Diversão e Arte

Julianna Barwick transmite sussurros e ruídos eletrônicos em disco

postado em 27/05/2011 09:28

Julianna Barwick tem a voz como principal instrumento testado ao limite no segundo álbum, The magic place;Se eu tivesse que descrever a minha música para alguém que nunca a ouviu antes, diria que é feita principalmente de voz e várias camadas, harmonias e arranjos de coral;, descreveu Julianna Barwick ao portal Spinner. Nascida em Louisiana, mas atualmente residindo no ruidoso bairro do Brooklyn, em Nova York, ela funde ecos vocálicos esparsos com massas sonoras eletrônicas, numa profusão de timbres vertiginosos. O instrumento de Julianna é a própria voz, testada aos limites em seu segundo álbum, The magic place.

As noves canções criam uma atmosfera de quietude e serenidade, forjada por um coral repetitivo, de hinos entoados por uma só boca. Julianna replica o que sai das cordas vocais em meio a acessórios eletrônicos, sem soar distante ou fria. Solitária, sim, mas longe de ser melancólica.

O hinário indie da cantora possui mais referências memoriais do que musicais: lembranças de ter pisado em descampados macios no verão, durante a infância em Louisiana e Missouri, e as experiências em igrejas cristãs, os cantos espirituais rebatendo em paredes e vitrais. ;Ia à igreja três vezes por semana. E também tínhamos fitas de música. Minha mãe era de um grupo musical itinerante, e eles se apresentavam em a capela. Minha igreja não tinha instrumentos. A percussão era com as palmas. Todas as canções eram entoadas pela congregação;, contou ao portal.

Discreto, mas com algo de transcendental, The magic place é menos exigente do que parece: ondulações oníricas equilibradas por poucos acordes de baixo e piano, com elevações sutis, quase imperceptíveis. Julianna sempre cantou. Estudou ópera depois do ensino médio, inscreveu-se em shows de talentos, mas, mesmo envolvida em várias atividades, ainda não sabia muito bem por onde começar. Até que pegou um gravador emprestado com um amigo, empunhou uma guitarra e começou a gravar espontaneamente. Quando se mudou para Nova York, passou a experimentar ainda mais com guitarras e pedais. E, finalmente, conseguiu o som ideal: ;É como meu cérebro trabalha. Eu amo gradações de voz com efeitos sonoros;.

Ambientação espiritual
O disco, lançado pela Asthmatic Kitty, selo de Sufjan Stevens, inundou a agenda de Julianna. Ela tem compromissos marcados até setembro e, até lá, vai dividir o palco com Fleet Foxes e Toro Y Moi. A música ambiente de orquestrações mínimas e aclimatação pastoral se espraia em Magic place sem esbarrar na redundância, apesar de as estruturas se irmanarem: versos angelicais e idioma puramente sensorial. Num registro tão homogêneo, é penoso escolher destaques. Como o The Antlers em Hospice, há dois anos, ela prefere o impacto de um álbum inteiro à febre instantânea de um single.

Em White flag, um murmúrio cíclico é abastecido de vibração, com cantos delicadamente tribais e marcações graves. Vow, a faixa seguinte, começa com jeito de Sigur Rós ; piano agudo ;, mas depois assume-se como um coro alegremente ininteligível. Com loops etéreos, Julianna faz o tempo correr mais devagar, numa frequência desapressada. Como se pedisse calma aos ouvidos alheios.

Ouça "Bob in your gait", interpretada pela artista Julianna Barwick

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação