postado em 15/05/2011 08:05
Quando criou a rede social Facebook, o americano Mark Zuckerberg pretendia facilitar a paquera nos câmpus universitários e esquentar o ambiente acadêmico. Naquele tempo, não se poderia imaginar que a ferramenta ganharia outras finalidades, entre elas a divulgação de obras de arte e registros históricos. Em Brasília, muita gente usa o perfil na maior rede de relacionamentos do mundo para revelar preciosidades dos primórdios da cidade. São shows históricos, espetáculos memoráveis, artistas que já se foram. Imagens que vão, aos poucos, deixando armários antigos e caixas de papelão e se transformam em itens de uma espécie de ;exposição virtual;.
Um dos ;arqueólogos; da memória da cidade é o fotógrafo publicitário Tadeu Prado, que atua no ramo há 25 anos e começou a carreira cobrindo shows de rock e fazendo fotos de divulgação de bandas locais, entre 1985 e 1987. Em seus álbuns na grande rede, também não faltam fotografias da turma que frequentava a cena roqueira de Brasília. ;Naquela época, ninguém tinha o hábito de sair com uma máquina fotográfica, só fotógrafos faziam isso. Tenho muitas imagens guardadas e comecei a postar para dar uma utilidade, homenagear os amigos;, conta. O acervo conta com registros de shows de clássicos como Capital Inicial, Plebe Rude, Peter Perfeito, Detrito Federal, Arte no Escuro, Escola de Escândalos e até mesmo um lendário show da Legião Urbana, no Rio de Janeiro, em que foi o único a fotografar de cima do palco.
Durante o processo de organização das caixas antigas, o ator, diretor e iluminador James Fensterseifer decidiu compartilhar com internautas capítulos da cultura brasiliense. ;Já esvaziei um armário de três portas. O mundo tecnológico agora nos dá essa disponibilidade de espaço;, comemora. Seus registros fotográficos começaram aos 19 anos, quando ganhou uma câmera Minolta do pai. Como já era iluminador, passou a fazer também as fotos de divulgação de muitos espetáculos da época.
Sempre higienizados e guardados com todo o cuidado, os negativos expõem flagrantes de espetáculos que marcaram a cidade: os preparativos do grupo Endança antes de entrar no palco, os primeiros cliques do que viria a ser a Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo, além de um descontraído ensaio com o ator Robson Graia, que deixou saudades no meio teatral. Há registros de edições do Concerto Cabeças e raras fotos do grupo de comédia Paletó e Gravata, que inspirou comediantes da nova geração.
Vinte mil imagens
Mergulhados no movimento rock;n roll de uma Brasília oitentista, os amigos Nicolau El Moor e Ricardo Junqueira, o Bolinha, têm mais de 20 mil fotografias, muitas delas ainda inéditas. ;Já digitalizei boa parte do meu material e Nicolau está trabalhando no dele. Já começamos a captar recursos para o livro;, avisa o fotógrafo. Enquanto isso, é possível dar uma olhada em um aperitivo que ele postou em sua página do Facebook, com fotos de frequentadores de shows do Gilberto Salomão, há mais de duas décadas. ;O mais interessante na internet é essa facilidade absurda para publicar coisas sem custo, o que nos dá a oportunidade de fazer essa escavação nos nossos álbuns;, acredita. Todas vez que uma nova foto é publicada, o resultado é imediato.
Seguindo a tendência de compartilhar instantâneos na web, a cantora Janette Dornellas também colocou seu perfil na rede de relacionamentos a serviço da arte feita na cidade. Ali, ela reproduz imagens de espetáculos teatrais e musicais dos quais participou e ainda abre espaço para amigos saudosos. É possível ver Zélia Duncan, cantando de braços abertos no imenso palco da Sala Villa-Lobos, diante de uma plateia empolgada. As relíquias ainda revelam momentos de intimidade com Cássia Eller, que ganhou uma série de publicações, batizada de Eu e Cássia.