Enviado Especial
postado em 14/05/2011 11:20
Pirenópolis (GO) ; Última filha viva de Cora Coralina, Vicencia Bretas Tahan disse ao Correio que não sabia se iria à terceira edição da Festa Literária. Mas ela conseguiu e foi uma das principais atrações da protocolar cerimônia de abertura da Festa Literária de Pirenópolis (Flipiri). Ela leu textos da mãe e falou, sempre com bom humor infalível, sobre o espaço que a mulher ocupa na literatura:;As mulheres estão por cima;, brincou. ;Que coisa maravilhosa essa cidade! Cheia de jovens. Essa mocidade está fazendo a cidade ser conhecida por seu lado cultural;, também declarou. Em vez de poesias ou trechos de contos, a caçula de Cora separou alguns pensamentos da mãe. ;Não tenho medo de envelhecer. Tenho medo de ficar velha;, diz um deles.
Aproveitou o momento para falar sobre as dificuldades que a poetisa enfrentou para ter seu trabalho finalmente reconhecido. ;Hoje, a Cora anda tão homenageada. Ela é mais lembrada agora do que em vida, porque a menosprezaram na época em que ela escrevia. Diziam que era uma ;velhinha que faz doce;;, desabafou. Após a solenidade, organizada no Theatro Pyrenópolis Sebastião Pompeu de Pina, Elisa Lucinda encerrou a noite com um bate-papo sobre poesia ; e com muita poesia ; no palco da Praça Central. Foi uma visita relâmpago da atriz carioca: com agenda cheia, ela chegou na quinta e teve que retornar ontem de manhã. Mas deixou acertado com o público que volta no ano que vem para ficar mais tempo.
Os concursos fazem essa hierarquia: premiam o melhor romance com R$ 100 mil e o melhor livro de poesia com R$ 20 mil. E há uma crueldade exercida no mercado;, criticou, de sorriso no rosto, mas com voz grave. ;Poesia é souvenir moderno, lembrancinha eterna do tempo;, definiu.
A festa acaba hoje, com programação o dia todo. À noite, os brasilienses do Oi Poema fazem recital poético.
Cine Brasília
Ao final de cada poesia, Elisa Lucinda dava chutes no ar e brandia o microfone na direção do público. Sem roteiro, falou por uma hora e meia sobre todos os assuntos que a sua memória poderia comportar: educação, mulher, união homoafetiva, racismo. E sempre recitando, com o vigor de uma interpretação teatral, poemas seus e de autores favoritos. Entre piadas, causos e interações com o público (como uma professora escolar, chamava a atenção de quem ousava se levantar no meio da apresentação), ela comentou a desigualdade que existe entre ficcionistas e poetas. ;A poesia é o negão da literatura.
Secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira chegou com atraso à festa, mas teve tempo de dizer algum palavras ao microfone. Ele aproveitou para falar de mudanças a Feira do Livro e deu detalhes sobre a reforma do Cine Brasília.
;Nós temos a obrigação de redimensionar, não apenas em termos quantitativos, mas qualificar a nossa relação com o livro e a leitura.
Então, vamos trabalhar, no sentido de oferecer para a cidade um projeto já a partir do ano que vem. Neste ano, não temos condições de avançar significativamente. É um compromisso nosso da Secretaria de Cultura, para que Brasília possa dialogar com demais iniciativas dessa natureza no país e no exterior;, garantiu.
Segundo o secretário, a reativação da sala mais nobre do cinema brasiliense, prometida para março, ainda está em processo. ;Nós estamos concluindo a impermeabilização do Cine Brasília. Agora, vamos baixar e fazer a reforma necessária para esse festival, o 44;, que vai ocorrer na última semana de setembro. Vamos antecipar a data, para que a gente escape da chuva;, acrescentou.
O repórter viajou a convite da produção do evento