postado em 01/06/2011 10:24
O ataque terrorista ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, costuma despertar reações em escala mundial. Mas o escritor João Paulo Cuenca decidiu mudar o foco e usar a tragédia como pano de fundo para sua estreia na dramaturgia. A peça Terror ganhou a direção de Pedro Brício e será encenada de hoje a sábado, às 19h; e domingo, às 18h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). ;É um tema meio espinhoso, mas já pensava em escrever sobre isso. É um dos meus assuntos recorrentes: até que ponto somos capazes de representar o amor e a tragédia.Tentamos o tempo todo dizer o que não se consegue falar;, explica Cuenca. O espetáculo encerra a programação do projeto Nova Dramaturgia Brasileira, que propôs um intercâmbio entre escritores e diretores teatrais da nova geração brasileira.
O texto, encenado pelos atores João Velho e Nina Morena, conta a história de um casal de amantes que acorda no Rio de Janeiro e liga a televisão. Acompanha, ao vivo, o ataque comandado pelo terrorista Osama Bin Laden, que culminou com a queda das Torres Gêmeas. Seria um acontecimento menor na vida dos dois, não fosse o fato de que a amante vive com o marido em Nova York e tinha passagem de volta marcada para o dia seguinte. O atentado muda a relação e os planos da dupla. ;Esse evento inaugurou o século. Ficou muito mais difícil escrever ficção depois daquele dia, porque tudo ficou possível. A realidade foi mais espetacular do que qualquer ficção que a gente tente produzir;, acredita Cuenca.
Ele admite que enfrentou dificuldades para produzir o texto teatral, mas conseguiu driblá-las. ;Sou da prosa, só agora estou botando diálogo na boca das pessoas. Quando você escreve para o teatro, tem que ter a generosidade de deixar espaço para o ator, o diretor, a luz e todos os outros elementos cênicos. No livro, você ocupa todos os espaços;, reflete o autor de três livros e um dos dramaturgos por trás da série Afinal, o que querem as mulheres?, exibida pela Rede Globo, no ano passado.
Mistura de camadas
Nas mãos de Pedro Brício, diretor com sete peças no currículo e ganhador do prêmio Shell de melhor autor, pela peça A incrível confeitaria do Sr. Pellica, Terror ganhou um tom menos realista. ;Não é uma reflexão política ou sobre o próprio 11 de setembro. Poderia ter sido em qualquer tragédia. A peça não se passa tanto no campo do real. Misturei camadas. Em alguns momentos, as coisas parecem projeções, invenções, memórias. Quis deixar um pouco mais aberto;, explica. O original de Cuenca tinha uma preocupação com o tempo: a ação se passaria em torno de 50 minutos, em tempo real, período que separa a queda das duas torres do edifício. Em sua adaptação para o palco, Brício deixou a noção de tempo mais difusa. ;Mas não mudei radicalmente, são pequenos voos;, afirma.
Nina Morena já havia sido escalada para o elenco de sua peça vencedora do Shell, mas o ator João Velho é estreante em produções de Brício. ;É um ator bacana, tem humor e despojamento;, avalia. Juntos, contracenando em um cenário que reproduz um apartamento decorado com folhas esvoaçantes, eles dão um clima naturalista na interpretação. ;O grande atrativo da peça é o jogo dos atores, uma interpretação intimista, um pouco distanciada e com momentos mais intensos. Quando li o texto, tentei não criar coisas que não eram da peça. Tentei ser delicado pra não forçar a barra, a criação está no trabalho de atores;, conta Brício.
TERROR
Texto de João Paulo Cuenca. Direção de Pedro Brício. Com João Velho e Nina Morena. De hoje a sábado, às 19h, e domingo, às 18h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB ; SCES Trecho 2, lote 22 ; 3310-7087). Ingressos a R$ 15 e R$ 7,50 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.