Diversão e Arte

Falta de planejamento deixa a sala Villa-Lobos com graves problemas

Nahima Maciel
postado em 31/05/2011 08:44
Num rápido giro pelo site de grandes palcos, como o Theatro Municipal, do Rio de Janeiro; o Teatro Castro Alves, de Salvador; ou o Guaíra, de Curitiba, o público pode se programar para espetáculos até junho. No caso do Municipal do Rio, a agenda está disponível até 18 de dezembro. Em Brasília, ao contrário, a pauta do Teatro Nacional Claudio Santoro sofre de inconstância e incertezas. O internauta dificilmente vai descobrir a que montagens poderá assistir, em junho, porque tudo pode mudar a qualquer instante, uma condição que fragiliza o teatro e dificulta o acesso de turistas eventualmente interessados em programação cultural na capital. Se a Copa do Mundo fosse em 2012, seria impossível um visitante de passagem pela cidade programar uma ida à Sala Villa-Lobos. Até abril passado, nem mesmo a Secretaria de Cultura sabia a agenda do mês que começa amanhã.

A incerteza começou a ser gerada no ano passado, quando a Secretaria publicou, mas mal divulgou, o edital de abertura de pauta para a programação de 2011. A atual subsecretária de Eventos, Fátima de Deus, acredita que o concurso foi abafado pelas notícias e investigações da Caixa de Pandora e pela troca de secretário de Cultura, por isso o número de inscrições teria sido muito baixo. O resultado foram os buracos na pauta disputados ferozmente pelos produtores da cidade e a indignação quanto à reserva de datas arquitetadas por alguns profissionais, com espetáculos sem confirmação do artista ou com agenda marcada para outros países nos dias teoricamente reservados para Brasília.

Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro tem pauta confusa e inconsistente para 2011O edital prevê tempo máximo de 15 dias entre a divulgação do resultado dos espetáculos selecionados e a assinatura de um termo de permissão de uso que firma o contrato entre o produtor e a Secretaria de Cultura. Mesmo após oito meses de publicação do edital, há datas reservadas para espetáculos que não acontecerão. É o caso, por exemplo, da apresentação do conjunto Voca People, agendada para 16 de outubro, data em que se apresenta no Teatro Bobino, em Paris, e do tcheco Image Black Light Theater, cujos organizadores nunca cogitaram estar no Brasil no mesmo mês, data com a qual a BSB Agência de Produção de Eventos concorreu ao edital. ;O Black Theater teve um problema com a turnê mundial e, nesse caso, não é responsabilidade nossa. A gente faz um pedido de reserva na pauta. Se acontecer algum imprevisto com o artista, o produtor não tem condições de trazer. Marcamos Voca People para outubro, mas ainda não sabemos se eles vêm;, explica o produtor Jaime Carneiro.

João em silêncio
Imprevistos não são a regra, mas acontecem mesmo em teatros com temporadas fechadas para o ano inteiro. O importante é que isso seja organizado para não prejudicar o público e deixar buracos na agenda. Na pauta do Teatro Nacional, há pelo menos três espetáculos não confirmados para a Sala Villa-Lobos e dois cancelados na programação até outubro. Jorge Giral, da Giral Produções, reservou pauta para shows de Almir Sater, em agosto, e João Gilberto, em setembro, mas já sabe que o primeiro não poderá vir na data prevista e ainda não obteve confirmação do segundo. ;O edital foi feito com muita antecedência e ficam buracos na pauta;, explica Giral. ;Já pedi para cancelar. É um equívoco da Secretaria.; Também não está confirmado o espetáculo Adorno, da companhia mineira Primeiro Ato, agendado na pauta para agosto.

Regina Moura, produtora da companhia, diz que só confirma a apresentação quando assinar o contrato com o Teatro Nacional, mas até hoje a Secretaria de Cultura não enviou os documentos. ;Isso não pode acontecer;, avisa Fátima de Deus, subsecretária de eventos. ;O produtor quer trazer o espetáculo e, quando vai para o edital, quer levar uma pauta que encha os olhos das pessoas que fazem a seleção. A gente pede uma carta de anuência do artista dizendo que tem disponibilidade para estar em Brasília, no Teatro Nacional, naquele momento e parece que deixaram passar isso. Não estava aqui, não posso fazer críticas de uma licitação pública da qual não participei, mas que a lei diz isso ,diz;, justifica.

O empresário Steffen Dauelsberg, proprietário da produtora Dell;Arte, explica que a reserva de pauta é uma maneira amadora e antiga de trabalhar com espetáculos. ;Espetáculo anunciado é espetáculo realizado;, garante. ;Existiu no passado essa cultura de trancar a pauta e anunciar shows incríveis e não ter certeza da realização. O Brasil não está mais nesse momento e isso depende da seriedade de cada um.; Dauelsberg criou a Dell;Arte há 30 anos e costuma ser responsável por turnês internacionais de companhias como Kirov e grandes orquestras. Neste ano, o produtor é responsável por trazer a Brasília a Companhia Antonio Gades e Pilobulus Dance Theater, que acabou de se apresentar no último fim de semana.

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