Diversão e Arte

Moradores usam lava a jato para lembrar a cultura de Sobradinho

postado em 22/05/2011 08:00
Criadores ocupam lava a jato de Sobradinho e fazem hoje o movimento Buraco da Fechadura: levante pacíficoHouve um tempo em que Sobradinho era a casa da cultura no Distrito Federal. O apelido nobre de ;cidade arte;, recebido há décadas, pouco a pouco, ganhou cores menos vibrantes e mais nostálgicas. ;Era um fuzuê de arte para todo lado. Poetas, eventos;;, descreve Raquel Lima, diretora de teatro e da companhia Carlitos. Integrante do coletivo Buraco da Fechadura, ela conta que o atual momento é de observação e ação: se colocar na brecha, espiar e preencher espaços vazios (como a Praça Santos Dumont e o Teatro de Sobradinho, que estranhamente está sob tutela da Secretaria de Educação e não da Cultura). ;A ideia do olhar misterioso do artista. Para, nesse momento, ver tudo que está acontecendo;, define.

Formado de gente irrequieta, apaixonada pela cidade e angustiada com o marasmo que tomou a região nos últimos anos, o grupo arregaça as mangas e prepara um dia inteiro de performances, oficinas para a comunidade e diálogos culturais. Hoje, como parte das celebrações pelo aniversário de 51 anos de Sobradinho, eles organizam uma espécie de levante pacífico, e numa praça curiosa: um lava a jato (Setor de Indústria, Q. 1, Rua C, Lt. 8), propriedade de Rodrigo Assis, irmão de Angela, idealizadora do movimento, aberto das 10h às 21h.

Se eles pretendem ;lavar; as ruas da cidade, não dá para dizer ; se sim, talvez com jatos de tinta em vez de água. No quartel-general, entre baldes, rampas para carros e mangueiras, os artistas montam estrutura para, nos dias em que o lugar está fechado para clientes, estabelecer um ponto de cultura. Mas a intenção é caminhar de forma itinerante. ;Nossos artistas vão para todo lugar, Planaltina, Asa Norte, até para Formosa. Mas não aqui. Por isso, estamos com várias alternativas e vertentes. A ideia é fazer um evento por mês e oficinas de capacitação para incluir Sobradinho e comunidades vizinhas nas atividades culturais;, conta Angela, artesã e militante cultural há 15 anos.

As linguagens são diferentes ; música, artes visuais, cinema, literatura, escultura ;, mas o aglomerado serve para convergir interesses, harmonizar vozes. ;É difícil agregar tanta gente, cada um com suas idiossincrasias. Mas as coisas acontecem por meio de movimentos organizados;, explica Angelo Macarius, ator, compositor e poeta. Além de arregimentar moradores, os eventos do Buraco da Fechadura almejam garantir a própria sobrevivência de seus participantes, como aponta Ronaldo Ferreira, especialista em manipular tecido, madeira e outros materiais. ;Planejamos valorizar o que é local e circular por aí, criar um mercado de consumo dessa produção regional. Os empresários também deveriam ficar atentos, porque é importante investir em arte e cultura;, destaca.

Furgão musical
O coletivo Guindaste reúne cinco bandas de rock de Sobradinho (Akróz, Casacasta, Cimeria, Cultura e Mano e Darshan), num movimento que, desde junho passado, visualiza um futuro musical adequado para o surgimento de novidades. ;Os coletivos estão tendo visibilidade. Está bem bacana esse circuito de produtores e músicos independentes. A nossa proposta é circular os artistas, trazer a galera de fora para tocar aqui e levar os daqui para tocar fora;, diz Janaína Montalvão, estudante de jornalismo da UnB e produtora. Ela divide a criação do grupo com Oliver Alexandre, vocalista do Darshan. Os integrantes do Guindaste vão documentar o evento do Buraco da Fechadura: evidência de que, apesar das diferenças de idade e linguagem, a comunidade artística da cidade está unida em torno dos mesmos objetivos.

Mais do que promover o rock ou ajudar novas formações, os membros buscam alinhavar contatos com outras manifestações. ;Não queremos restringir somente à música. Estamos procurando gente para fazer poesia e dança nos intervalos dos shows, por exemplo;, conta a produtora Fabiola Ursula. Um exemplo da multiplicidade de interesses é a maleabilidade de ritmos: o Casacasta flerta com o samba, enquanto o Cultura e Mano, com a presença do rapper Fidalgo, abraça outros tipos de verso.

Elisa Rachaus, madrinha do Guindaste, sai com o Kombão Tiphereth (palavra que significa beleza, esplendor e generosidade, ela diz) pelas ruas, anunciando, em suas texturas coloridas, aplicadas por Toninho de Souza, e simbolismos roqueiros, que Sobradinho pode voltar a ser chamada de ;cidade arte;. ;É um projeto itinerante, livre de CNPJ e tem a função de incluir o artista anônimo nos palcos. Queremos também aumentar os recursos para poder expor livros, CDs e obras de artistas do DF e entorno;, planeja.


BURACO DA FECHADURA
Hoje, das 10 às 21h, no Lava a jato do Rodrigo (Setor de Indústria, Q. 1, Rua C, Lt. 8), em Sobradinho. Oficinas, shows, palestras e performances artísticas. Entrada gratuita. Classificação indicativa livre. Informações: 8609-8577.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação