postado em 15/05/2011 08:18
Paul Simon escreveu algumas das canções mais amáveis (e perenes) da música pop americana. A baladona Bridge over troubled water, por exemplo, ainda navega imponente na programação das rádios. E Mrs. Robinson, enxutíssima, não se aposentou nas pistas de rock. Apesar da vocação para mesclar versos e melodias, o compositor de 69 anos hoje se dedica a uma outra aventura: a investigação sonora. ;Não tenho mais a obrigação de escrever hits, por isso faço o que quero. E o que me alegra é encontrar o som perfeito para cada música;, explicou, ao site Spinner.
Existe, portanto, uma hierarquia nas preferências do músico. Primeiro vem o gosto por gravar discos. Depois (e só depois), o desejo de compor. Pode parecer um contrassenso ; na dupla Simon & Garfunkel, que saiu de cena em 1970, era ele quem assinava quase todo o repertório. Mas, na mesma sintonia do ídolo Bob Dylan, Paul faz o possível para evitar as armadilhas dos estúdios de gravação. Detesta a ideia de sons padronizados, concebidos com os equipamentos que todo mundo usa e os mesmíssimos truques de produção. Por essas e outras, resolveu tomar controle quase absoluto sobre o disco So beautiful or so what, o 12; da carreira. Funcionou.
Deu tão certo, aliás, que boa parte da crítica americana (em revistas grandes e pequenas, da Rolling Stone ao ;indie; The A.V Club) já o trata como o melhor álbum do cantor desde Graceland (1986). Não é coisa pouca. Um furacão musical e político, Graceland desbravou o pop africano (e, por consequência, alterou muitos dos dogmas da música comercial oitentista), serviu de bandeira antiapartheid e, 20 anos depois, influenciou os ;moleques; do Vampire Weekend, TV on the Radio e Bright Eyes. So beautiful or so what, é claro, não tem a estatura (quiçá a ambição) daquele disco. O que entusiasma os críticos é o tom vibrante, jovial, desta fase. A mocidade de um quase setentão.
É como se aquele Paul Simon dos anos 1970 e 1980 tivesse decidido cancelar as férias para voltar à ação. O fã aprova: o disco estreou em primeiro lugar na parada da Billboard, vendendo 68 mil unidades na primeira semana. E esse processo de rejuvenescimento passa pela ambição do músico: o som. No disco anterior, Surprise (2006), Paul convidou o produtor Brian Eno (de David Bowie, U2, Coldplay) para preencher os ;espaços em branco; das canções. Eno, de imediato, forrou as melodias com teclados finos. O patrão não ficou de todo satisfeito.
Desta vez, o ;maestro; preferiu deixar as lacunas abertas, sem excesso de ornamentos. A opção, em vez de expor as fragilidades do músico, ressalta o que ele faz de mais sofisticado: combinar melodias pop, adoráveis, com um subtexto rítmico que vai hipnotizando quem ouve. Rewrite, por exemplo, é toda construída sobre repetições de violão e percussão. A economia de soluções não esvazia as ideias.
Inquieto
As ideias, no caso, aparecem em todo canto. Musicalmente, Paul trata o álbum como um resumo de estilos que pontuaram a carreira, desde 1965. Na faixa-título, ele combina o rock ;n; roll dos anos 1950 com afropop. Nas canções de amor, acena para o gospel, o folk e o blues. É nas letras das canções, no entanto, que reaparece o compositor aflito e reflexivo dos anos 1970 ; o homem solitário que confronta o público com divagações sobre religião (Questions for the angels), morte (The afterlife) e relacionamentos amorosos (Love and hard times). ;Não sinto que eu tenha religião alguma. Nenhuma das canções é religiosa. Algumas especulam sobre Deus, mas só isso;, refugou o judeu nova-iorquino, ao The A.V. Club.
Mesmo nos momentos mais soturnos, o cantor alivia a sofreguidão com faíscas de ironia, leveza. Casado com a cantora folk Edie Brickell desde 1992, com quem teve três filhos, Paul narra as crônicas do disco não mais com o ponto de vista de um adolescente perplexo, mas com o olhar vacinado (e, até certo ponto, sereno) de um pai de família. A nova perspectiva, porém, não alivia as inquietações. A música, ele conta, ainda o atiça. O filho de 18 anos é o responsável por atualizar o pai com novidades musicais ; que ele diz procurar com curiosidade. Assim conheceu Vampire Weekend e James Blake, que admira. ;A música que eu faço está próxima das bandas indie. O pop comercial repete modelos sonoros, enquanto que o indie quebra padrões;, comparou.