postado em 11/05/2011 08:00
Quem acompanha o atual cenário de teatro e de literatura sabe que muitos nomes surgem no universo artístico. Os produtores culturais Carla Mullulo e João Braune decidiram misturar essas searas e criaram o projeto Nova Dramaturgia Brasileira. A ideia é simples: selecione quatro escritores que nunca escreveram dramaturgia e lance a eles esse desafio. Em seguida, distribua os textos para quatro diretores da nova geração, para que façam uma livre adaptação do material. O resultado poderá ser visto este mês, no Teatro 2 do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), de hoje a 5 de junho.As quatro peças serão exibidas sempre de quarta a domingo. A primeira atração tem um dedinho brasiliense. O espetáculo Concerto para quatro vozes e alguma memória, do escritor goiano André de Leones, ganhou a direção da bailarina e diretora Cristina Moura, que viveu em Brasília por 15 anos, e coordenou o Endança, importante grupo de pesquisa, que movimentou a cidade nos anos 1990.
Depois de anos de dedicação à dança, que a lançou inclusive em carreira internacional, Cristina começou a inserir a palavra em seu trabalho. Quando passou a transitar entre as linguagens, recebeu convites para teatro e, como já criava seus próprios solos de dança, não se sentiu desconfortável no comando de montagens teatrais. ;Gosto muito de projetos colaborativos, então aceitei essa aventura, essa viagem às cegas;, revela a diretora.
Sua missão era transpor para os palcos a história de dois casais, um hetero e o outro homossexual, que se desenvolvem de maneiras ligeiramente diferentes, mas partem de um mesmo ponto: em cada casal, uma pessoa passa por um problema de saúde que a leva à perda de memória. Depois de se recuperar, precisa reencontrar o companheiro. ;Me inspirei em uma situação que eu passei. O que me interessa é brincar com o conceito de memória, tanto a factual quanto a afetiva. Em cada casal, as mudanças são pequenas, mas significativas;, explica o autor, André de Leones.
Riscos
A experiência trouxe novidades em todos os sentidos. ;É um texto de um autor que eu não conhecia, que talvez não escolhesse. Também não estou acostumada a trabalhar com o elenco e com a equipe técnica do projeto, mas aceitei justamente pelo desafio de estar em outra constelação;, afirma Cristina. Para manter a propósito de correr riscos, ela decidiu escalar um elenco com quem teve pouco contato profissional até agora. No projeto, a diretora também teve de abrir mão do tempo de maturação de um espetáculo, já que era preciso seguir um cronograma.
Para se apropriar da história, ela investiu em muitas leituras de mesa, além de relacionar o tema com livros e filmes. ;Me interessou muito a estrutura do texto. O autor brinca com a repetição e, em cena, a gente repete isso ainda mais;, completa. A ação se desenvolve em um apartamento, com música de Moreno, Kassin e Domenico, que segundo a diretora, lembra uma trilha sonora de cinema.
O autor do texto também enfrentou seus estranhamentos diante do novo formato. ;É mais fácil do que escrever romances, porque é só a indicação do meio do caminho. Muito da criação teatral vem com o diretor e os atores;, explica André de Leones. A linguagem, no entanto, suscitou dúvidas: mesmo sendo frequentador de montagens cênicas, ele se sentia ;pisando em ovos; e compartilhou o original com amigos escritores, na tentativa de achar o tom. Ansioso para ver a roupagem que sua primeira dramaturgia ganhou, ele torce: ;Espero que Cristina tenha sacado a minha ideia e a transforme em uma coisa melhor.;
CONCERTO PARA QUATRO VOZES E ALGUMA MEMÓRIA
Espetáculo de abertura do projeto Nova Dramaturgia Brasileira. Texto de André de Leones. Direção de Cristina Moura. Com Branca Messina, Raquel Rocha, Marina Vianna e Pedro Henrique Monteiro. De hoje a sábado às 21h e domingo às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCES Trecho 2, Lote 2 - 3310-7087). Ingressos a R$ 15 e R$ 7,50 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.