Diversão e Arte

Autora de Os cafajestes revela que machões lhe deram o sucesso de bandeja

postado em 03/06/2011 10:33

Aninha Franco, autora de Os cafajestes, terá dois livros lançados, em outubro, pela Editora DulcinaOs cafajestes já estava em sua gloriosa primeira montagem, em meados dos anos 1990, com fila espetacular nas portas dos teatros, quando uma senhora distinta comentou, com ar de quem deu o xeque-mate: ;Só uma mulher tinha condições de ter escrito essa peça;. Se a autora Aninha Franco ouvisse o comentário, abriria um sorriso de orelha a orelha. Desde que se entende como um ser pensante, ela ficou, incontáveis vezes, diante de frases e ações que reduziam o universo feminino a pó de blush. Algumas vezes rebateu, noutras arquivou em algum canto da memória. Até nascer o estalo de jogar tudo no palco, num formato agradável de musical e na boca ferina dos homens.

; Os machões me deram o material de Os cafajestes. Cada comentário, cada detalhe, cada pulo do gato.

Eu não escreveria sem eles. Mas acho difícil que eles escrevessem sem uma mulher, conta.

Dezessete anos depois, com outra montagem que circula o país e chega hoje a Brasília, no Teatro dos Bancários, Os cafajestes é um dos fenômenos do teatro baiano que rompeu fronteiras. Vista por 250 mil pessoas, a primeira versão faturou prêmios (o extinto Sharp) e projetou nacionalmente o elenco, sobretudo, Daniel Boaventura ; atualmente, um dos principais intérpretes de musicais do país (ele fez Chicago, My fair lady e A Bela e a Fera).

; Em 2000, um grupo catalão comprou os direitos pra montar em Barcelona e eu percebi que era um sucesso duradouro. Levei dois amigos italianos, os artistas Fiorella Mannoia e Carlo, para assistir à montagem atual e eles pediram o texto e a fita para levar a Roma. Comecei a desconfiar que será um clássico enquanto a aldeia planetária for machista.

Essa percepção surgiu nos ensaios da primeira montagem. Aninha Franco acompanhava o processo de criação do diretor Fernando Guerreiro (que assina também a atual versão) quando os atores reclamavam do texto. Achavam que era excessivamente machista e sentiam vergonha de dizer aquelas ;barbaridades;. Ali, diante daquele impasse, a dramaturga viu que a peça seria um sucesso. Feliz com a remontagem ; que já foi vista por 20 mil pessoas ;, Aninha Franco experimenta o estado de êxtase com a reabertura do Theatro XVIII, no coração do Pelourinho. Administrada por artistas, como Rita Assemany, a casa de espetáculos enfrentou problemas de repasse de verba pública na primeira gestão do governo Jacques Wagner, tendo que fechar as portas.

; O Theatro XVIII, o Dezoitão, é um caso único de pertencimento cultural popular. O povo se sente dono do teatro. A mídia ama o XVIII. Mas o XVIII, como todos sabem, é anarquista e perigoso, então...

Pensadora, provocadora e autora de grandes sucessos do teatro nacional, como Oficina condensada (1992), Aninha Franco atualiza a obra O teatro baiano através da imprensa, na qual constrói a trajetória dos palcos por meio de análises de jornais em todo o século 20. O livro será publicado pelo Editora Dulcina (braço da Fundação Brasileira de Teatro/FTB), além de uma obra que registra parte da dramaturgia da autora.

; Queremos lançar em outubro esses dois livros. Estou indo para Salvador para acertar os detalhes com Aninha, conta Augusto Brandão, que comanda a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes e hoje estará na plateia de Os cafajestes.

OS CAFAJESTES
Texto: Aninha Franco. Direção: Fernando Guerreiro. Com Daniel Rabello, Kadu Veiga e Rafael Medrado. Hoje e amanhã, às 21h; domingo, às 20h, no Teatro dos Bancários (314/315 Sul; 3262-9090). Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia). Assinantes do Correio têm 50% de desconto na compra de ingresso inteiro (cupom Sempre Você). Não recomendado para menores de 14 anos.

Assista ao vídeo com trecho da peça

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