Uma mocinha confessou ao artista Gê Orthof, depois de três dias de observação da performance que antecede a produção do trabalho Insulares, 1959, o quanto ficava mais feliz ao passar todos os dias pela porta da galeria. Tudo era tão colorido e atraente que virou uma terapia para ela enquanto voltava do trabalho. Gê ficou feliz. É assim mesmo que ele gosta de ver a obra recebida. E em Barcelona, essa criação parece chamar mais atenção. Insulares, 1959 inaugura a Galeria Paradigmas, um projeto do artista Chico Amaral em parceria com Angélica Padovani e João França com proposta de firmar um diálogo entre a produção artística catalã e a brasileira, com especial atenção para a brasiliense.
Insulares tem mesmo uma coleção de coisas para atrair a espanhola que andou observando Gê. Como quase todas as instalações do artista e professor da Universidade de Brasília (UnB), é cheia de miniaturas, fios, papeizinhos grudados na parede, pequeninas esculturas, trilhas a serem percorridas com olhar atento e curioso. ;O que me importa é despertar o olhar. É como se a instalação fosse uma armadilha poética. Se você não olhar para o chão e para as paredes, não vai ver. Quero sempre acender o olhar do público para o cotidiano e não para o grande evento, por isso essas miniaturas, objetos sem valor que só adquirem algum valor no espaço da galeria;, explica o artista.
As ilhas do título são flutuantes e ocupam baldes com a água do mar que banha Barcelona. Gê começou a acalentar a ideia quando decidiu fazer um trabalho com água do mar. Criou então os pequeninos decks que levam aos baldes. A instabilidade dessas ilhas flutuantes formam a base do trabalho. ;Para mim, essas ilhas são paradigmas porque o mar está dentro dos baldes coloridos. Esse espaço de instabilidade sempre me fascinou, isso está presente de maneira forte no meu trabalho. São ilhas que não são ilhas de fato. Como flutuam, são quase a disfunção de uma ilha;, avisa Gê.
Quando idealizaram a Paradigmas, Chico Amaral, Angélica Padovani e João França pensaram em um ponto de encontro no qual pudessem estabelecer pontes entre artistas residentes em lados opostos do Atlântico. A intenção é ter sempre um artista e um curador de cada país. Para Insulares, 1959, Amaral convidou Teresa M-Sala, professora de história da arte na Universidade de Barcelona. Na lista de futuros convidados, estão Elder Rocha, Ralph Gehre, Karina Dias, Daniel Burigo e Leopoldo Wolf. ;É uma oportunidade para fazer conhecer a arte brasileira, que trabalha com um registro diferente da arte catalã;, afirma Amaral. ;A arte catalã tem um cunho mais político, está sendo tocada pela coletividade e a gente vê que falta espaço para a fruição mais poética.;