Diversão e Arte

Gente com a gente

Mauro Trindade
postado em 10/05/2011 15:33
Quem avisa é o IBGE: o número de casamentos caiu no Brasil, mais da metade das brasileiras estão sozinhas, casam-se cada vez mais tarde e, no Rio de Janeiro, são mais numerosas: ganham em 360 mil. Esse é o ambiente de Tapas & beijos, seriado da Globo criado e roteirizado por Claudio Paiva, com direção de Maurício Farias ; exibido às terças, às 22h15. No lugar do clã e agregados de A grande família, dos casais de Faça a sua história, Separação?! e Os normais, todas séries recentes da mesma emissora, agora é a vez de duas mulheres encabeçarem as alegrias e as desventuras da vida de solteiras ma non troppo.

Fernanda Torres, Vladimir Brichta e Andréa Beltrão em Tapas & beijos: tipos comuns provocam empatia do públicoClaudio Paiva mistura de forma eficiente trabalho e casamento no enredo dessa comédia ligeira, sem grandes dramas e pequenas confusões de duas vendedoras de meia-idade de uma loja de vestidos de noiva. Como a situação civil e profissional é bem diferente dos programas citados acima, há mais situações a serem exploradas, especialmente porque Tapas & beijos se passa em um dos bairros mais complexos e variados do Brasil: Copacabana, que reúne em seus 101 quarteirões desde os restaurantes de luxo e os hotéis mais caros do Rio de Janeiro aos piores pés-sujos e à prostituição mais rasteira. Em resumo, tem o melhor e pior de uma grande cidade. Um prato cheio para um escritor.

A despeito de que Sueli (Andréa Beltrão), de Tapas & beijos, seja um pouco mais carinhosa que a Marilda, de A grande família, não há grandes diferenças entre as personagens. O mesmo caso do Djalma (Otávio Muller), de Armane (Vladimir Brichta) ou de Chalita (Flávio Migliaccio) para outros personagens já representados pelos respectivos intérpretes. O que interessa é a empatia do público com esses tipos comuns, muito bem defendidos pelos atores. Uma lição que Chaplin, Fortino Reyes, Roberto Bolaños, Antonio de Curtis e Renato Aragão ensinaram com Carlitos, Cantinflas, Chaves, Totó e Didi Mocó. Grandes personagens permitem mais de uma encarnação. Em compensação, Fátima, de Fernanda Torres, está longe da surtada Vani, de Os normais.

Em Tapas & beijos, todos são personagens populares, do dia a dia das grandes cidades: a vendedora nem feia nem bonita sem sorte no amor, o dono de restaurante resmungão, o ex-marido sempre em dificuldades, o homem casado dividido entre a mulher e a amante. Quanto maior a cumplicidade de autor, diretor e elenco com o tema, maior é a simpatia do público pela série. É o que A grande família tem feito com enorme carinho pelos telespectadores há 10 anos. Amor com amor se paga.

Macho man
Outra série da nova safra da Globo, Macho man começou titubeante, mas tomou pé nos programas seguintes. O que parecia ser apenas uma piada em cima de estereótipos, em especial o do homossexual, evoluiu para uma divertida e inteligente discussão sobre comportamentos que não se restringem à sexualidade. Como ser o que se é de fato ou fingir ser diferente para ser aceito socialmente, tema de um dos episódios.

E Jorge Fernando, que desde o princípio surgia como um dos pontos positivos da série, parece dar mais solidez à composição de seu personagem a cada nova história, bem acompanhado por Marisa Orth e por um time de bons coadjuvantes. Como Rita Elmor, no papel de Venetta, a ex-modelo decadente, falida e alcoólatra, frequentadora assídua do salão Fréderic;s, e Natalia Klein, que faz Nikita, a recepcionista gótica que, sem que ninguém saiba, também é cantora de bossa nova.

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