postado em 19/05/2011 08:22
O cineasta dinamarquês Lars von Trier causou polêmica ontem no Festival de Cinema de Cannes ao dizer que sentia empatia e entendia Adolf Hitler. O episódio ocorreu durante uma entrevista coletiva sobre seu novo filme, Melancolia, forte concorrente para a Palma de Ouro e bem recebido pela crítica. Perguntado sobre sua origem alemã, ele relatou que tinha descoberto que sua família era nazista e que o fato lhe dera ;certo prazer;. A atitude causou desconforto entre os presentes. Pouco tempo depois, diante da repercussão da entrevista, o cineasta se desculpou pelas declarações em um comunicado.
Von Trier é conhecido por ser um provocador, não apenas em seus filmes, mas também em entrevistas. Porém, o cineasta nunca tinha sido tão polêmico como ontem. ;Eu realmente queria ser um judeu e então descobri que, na verdade, eu era um nazista porque minha família era alemã, Hartmann, o que também me deu um certo prazer;, afirmou, com sorriso nos lábios. O silêncio reinou no local da coletiva depois da declaração. ;Eu entendo Hitler. Eu acho que ele fez algumas coisas erradas, totalmente na verdade, mas eu consigo vê-lo sentado em seu bunker no final;, acrescentou.
Visivelmente incomodada, a atriz e estrela do longa, Kirsten Dunst, que estava sentada ao lado do cineasta, chegou a dizer: ;Meu Deus, isso é terrível;. Von Trier olhou para ela e afirmou que as declarações tinham um propósito. ;O que estou dizendo é que eu acho que entendo o homem. Ele não é o que você chamaria de um cara legal, mas, sim, eu entendo muito sobre ele e sinto um pouco de empatia por ele, sim. Mas, vamos lá, não sou favorável à Segunda Guerra Mundial e não sou contra os judeus;, revelou o dinamarquês. ;É claro que gosto dos judeus, mas não demais porque Israel é um pé no saco;, disse em tom de brincadeira e arrancou alguns risos dos jornalistas. E ainda completou antes de soltar uma risada nervosa e dar de ombros: ;Ok, eu sou nazista;.
Em um comunicado, divulgado logo em seguida, Von Trier pediu desculpas pelas declarações. ;Se eu magoei alguém esta manhã com as palavras que proferi na coletiva, peço desculpa, sinceramente. Não sou antissemita ou tenho preconceitos raciais de qualquer tipo, nem sou um nazista;, assinalou o cineasta. Os críticos de cinema acreditam que a atitude do diretor pode influenciar as chances de premiação do filme dinamarquês. Um caso similar ocorreu no fim de fevereiro, quando o estilista britânico John Galliano apareceu em um vídeo no qual dizia que amava Hitler, e ainda foi acusado de racismo por ter proferido insultos antissemitas a um casal em Paris. O diretor criativo da grife francesa Christian Dior foi demitido e deve comparecer diante de um juiz para se defender das acusações em 22 de junho.