Irlam Rocha Lima, Enviado Especial
postado em 14/05/2011 11:18
Rio de Janeiro ; Quando, em 2009, Caetano Veloso assistiu a um dos primeiros shows de Maria Gadú, na extinta casa noturna Cinematheque, no bairro de Botafogo (Rio de Janeiro), queria ver a menina que diziam ser a nova Cássia Eller. Diante dela, achou uma figura interessante, ;que parecia um moleque de favela movie. Quando soltou a voz, estava mais para Marisa Monte do que para Cássia. Era um garotinho com voz de princesa;.Gadú, que havia crescido ouvindo ;caminhando contra o vento; ; referindo-se à mítica Alegria alegria ; lembra que, no dia em que Caetano foi ouvi-la, estava rouca. ;Tive que me concentrar bastante para fazer a emissão da voz e não decepcioná-lo;. Dois anos depois os dois estavam juntos no palco, num show visto em Salvador, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.
A repercussão do espetáculo levou os dois a serem convidados para gravar um DVD, resultado de parceria entre a Universal Music e o canal Multishow. O registro foi feito em 19 de dezembro do ano passado, no Citibank Master, no Rio, com direção de Rodrigo Vidal, Pauls Ralphes (áudio), Gualter Pupo e Fernanda Young (vídeo). O Multishow exibe o programa especial no dia 22, e, no dia seguinte, o CD e o DVD estarão disponíveis nas lojas.
No show, transportado para o DVD e DVD duplo, há sets diversos. Logo na abertura os dois juntam as vozes em Beleza pura. Na sequência, Gadú canta composições de sua autoria como Bela flor, Dona Cila, Encontro, além de A história de Lilly Braun (Edu Lobo e Chico Buarque) e Podres poderes (Caetano Veloso); e os dois interpretam O quereres e Sampa.
Sozinho em cena, o cantor passa em revista os clássicos De noite na cama, Desde que o samba é samba, Alegria alegria, a pouco conhecida Genipapo absoluto, Sozinho (Peninha) e Shimbalaiê (Maria Gadú), levando a parceira de projeto às lágrimas. ;Caetano me pegou de surpresa. Quando vi aquele cara, que sempre foi referência para mim, cantando a música que fiz quando tinha 10 anos, fui tomada por uma alegria, uma emoção que não dá para descrever. Eu, que já não aguentava mais ouvi-la, voltei a ter carinho por ela;, comenta Gadú.
Vaca profana, Rapte-me camaleoa, O Leãozinho, Odara, Nosso estranho amor e Menino do Rio voltam a colocar lado a lado os dois intérpretes. ;Já no primeiro encontro que tivemos para conversar sobre o projeto, buscamos definir o repertório. Selecionei músicas minhas que imaginei serem conhecidas da Gadú e pensando no formato de um show de voz e violão.;, conta Caetano. ;As canções escolhidas por ele são todas marcantes para mim, mas O quereres é a minha música preferida, entre todas as que foram compostas na MPB;, revela a cantora.
Privilégio
Mesmo já tendo feito alguns shows e gravado o DVD com o eterno tropicalista, Gadú diz que a ficha ainda não caiu. ;Ainda acho esquisito estar ali em cena ao lado de um artista por quem tenho tanta admiração, uma pessoa especial. Nossa convivência, fora do palco, tem sido rica, pelo menos para mim. É um privilégio poder conversar com uma pessoa que tem interesse por assuntos distintos, como música, política, cinema e fotografia; que fala de tudo com propriedade.;
Para Caetano, estar ao lado de Gadú o instiga e o faz viajar no tempo. ;Eu tinha 23 anos quando compus Alegria alegria e 24 quando ela foi lançada (no Festival de Rercord, de 1967). Agora, aos 68 anos, estou ao lado de uma jovem cantora que tem 24 e que, aos 23, transformou-se num fenômeno espontâneo. Com ela, vou cantar para um público grande;. Ele, que gravou dois discos e um DVD com a Banda Cê, formada por músicos na faixa dos 20 anos, encara com naturalidade o fato de o verem ;vampirizando; jovens.
Na coletiva que concederam no Londra (bar do Hotel Fasano, em Ipanema), no começo da noite de quinta-feira, os dois ativeram-se, basicamente, a questões relacionadas ao DVD. Mas, abriram uma exceção ao abordar um tema atualíssimo, a união estável entre pessoas do mesmo sexo, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal, na semana passada.
Gadú manifestou-se avessa a levantar bandeiras, mas felicitou a decisão do órgão, por achar que as pessoas, independentemente da orientação sexual, ;têm o direito não só de terem relação, como também à adoção de filhos e a encontrar alguma forma de gerá-los;. Lacônico, Caetano limitou-se a dizer ;eu apoio;, referindo-se, obviamente à decisão do Supremo.
O repórter viajou a convite da Universal Music