigna. Marta é uma adepta confessa das experiências literárias com dados biográficos. ;Em todos os meus romances, o ponto de partida é a autobiografia. Esse material pode estar encoberto ou não, mas os livros sempre saem de uma emoção ou de um pensamento que é sempre muito pessoal;, conta a autora.

Elvira Vigna entende o uso de referências biográficas na literatura contemporânea como um afastamento de modelos de representação comuns na história da arte do século 19. Não é fenômeno recente, mas é marca cada vez mais explorada e aperfeiçoada. ;Houve um ciclo de representação, e isso é visível na arte, mas isso se esgotou na medida em que os pensadores contemporâneos mostraram que a noção de verdade hoje não é mais possível;, explica a escritora, que também é artista plástica. O escritor pode até fugir de modelos de representação e utilizar a própria biografia na construção da ficção, mas Elvira acredita que há sérios perigos na prática e o maior deles é o que chama de ;explosão de emoção contagiosa;. Ou seja, ser midiático pode ser prejudicial para a literatura.

Amanhã, o tema do debate traz à mesa discussões sobre estilo, tradição, escrita sentimental e novas abordagens quando se trata de escrever sobre a família e os afetos. Andrés Barba enxerga na escrita dos autores espanhóis Javier Montes e Luis Magrinyá um flerte com a literatura tradicional. ;É comum a todos esses escritores o fato de serem pós-modernos, mas eles têm também um profundo conhecimento da tradição literária;, garante. O brasileiro André Sant;Anna, autor de O paraíso é bem bacana, divide o debate com os espanhóis e acredita que a pós-modernidade na literatura começa a se tornar coisa do passado. ;Mas não tenho como negar que sou um autor pós-moderno e que trato dos temas família/casal no que escrevo. Eu diria que estou sempre fazendo retratos da família pós-moderna. E a literatura brasileira contemporânea é puro pós-modernismo;, diz o autor de O paraíso é bem bacana.

Programe-se
Amanhã, às 19h, mesa Material transgressor e material biográfico, com Marta Sanz, Marcos Giralt, Andrés Barba e Elvira
Vigna, no Instituto Cervantes (SEPS 707/907).

Quinta-feira, às 19h, mesa Pós-modernidade, estilo e tradição: novas configurações da família e do casal. Para uma revisão das formas do sentimental, com Javier Montes, Luis Magrinyá e André Sant;Anna, no Auditório 1 do Instituto de Ciências Biológicas da UnB.