Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Ícone do rock gaúcho apresenta disco com influências psicodélicas

;A obra dele não tem diferença para a pessoa dele. Não é artista de hora marcada. A poesia dele é o tempo todo;, diz o guitarrista carioca Leonardo Bomfim, sobre Plato Divorak. De fato, não há afetação no jeito de ser do febril músico gaúcho: ele é uma mistura de beatnik e Rimbaud, com a rebeldia de Juventude transviada e Sem destino, mas uma consciência pop de sacadas ágeis e baladas velozes. Um poeta espontâneo ; e bem-humorado ;, Plato compõe versos psicodélicos, de colagens cósmicas e tropicalistas, desde os anos 1980, quando se embrenhou nas turmas hippies. ;Era experimentação pura;, ele conta.

;Já estava num visual meio Nick Cave, positive punk;, completa. As lembranças de tempos lisérgicos, no underground garageiro, encontraram em Bomfim um parceiro de composições. As criações da dupla, somadas a resgates de projetos anteriores de Plato ; com Frank Jorge e de Plato & Os Sha-Zams ; compõem o disco Plato Divorak & Os Exciters, de gestação longa ; gravado em 2007 ; e finalmente lançado de forma independente em 2011.

Assim que conheceu Bomfim, em 2005, Plato percebeu que o potencial lírico dos dois poderia resultar em composições conjuntas. ;Vi a forma como as palavras dele eram parecidas com as minhas;, conta. Então, foi criada a banda Plato Divorak & Clepsidra, que tinha Rodrigo Layne (baixo) e Diego Cartier (bateria). Ambos saíram da formação depois que o registro foi finalizado. Hoje, a formação conta com Leo e Bruno Ruffier (guitarras), Felipe Faraco (baixo) e Pedro Petracco (bateria). Em Brasília pela primeira vez com projeto próprio, o gaúcho apresenta o disco amanhã, às 22h, no projeto Sonzera! (Balaio Café, 201 Norte), na companhia de outros músicos. Pedrinho Grana & Os Trocados abre caminho para a apresentação.

Texturas
A produção de Os Exciters é de Thomas Dreher, que responde por trabalhos com Júpiter Maçã e Cachorro Grande, para ficar em apenas dois nomes relevantes. O polimento de Dreher garante homogeneidade à coleção de 14 faixas ; organização que não compromete o jorro criativo. A sonoridade não poderia ser outra: uma profusão de imagens delirantes, curiosas, algo esquisitas, em melodias que conjugam estranheza e familiaridade.

A jornada rumo ao universo de Plato começa com a acelerada Eu sou ídolo pop. ;Eu sou um ídolo pop / Mas sou bonito;, ironiza. ;Panfletos contra os poderosos / Que não dançam balé / Como o casal beat;, ele anuncia, logo na sequência, em Casal beat. Impressões surrealistas aceleradas na velocidade do melhor dos anos 1960. Uma das principais referências, informa Leo, é o The Who: ;Há duas vertentes bem claras. Uma que é mais pop, no sentido da canção rápida, dos compactos do The Who. E tem músicas mais experimentais, que atira para vários lados.;

Many years young, um blues que segura o ímpeto das guitarras por alguns minutos, prepara a audição para o que vem a seguir, Jacqueline dos theatros. De cara, uma gema: introduzida por percussão e violão, como numa bossa nova das mais serenas, e rapidamente interrompida por refrão e interlúdio funkeados, com intromissões de soul music. ;Tem uma parte meio black, quando entram os metais. Meio Tim Maia, Jorge Ben;, aponta Plato. A bossa volta em outros momentos (Canção de amor), mas as impressões roqueiras ficam, especialmente no trio Maquiagem tropicalista, Puressence oscillator e A dança do exciter. Baby Denmark ; não se assuste com a duração de 40 minutos ; encerra o álbum com sobrecarga psicodélica: a canção é seguida de uma massa de sons e vozes confusos, conversas salpicadas por uma progressão violenta de bateria, loops de baixo e guitarra, ruídos esparsos e outras ranhuras. Uma overdose necessária aos ouvidos.