Diversão e Arte

Livro Nunca vai embora aborda solidão, desencontros, frustrações e paixões

Nahima Maciel
postado em 16/05/2011 09:11
Chico Mattoso tinha duas certezas quando deixou o Brasil rumo a Havana em julho de 2007. A primeira se referia aos personagens do romance que estava prestes a escrever: não seriam cubanos. A segunda era uma certeza cultivada com certo conformismo por viajantes experientes: é quase impossível encontrar no mundo real a cidade imaginada na fantasia. Mattoso viajou a Cuba com a incumbência de escrever uma história de amor passada na capital para o projeto Amores Expressos. Voltou com Nunca vai embora, um livro sobre solidão, desencontros, frustrações, paixões e admirações voltadas para pessoas e lugares.

Renato é arrastado para Havana pela namorada, uma estudante de cinema obcecada pela confecção de um documentário definitivo e um tanto idealizado. Impetuosa e disposta a vasculhar uma cidade diferente daquela oferecida aos turistas, a garota faz da câmera um terceiro olho em busca da autenticidade. Mas Renato é bem diferente de Camila. Dentista e apaixonado, não consegue se encaixar no universo intelectualoide frequentado pela namorada. Quer descobrir Havana, mas não aquela do quarto alugado na espelunca escolhida por Camila e sim a cidade histórica e encantada da revolução. As brigas transformam a estadia num inferninho quente, sombrio e pontuado pelo ciúme e discussões violentas. Renato não consegue se envolver com a cidade.

Vinte e três dias depois de chegar a Cuba, o casal se desfaz e Camila desaparece. É a senha para o personagem se envolver com o universo cubano. Ao lado de Pepe, amigo de bar, Renato sai em busca de Camila e de Havana. Paranoia típica de eventuais perseguições políticas assombram Pepe, também um admirador do regime. A realidade do país se revela para o protagonista, que aos poucos descobre (e aprecia) a cidade rejeitada no início. É uma amostra do percurso também percorrido pelo autor.

Mattoso encontrou Nunca vai embora em Havana, embora a história só tenha tomado forma na volta a São Paulo. ;Saí do Brasil com algumas ideias que tinham a ver com leituras que fiz sobre Cuba, com o que imaginava e com a visão de alguém que não conhece o lugar;, conta. ;Mas fui pronto para que essas ideias fossem derrubadas no instante que chegasse lá porque sabia, por experiência própria, que todos os lugares para os quais se vai com muitas ideias na cabeça, quando você chega, não encontra mais essas ideias. Encontra pessoas muito mais complexas e interessantes.; O autor se programou para estar em Havana em 26 julho, data em que se comemora o dia da Rebeldia Nacional e o ataque fracassado de Fidel Castro ao Quartel de Moncada, marco do início da revolução.

Mas Cuba mudou e Mattoso constatou que aquele 26 de julho era apenas um dia normal. Assim como se deparou com um cotidiano difícil e ambíguo. Para o autor, a ilha constava da lista de experiências necessárias. ;É um daqueles lugares que a gente fala ;um dia tenho que ir lá ver o que é aquilo;.; A viagem foi difícil por vários motivos: deslocar-se para um lugar com a missão abstrata de escrever um livro é o primeiro deles. Mattoso sentiu-se esfomeado por ideias e raramente ficava satisfeito. ;Você sempre tem a impressão de que as histórias estão lhe escapando;, confessa. Outro motivo de angústia foi a própria realidade cubana. ;É uma coisa difícil e muito triste em muitos aspectos.;

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