Nahima Maciel
postado em 10/05/2011 14:05
Uma viagem familiar destinada a visitar uma irmã trouxe a inglesa Margaret Mee ao Brasil, mas foi a exuberância da flora tropical a responsável por fazer a artista fincar pé na América Latina. Mee se encantou com as bromélias, conviveu com tribos indígenas e com uma vegetação hostil durante as 15 viagens realizadas na Amazônia. Deixou um legado muito completo para a ilustração botânica do século 20 no Brasil. Se estivesse viva, teria completado 100 anos em 2009, mas Mee morreu em 1988 em um desastre de carro na Inglaterra enquanto lançava um dos diários confeccionados durante as viagens pelo Brasil. Para lembrar o centenário, a curadora Sylvia de Botton reuniu obras de acervos de três instituições e de coleções privadas para montar a exposição Margaret Mee ; 100 anos de vida a obra, em cartaz no Museu Nacional Honestino Guimarães (Complexo da República).Com formação em desenho e arte, Mee se dedicou ao registro mais completo dos ecossistemas brasileiros. Passou pela Amazônia, Mata Atlântica e Caatinga com o objetivo de desenhar as espécies mais relevantes. Sylvia estima em 400 o número de ilustrações realizadas pela inglesa. Nos registros, há descobertas de espécies ainda não catalogadas nas décadas de 1950, 1960 e 1970.
Uma parceria com Burle Marx rendeu belas ilustrações. Para a exposição, Sylvia selecionou dois trabalhos de autoria do paisagista. ;São ilustrações de duas espécies que levam o nome dele por terem sido catalogadas por ele. Ela descobriu as plantas na floresta amazônica e levou para Burle Marx;, conta Sylvia, que era amiga da artista e foi uma das idealizadoras da Fundação Botânica Margaret Mee, criada logo após a morte da ilustradora e hoje extinta. ;Ela teve um olhar muito atento para as belezas da nossa flora e tentou fazer um levantamento de tudo que viu em suas viagens. Já naquela época, nos anos 1950, ela alertava para o perigo da extinção de algumas espécies e chamou atenção para o meio ambiente.;
Arte e ciência
A ilustração botânica tem características muito específicas e fica a meio caminho entre um trabalho artístico e um instrumento de pesquisa científica. A prática traz a possibilidade de exibir detalhes que escapam à fotografia e Mee fazia isso com equilíbrio e leveza. A combinação entre a acuidade e a liberdade de um traço solto são as marcas do trabalho da artista. O compromisso científico era tão importante que ela foi convidada pelo botânico Lyman Smith para participar de um projeto de pesquisa e publicação de livros sobre bromélias. A inglesa acabou conhecida como a artista que mais desenhou as bromélias brasileiras no século 20.
Para montar a exposição, Sylvia de Botton reuniu 100 ilustrações dos acervos do Instituto Botânico de São Paulo, Coleção Roberto Burle Marx e Coleção do Herbário da Universidade Federal do Rio de Janeiro, além de objetos e um vídeo com a última entrevista de Mee, concedida a uma rede de televisão norte-americana. ;É uma exposição com abrangência da obra e de divulgação da vida dela;, avisa a curadora.
Margaret Mee ; 100 anos de vida a obra
Exposição obras de Margaret Mee. Museu Nacional Honestino Guimarães (Complexo da República). Visitação até 5 de junho, de terça a domingo, das 9h às 18h30.