Diversão e Arte

Segundo disco da banda Los Porongas reflete vivências da banda em São Paulo

Correio Braziliense
postado em 03/06/2011 10:56 / atualizado em 30/09/2021 15:37

O quarteto apresenta um disco mais pop do que o anterior, com canções inspiradas em amores e desconfortosO estranhamento foi o fio condutor de O segundo depois do silêncio, o segundo disco da banda acriana Los Porongas. A afirmação é do letrista e vocalista do quarteto, Diogo Soares. Nos primeiros anos vivendo em São Paulo, onde os músicos estão radicados desde 2007 (quando foi lançado o álbum de estreia), eles se sentiam estranhos na cidade. Também não se sentiam mais tão à vontade em Rio Branco. O desconforto, diz o vocalista, tem muito a ver com a expectativa e a opinião dos amigos e das pessoas ligadas ao universo da banda. “Isso inspirou muitas letras ou trechos delas”, comenta Diogo.

Amores, desamores, mágoas e a própria relação dentro da banda também serviram de inspiração para as canções. O que o grupo apresenta em O segundo depois do silêncio é um retrato em preto e branco dessas situações. Ao mesmo tempo, existe um colorido nas músicas que não se encontrava nos arranjos do CD anterior. Comparando os dois trabalhos, Diogo encara o primeiro como mais básico, cru: “No segundo, houve a vontade de fazer um disco mais acessível, mais palatável e isso ajudou na hora de dar forma às canções”.

Ao conjunto guitarra, baixo e bateria — executados, respectivamente, por João Eduardo, Márcio Magrão e Jorge Anzol — juntaram-se metais, piano, órgão e viola caipira. “O desafio foi fazer um disco mais pop sem deixar de experimentar e, principalmente, sem perder nossa assinatura. Acredito que o primeiro foi o que conseguimos fazer e o segundo, o que queríamos fazer”, define Diogo.

O segundo depois do silêncio conta com a participação de vários amigos. Alguns deles, assim como os Porongas, músicos de outros estados vivendo em São Paulo — caso de Hélio Flanders, da cuiabana Vanguart, e Carlos Eduardo Gadelha, da cearense O Jardim das Horas. Gadelha, aliás, divide com o guitarrista João Eduardo a produção do álbum.

E se a preocupação da banda era não perder sua assinatura, missão cumprida. As principais características que transformaram o Los Porongas na maior manifestação pop do Acre continuam presentes. O entrosamento instrumental do trio Magrão, Anzol e João Eduardo continua afiadíssimo. Os dois primeiros mantêm a cozinha coesa e deixam bastante espaço para João brilhar com riffs e solos expressivos. As letras de Diogo dizem bem mais do que as palavras sugerem e a interpretação do vocalista ainda é um dos pontos fortes do quarteto.

Ciclo
A temática do repertório do álbum pode ser encarada como um ciclo, que começa com o estranhamento da vida na selva de pedra e termina com o alívio que vem com a experiência. “No lugar de onde nunca vim/ Que amigos já não sei quem são (...) Se meu lugar ainda está aqui? Que amores ainda serão?”, pergunta Fortaleza, a faixa de abertura. Por sua vez, Longo passeio, que fecha o disco, vai de “O mundo é bem mais que o seu quintal”.

A experiência adquirida pelos Porongas vai além da adaptação a uma nova cidade. Hoje, Diogo diz que vê o meio musical com outros olhos. “Há seis anos, a névoa do mito do glamour de outrora era mais espessa. As pessoas estão se conectando e isso vai construindo caminhos. Ainda acho que o sonho é a grande moeda de troca que permite a valorização da estrutura em detrimento da valorização do trabalho do artista. Pode estar longe, mas acredito que aos poucos as distorções, os equívocos e o tamanho do universo independente vão dar lugar a um ambiente que sustente carreiras. E para isso acontecer, o foco tem que ser a arte.”


LOS PORONGAS
A banda está lançando O segundo depois do silêncio, produzido por Carlos Eduardo Gadelha e João Eduardo. Baritone Records, 12 faixas. Download em http://losporongas. baritonerecords.com.br. ****

 

Ouça música Sangue novo

 

Ouça música Silêncio

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