Irlam Rocha Lima
postado em 21/05/2011 23:04
Desde a inesquecível Glória Maria, estrela do piano Bar do Brasília Palace, nos primórdios da nova capital, até Thais Moreira, que, no momento, brilha no circuito das casas noturnas, a música brasiliense sempre teve grandes intérpretes. Algumas alcançaram o patamar mais alto ao conquistar o sucesso internacional. Três delas, Cássia Eller, Zélia Duncan e Rosa Passos, começaram a carreira artística cantando em bares da cidade, para depois, chegarem, com destaque, aos palcos de teatros, às casas de shows e aos grandes festivais do Brasil e do exterior. Outras, como Dhi Ribeiro, Indiana Nomma, Ellen Oléria e Mara Beau, com trajetória inicial semelhante, estão em busca de maior projeção fora dos limites do DF, após obterem reconhecimento local. O Correio passeia pelo som de seis intérpretes que elevam o nome de Brasília ao patamar da boa música e revela novidades na agenda de cada uma.É luxo só
Baiana de Salvador, brasiliense desde meados da década de 1970, Rosa Passos conquistou prestígio nos Estados Unidos, Europa e Japão, onde se apresenta desde o começo da década passada, como intérprete de bossa nova. Com 30 anos de música, 14 discos lançados (três deles focalizando a obra de Tom Jobim, Dorival Caymmi e Ary Barroso), a cantora, intérprete sofisticada, dividiu trabalhos com expoentes do jazz como o contrabaixista norte-americano Ron Carter, o violoncelista chinês Yo Yo Ma, o clarinetista cubano Paquito de Rivera e o cantor francês Henri Salvador. Amiga de João Gilberto, elogiada por Caetano Veloso e admirada pelo biógrafo Ruy Castro, Rosa ; acompanhada por Lula Galvão (violão), Jorge Helder (contrabaixo) e Rafael Barata (bateria) ; acaba de gravar CD intitulado É luxo só. O álbum, que reúne clássicos da MPB, extraídos da obra de Noel Rosa, Ary Barroso, Cartola, Antônio Maria, entre outros mestres, é negociado com um selo americano.
Destino: Europa
Sambista apadrinhada por Jorge Aragão, Dhi Ribeiro, embora tenha iniciado a carreira há mais de 20 anos, só, em 2009, é que foi descoberta pelo Brasil. Ex-vocalista de trio elétrico (em Salvador) e de bandas de baile (em Brasília), a cantora integrou por três anos a Lidia Togni, trupe circense italiana. Em carreira solo desde 2004, fez de lugares como Feitiço Mineiro, Calaf e Arena a plataforma de lançamento. No Feitiço, foi ouvida por um executivo da Universal Music, gravadora pela qual lançou Manual de mulher, CD de estreia. Dhi, que já tomou partes de eventos como Festival de Verão de Salvador, Festa Nacional da Música (em Canela/RS) e Mulheres que Brilham (em São Paulo), já esteve duas vezes em Angola e prepara-se para shows em Portugal e na França, em julho. No momento, está envolvida com a pré-produção de um DVD, a ser gravado em Brasília no segunda semestre.
Entre dois discos
Há um ano, Indiana Nomma vive na ponte aérea Brasília/Rio de Janeiro. A cantora, que conquistou o público brasiliense como vocalista da BSB Disco Club (banda que surgiu há 15 anos), partiu para carreira solo em 2002 como intérprete de disco music, soul e jazz. Um dos momentos marcantes na trajetória foi o show que fez na extinta casa de espetáculos da Academia de Tênis, abrindo para a diva Gloria Gaynor. Atualmente, divide-se entre apresentações em bares da Lapa e no circuito noturno de Brasília. Indiana está envolvida na produção de dois discos: um de músicas inéditas, com a assinatura de compositores brasilienses como Eduardo Rangel e Ângela Brandão; e outro de piano e voz, com Daniel Backer, em que fará releituras de clássicos da MPB.
Territórios ocupados
Com vozeirão impressionante e marcante presença cênica, Ellen Oléria surgiu há cinco anos como a grande revelação da música brasiliense dos últimos tempos. Cantora, compositora, atriz e violonista, ela faz um som em que mistura elementos de diferentes vertentes da música negra: samba, afoxé, jazz e hip-hop, sempre com muito suingue. Em 2009, lançou o CD Peça, que de certa forma remete à sua formação de atriz pela UnB. De um ano para cá, tem levado seu talento a outras cidades brasileiras, com apresentações em Fortaleza, Salvador e São Paulo ; onde fez shows na capital e em cidades do interior. O próximo projeto é a gravação de um DVD, marcada para agosto.
Abrigo de jazz
Considerada a grande dama do jazz na capital, Mara Beau conseguiu o que muitos artistas sonham: ser dona do seu próprio espaço. Há nove meses, a cantora está à frente do Mara Beau Jazz Restaurante, na 216 Norte, com capacidade para 35 pessoas. O lugar, que funciona de terça-feira a sábado, a partir das 20h, tem entre os frequentadores diplomatas, diretores do Banco Mundial, turistas e estudantes universitários. Perto de comemorar 30 anos de palco, Mara construiu a carreira cantando em pianos bar da cidade. O reconhecimento viria, depois de uma apresentação no auditório da Casa Thomas Jefferson, em 1991. Há cinco anos, ela lançou o Mara Beau jazz, DVD originário de gravação de programa na TV Câmara. Intérprete de ícones do jazz como Duke Elington, Cole Porter, George Gershwin, Louis Armstrong, aguarda o lançamento de CD que gravou com João Donato.
Musa onipresente
Thais Moreira é a recordista de presença nos palcos da cidade. A cantora, revelada pela primeira edição do programa Ídolos, do SBT, trafega com naturalidade entre a axé music, a MPB e o pop. Dona de timbre e de um tipo de interpretação semelhantes aos de Ivete Sangalo, ela já abriu shows do Chiclete com Banana, Timbalada, Olodum e Cheiro de Amor. Presente na programação dos grandes eventos de Brasília ; como a festa comemorativa dos 51 anos ;, cumpre temporada na casa noturna Garota Carioca, no Setor Comercial Norte, onde em março lançou o CD Axé e glamour, com 21 faixas, incluindo as composições autorais Levada Thatá e Eu tô na onda. Thais faz tanto sucesso com suas apresentações no projeto Pier de Todos os Sons, onde estará de volta na próxima terça-feira, que entrou para a calçada da fama do Pier 21.