Diversão e Arte

Sacha Sperling lança livro que narra vida de jovem rico e autodestrutivo

Nahima Maciel
postado em 27/05/2011 09:20
É bom desconfiar de livros como Ilusões pesadas. Um comentário rápido poderia definir a narrativa como mais um produto da juventude dourada entediada de uma Paris que não inclui imigração e periferia, ou um golpe acertado de marketing para a temporada de lançamentos literários, o momento em que acontecem os lançamentos na França. Sacha Sperling, afinal, é filho de um casal de cineastas relativamente conhecidos (cujos nomes a orelha do livro não esconde), mora na região nobre de Saint Germain, passa férias nos resorts mais caros dos países mais exóticos, só anda de táxi e frequenta os círculos de endinheirados da escola chique na qual estuda. Vem de uma linhagem que andou investindo no gênero autoficção, consumido avidamente pelos franceses, e que produziu bobagens como Hell, de Lolita Pille.

Mas Sacha sabe escrever e fez disso um instrumento para se descolar da vida levada por seu personagem, ao qual deu o próprio nome e do qual admite ser o duplo na vida real em versão menos exagerada. Ilusões pesadas agradou muito aos jovens franceses quando publicado em 2009 e não foi porque se identificaram com o mundinho de pobre-menino-rico do garoto. A adolescência de Sacha Winter, ainda que em berço de ouro, carrega as mesmas angústias, inseguranças e frustrações de qualquer garoto.

Sperling tem 20 anos, escreveu o livro aos 18, mas seu personagem tem 14 e está, basicamente, bastante empenhado em viver a vida toda em apenas um ano. O Sacha da ficção é filho de fotógrafa famosa e empresário de sucesso pouco preocupados com as atitudes autodestrutivas do menino. Afinal, não falta dinheiro, então por que haveria de faltar felicidade? Mas Sacha não faz o jogo. Sexo, drogas, muito álcool, fracasso escolar e superficialidade afetiva formam o cardápio de autodestruição. A escrita ainda vacila numa imaturidade literária que pode ser aperfeiçoada. O autor tem algumas referências consistentes ; Easton Ellis e Salinger ;, mas perde um pouco o fôlego ao tentar inserir num único livro o séquito do qual se sente devedor.

De Sacha Sperling. Companhia das Letras, 174 páginas. R$ 39Autoficção
Também é preciso lembrar que Sperling se encaixa em gênero nem sempre levado muito a sério na cena literária francesa. Não, pelo menos, pela crítica literária acadêmica. Nas editoras, o papo é outro. Autoficção vende como vinho. ;É verdade que isso é bem popular. As pessoas gostam de associar um personagem com o que ele escreveu, imaginar o cara, pensar que foi o cara que fez isso, disse aquilo, será que é a vida dele, será que não é? Há muitos autores mais tendenciosos que eu e mais ilustres também, que reivindicaram ser personagens e que hoje julgamos serem grandes autores.

Chamaríamos isso de autoficção? Flaubert disse ;Madame Bovary sou eu;. Será que era? Era certamente menos ele do que eu no meu livro, mas tudo isso em certo momento é mais uma linguagem de editora e jornalistas que precisam classificar tudo;, diz Sperling.

Jogar com o verdadeiro e o falso virou um prazer na mão do escritor e Ilusões pesadas revela algo sobre como os próprios adolescentes encaram suas experiências. ;Não posso dizer que tive uma adolescência assim, mas escrevi um livro inspirado em certos momentos de minha vida. É exagerado, romanesco, extremo e esse era o objetivo;, garante.

;Os adolescentes são mais ou menos os mesmos de ontem, e talvez um pouquinho diferente dos de amanhã, mas os temas são os mesmos, as angústias são as mesmas. Acho que há um pouco de mitos e fantasmas em torno das novas gerações, essa história de que seriam talvez mais cruas, mais violentas, radicais e diretas, que querem tudo e agora, mas acho que a adolescência é isso, um momento pelo qual todo mundo passa mais rápido ou mais devagar, mais ou menos bem, mais ou menos intacto.;

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