postado em 13/04/2011 08:00
O mesmo horizonte infinito da região central do Brasil que seduziu bandeirantes, aventureiros e que convenceu um presidente da República a transferir a capital do país para cá, também serviu de inspiração para duas artistas do cinema mudo norte-americano. Janet Gaynor, primeira atriz a receber um Oscar na história da premiação e Mary Martin, estrela da Broadway, passaram um período da vida na cidade de Anápolis (GO), durante os anos 1950 e 1960. Lá, elas compraram terras e passaram a ser chamadas de um jeito bem brasileiro, de dona Meiri e dona Janete. Quem lembra a história muito bem é o aposentado Raif Jibran, 64 anos, que garoto conheceu as estrelas e chegou a segurar a cobiçada estatueta. ;Elas eram pessoas muito amáveis e educadas. O Oscar ficava na casa dela, uma chácara com uma casa muito bonita. Ela me mostrou a estatueta uma vez. O cerrado foi muito privilegiado com a presença delas aqui;, recorda Jibran.
O 1; Anápolis Festival de Cinema recuperou a passagem dessas estrelas hollywoodianas pelo Planalto Central com a exibição do documentário Hollywood no cerrado, de Armando Bulcão e Tânia Montoro, na noite de abertura do evento ontem. ;É a primeira vez que exibimos o filme em alta definição, numa sala de cinema e com presença de alguns personagens que participaram dessa história. Será uma cerimônia emocionante. É uma maneira de devolver à cidade um pedaço da história dela;, declarou o cineasta Bulcão antes da sessão.
Quem narrou essa história pela primeira vez no Correio foi o atual vice-presidente institucional, o jornalista Ari Cunha, um dos depoentes no documentário candango. ;O jornal descobriu que elas estavam por aqui. Eu fui até lá para encontrar com uma das atrizes e entrevistá-las. Fiquei muito satisfeito que esse filme tenha registrado a história dessas estrelas do período mudo. Sempre se falou sobre isso, mas ninguém tinha feito nada até agora;, relatou o jornalista.
Durante os sete dias de festival serão exibidos seis longas-metragens brasileiros, fora o Hollywood, na mostra competitiva que homenageia o criador da Cinédia, Adhemar Gonzaga. Os selecionados foram Os inquilinos (Sérgio Bianchi), Antes que o mundo acabe (Ana Luiza Azevedo), Feliz Natal (Selton Mello), Orquestra dos meninos (Paulo Thiago) e 5 X favela ; Agora por nós mesmos (do grupo AfroReggae).
Escolha
Especialista da época de ouro do cinema hollywoodiano, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho foi escolhido para ser o curador da mostra. ;Quando me convidaram pensei: ;É um lugar que já foi escolhido por Hollywood;. As atrizes Mary Martin e Janet Gaynor eram grandes estrelas que poderiam ir para qualquer lugar. Mas escolheram estar em Anápolis. A escolha foi delas. Eu estou dando apenas o segundo empurrãozinho;, destaca Ewald.
;Selecionamos os melhores filmes exibidos no último ano e meio. A proposta do festival era abrir conhecimento para obras de qualidade que fossem inéditas na cidade. Além disso, os filmes serão exibidos em praça pública e levamos em conta filmes atrativos para o público geral;, explicou o curador sobre as exibições, tanto no Teatro Municipal quanto em ar livre, em vários pontos da cidade.
;Anápolis é o maior polo industrial do estado de Goiás. Existe um grande potencial investidor cinematográfico na região. Nós estamos tentando fomentar a produção de cinema na cidade, bem como investir em formação de plateia;, explica a diretora-geral do festival, Débora Tôrres. Os cineastas anapolinos também competem entre si na mostra Curta Anápolis.
1; Anápolis Festival de Cinema
Até segunda-feira, exibição de filmes brasileiros inéditos no Teatro Municipal de Anápolis, às 19h30, e reexibição por vários pontos da cidade. Hoje, Orquestra dos meninos (não recomendado para menores de 10 anos). Amanhã, 5 X favela ; Agora por nós mesmos (não recomendado para menores de 14 anos). Sexta, Feliz Natal inquilinos (não recomendado para menores de 14 anos). Sábado, Antes que o mundo acabe (não recomendado para menores de 10 anos) e domingo, Os inquilinos (não recomendado para menores de 14 anos).