Irlam Rocha Lima
postado em 18/04/2011 07:02
O choro, quem diria, virou um negócio da China. Incorporado à delegação brasileira que esteve naquele país asiático, acompanhando a presidente Dilma Rousseff, o Choro Livre fez duas apresentações em Pequim e outra em Shangai, na semana passada. Segundo a assessoria de Dilma, foi ;com brilhantismo que o grupo brasiliense apresentou aos chineses o universo cultural do chorinho, criando oportunidades artísticas e comerciais, que tenderão a expandir-se significativamente ao longo do século 21;. ;Em Pequim, fizemos show no auditório do Guanghua Prosper Center, na segunda-feira, e no auditório do China World Summit Center, no coração financeiro da capital chinesa, na terça-feira, com a presença de Dilma. Dois dias depois, tocamos no Shangai Conservatory of Music, no He Luting Concert Hall, com capaciade para 700 pessoas;, conta Reco do Bandolim. A ida do Choro Livre à China teve a chancela do Departamento Cultural do Itamaraty.
Desde o fim da década de 1980 que o Choro Livre tem levado o estilo musical, tido como gênese da MPB, para o mundo. Inicialmente, o grupo esteve em países da América Latina (Uruguai, Argentina e Peru), depois nos Emirados Árabes (Dubai) e na Europa (Portugal, França, Áustria e Espanha ; essa última por duas vezes). ;Em setembro estivemos nos Estados Unidos e no Canadá, onde, além de apresentações, fizemos palestras e universidades;, lembra Reco do Bandolim.
Transformada na nova capital do choro, Brasília tem sido representada no exterior por outros músicos e conjuntos do gênero. Nas viagens internacionais, há os que recebem o apoio de órgãos governamentais como o Itamaraty e o Ministério do Turismo. E há quem também viaje bancando as despesas, como é o caso do bandolinista Dudu Maia, que está desde quarta-feira passada nos Estados Unidos. Ele fará shows em Seattle e Nova York, onde estará, também, à frente de workshops de choro, ;focalizando a técnica de execução, a improvisação e o repertório do bandolim brasileiro;.
Oficinas
Integrante do grupo Aquattro, Dudu lança em breve em DVD um documentário intitulado Grande circular, com a participação de outros músicos brasilienses. Ele tem ido aos Estados Unidos desde 2006. ;Lancei meu primeiro CD lá, e meu trabalho já é reconhecido, principalmente entre a classe musical. Nas minhas idas, sempre faço apresentações e ministro oficinas, tendo o bandolim e o choro como focos principais;, revela.
Na quarta-feira, ao chegar a Seattle, Dudu pôde perceber que o choro vem sendo difundido na terra do grunge, pátria do lendário roqueiro Kurt Cobain. ;No Underttown, um café estiloso, e no Upstage, lugar charmoso e prestigiado, deparei com um duo de flauta e violão e dois grupos de Portland, respectivamente, tocando clássicos da obra de Ernesto Nazareth, Pixinguinha e Jacob do Bandolim. Fiquei feliz porque as pessoas logo me reconheceram e me receberam de forma afetuosa;, relata.
Durante a estada nos Estados Unidos em anos anteriores, Dudu testemunhou dezenas de estrangeiros aprendendo a falar português, só para poder compreender e tocar o choro com mais propriedade. ;Vi grupos de choro formados por músicos norte-americanos, que se comunicavam em português durante as apresentações. Conheço outros que viajaram ao Brasil movidos exclusivamente pelo choro. Cabe a mim e a meus colegas chorões continuarmos plantando essa semente e, pouco a pouco, difundindo e expandindo a beleza desse gênero brasileiríssimo.;
Professor da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, o flautista Sérgio Moraes é outro que mantém o passaporte em dia, pois está sempre atento à possibilidade de levar a música brasileira ao exterior. ;Em 2008, com um grupo aqui da cidade, tomei parte do Festival Internacional de Jazz de Porto Príncipe, no Haiti. Em julho de 2009, toquei em Gana, na África;, destaca.
Mais recentemente, o flautista foi a São José, na Costa Rica, para dar aulas durante um outro festival. ;Estou em contato com a embaixada brasileira para fazer shows ainda neste ano. Senti que o choro é um gênero musical que pode ter boa aceitação naquele país, pois vi o interesse que despertou entre os alunos do curso;, afirma Moraes.