postado em 09/05/2011 08:00
A plateia de quase 1,5 mil pessoas não conseguiu esperar pelo fim do primeiro ato para aplaudir. Os aplausos em cena aberta foram uma constante na apresentação do espetáculo Grande Suíte do Ballet Don Quixote, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, na última quinta-feira. No palco, 95 bailarinos da Escola do Teatro Bolshoi do Brasil ; entre alunos, 10 integrantes da Companhia Jovem e três professores ; encenaram a saga de Don Quixote, inspirada na coreografia do russo Alexander Gorsky e desenvolvida pelo também coreógrafo Vladimir Vasiliev com o elenco da escola.
Movimento, técnica, sentimento e perfeição foram ingredientes de um balé alegre e colorido, no qual as bailarinas rodopiavam com um sorriso estampado no rosto. A novela original de Miguel de Cervantes, com música de Ludwig Minkus, conta uma história de amor entre a jovem Kitri , noiva de Gamach, e o barbeiro Basílio, que buscam ajuda de Don Quixote e de Sancho Pança para fugir e casar em Barcelona. Danças ciganas tingiram de vermelho e amarelo o tablado, pelo qual circulavam mascates, crianças e cozinheiros, todos representando a balbúrdia das praças espanholas no século 19.
Balé de repertório, Don Quixote marcou a primeira formatura da Escola do Bolshoi em Joinville (SC), em 2007. Nele, a bailarina Bruna Gaglianone interpreta Kitri e Erick Swolkin, Basílio. Integrantes da Companhia Jovem e ambos com 20 anos, eles reconhecem que o projeto de arte-educação representou enorme mudança de vida: ;Mudou tudo;, resume Bruna, que transferiu-se com a família do Maranhão para Santa Catarina e, ano passado, dançou O quebra-nozes, em Nova York. O paulista Erick conta que resolveu seguir a carreira ainda garoto, quando estava na terceira série: ;Fui ao Bolshoi por curiosidade e vi que era isso que eu queria ser;. Lá também chegou gente de outro país, como Lucila Munaretto, de 16 anos, que trocou Obera, na Argentina, por Joinville. ;Vim pelo sonho de dançar, de ser bailarina;, disse ela, ao lado das colegas Maria Fernanda Bacchereti, 15 anos, e Larissa Luna, de 16, ambas de São Paulo.
Um videoclipe sobre o aprendizado diário e com depoimento de alunos ; a grande maioria bolsistas ; e pais foi exibido antes da apresentação. Na academia fundada em 2000, os quase 290 estudantes cumprem rotina puxada para seguir os oito anos do curso: teoria e prática durante toda a tarde, cinco dias por semana. Durante a manhã, eles frequentam a rede de ensino no município. ;A gente escolhe o nosso futuro ainda muito jovem;, percebe a goiana Amanda Gomes, de 15 anos, que faz a Rainha das Dríades, personagem que povoa o sonho do cavaleiro errante.
Além do clipe, três discursos empurraram o início da exibição, marcada para as 20h30, para uma hora depois. ;O Brasil realmente é um país privilegiado, porque o Bolshoi resolveu criar uma escola fora da Rússia e escolheu o nosso país;, lembrou a ministra da Cultura, Ana de Hollanda. Em bom português, o embaixador da Federação Russa, Sergei Lavrov, acrescentou que a escola ;é o maior e o mais permanente projeto de intercâmbio cultural entre Brasil e Rússia;. O ex-prefeito de Joinville, senador Luiz Henrique da Silveira, patrono da companhia, destacou o caráter educacional do programa que leva jovens da periferia brasileira a encantar plateias pelo mundo.
No fim do balé, o público era só elogios: ;São talentos maravilhosos, artistas de altíssimo nível;, entusiasmou-se o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, ao lado da primeira-dama, Ilza Maria. As irmãs Ângela, Helena e Heloísa Lobato concordaram. ;É um espetáculo alegre, muito livre de tensão;, analisou a psiquiatra Ângela, de 63 anos. ;Achei que o tema espanhol foi muito bem explorado;, completou a psicóloga Helena, de 66 anos. A advogada Carolina Vasconcelos, de 31 anos, que faz aulas de dança clássica, emendou: ;A produção é muito boa, o figurino também e o corpo de baile estava bem ensaiado;.