Diversão e Arte

Inquietações de uma geração marca O bosque, de David Mamet, no CCBB

postado em 14/04/2011 07:03
Bruno Kott e Cristine Péron em O bosque: linguagem hiper-realista, veloz e cinematográfica.
É bem mais que um incômodo. Dois atores em cena expressam a inquietação de uma geração, imediatamente após as promessas de mudanças em todos os níveis sociais e na esfera particular dos anos 1960. O texto da peça O bosque pode ser interpretado segundo esse ponto de vista. Bruno Kott (Nick) e Cristine Péron (Ruth) estão longe da cidade. Na cabana à beira do lago da família de Nick, uma volta ao passado é o estopim que deflagra muitas inquietações. A primeira montagem deste texto do multiartista norte-americano David Mamet no Brasil tem estreia nacional a partir de hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, permanecendo em cartaz até 8 de maio.

;Quando propus a peça aos atores um dos aspectos interessantes foi justamente esse olhar geracional. Os protagonistas falam por uma geração. O texto tem quase 40 anos e se mantém vivo. É interessante notar como em 1977 esse texto falava uma determinada mensagem e hoje, de alguma maneira, todas as promessas que existiam nos anos 1970 se perderam. Um, a palavra esperança deixou de existir no mundo contemporâneo. É um pouco hipócrita negar isso;, acredita o diretor Alvise Camozzi.

Poucos exemplares da obra de Mamet foram traduzidos e lançados no Brasil. Por isso mesmo, talvez seja mais difícil para o público comparar a singularidade desse exemplar. ;A linguagem hiper-realista, concreta, rápida, cinematográfica do Mamet está aqui, ainda que com menor intensidade do que nos outros textos que ele fez para o teatro;, explica Camozi. ;Acontece esse triângulo entre atores, espectadores e os lugares sugeridos. O bosque deve existir de verdade sem que ele esteja aqui. É um projeto imagético. Emociona porque mostra uma imagem real;, acredita o ator Bruno Kott. ;Não existe uma influência direta do cinema. Hoje em dia, todas as artes usam a linguagem cinematográfica e com o teatro não é diferente. Não quer dizer que tenham vídeo projeções;, explica o diretor. ;O público deve enxergar pelos nossos olhos;, completa a atriz Cristine Péron, que retorna a Brasília depois de passar uma boa parte da juventude aqui.

A experiência anterior dos três em outras montagens, o espetáculo infantil baseado nas músicas de David Bowie O astronauta e a ficção científica Babel ajudaram na criação da nova montagem concebida para ser iniciada no espaço do CCBB Brasília. ;Nós conhecíamos essa sala por causa da temporada do Astronauta e pensamos essa encenação para esse lugar. Parece coisa de discurso pronto, mas estamos muito felizes de estrear esse espetáculo em Brasília;, revela Kott.

David Mamet
Uma das figuras mais influentes da cultura norte-americana atual, David Mamet é dramaturgo, diretor de cinema e teatro e ator. Nascido em 1930 num subúrbio da cidade de Chicago começou a carreira escrevendo para o teatro. Três peças fora do circuito da Broadway fizeram com que ganhasse credibilidade: American Buffalo, Perversidade sexual em Chicago e The duck. No Brasil, já foram encenados Edmond, e Oleanna e publicado o livro de autoria de Mamet, Sobre direção de cinema. No cinema, fez os roteiros de Os intocáveis, Ronin e Hannibal. Atualmente, assina um blog controverso para o jornal The Huffington Post www.huffingtonpost.com/david-mamet/. Nele, ele exercita o lado cronista de político em desenhos de traços tão infantis quanto corrosivos.


O bosque
De hoje até 8 de maio no Teatro 2 do Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, Tr. 2, Cj. 22; 3310-7087). Sessões de quinta a sábado, às 19h30 e domingos, às 18h30. Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50 (meia). Não recomendado para menores de 16 anos.

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