Mais do que mercadorias, a Feira do Troca, em Olhos D;Água, a 80km do Plano Piloto, reúne histórias. Em sua 76; edição, a feira ; que é realizada duas vezes por ano na cidade goiana ; levou cerca de 10 mil pessoas, de sexta a domingo, ao gramado em frente à igreja de Olhos D;Água. Quem chegava podia encontrar artesanatos, acessórios, doces, cabaças e até salão de beleza. Teatrinho de bonecos, música, catira e brinquedos infláveis fizeram a festa de quem acordou cedo para curtir tudo de perto.
Moradores de Brasília, Goiânia e cidades vizinhas levam roupas, sapatos, acessórios e utilidades domésticas em bom estado de conservação e tratam diretamente com os expositores. O negócio é bom para os dois lados. Quem vem de fora deixa produtos úteis para os artesãos e leva para casa esculturas, cerâmicas, tapetes, bonecas, caminhos de mesa, chapéus e bolsas, entre outros trabalhos.
[FOTO1]O crescimento da festividade é nítido. A professora Nilva Belo, que ajudou a agregar programações culturais ao evento, orgulha-se do resultado. ;Hoje, a Feira do Troca é uma forma de divulgação da cidade. Muitas passaram a investir em casas e chácaras depois de terem conhecido a feira. Essa é a oportunidade para mostrar o trabalho cultural e social de Olhos D;Água;, afirma.
O importante na troca é a satisfação de ambas as partes. A designer de moda Patrícia Pinheiro, por exemplo, trabalha com uma comunidade de Pirenópolis que vive do cultivo do algodão. Geralmente, ela vai à feira para trocar roupas por instrumentos de trabalho. No domingo, saiu de lá sorridente, com uma roca de fiar. ;Essa roca significa mais uma fonte de rentabilidade para as mulheres de Pirenópolis;, conta.
O troca-troca segue no ritmo das necessidades. No fim, a tranquilidade dá lugar à correria. Ninguém quer voltar para casa com as mesmas coisas. Passando pelas barracas e pelos panos estendidos no chão, os comerciantes querem mesmo é fazer negócio. ;As trocas não funcionam tanto como antigamente, mas ainda é possível conseguir boas coisas, principalmente roupas e sapatos;, conta o artesão Lourenço Silva, morador de Olhos D;Água, pai de quatro filhos. ;Conheço a Feira do Troca há muitos anos. Hoje, apesar de ter se modificado um pouco, ela ainda é muito boa;, elogia Rezone da Silva, servidora pública de 45 anos.
O início
A ideia de trocar os bens de consumo veio de dois professores que adotaram a cidade como lar: Laís Aderne e Armando Faria Neves. ;A Feira do Troca é mais do que uma atração turística. É o crescimento da economia e a valorização do trabalho local;, diz Armando. Eles foram para lá no início dos anos 1970, e como faltava tudo para a comunidade, levavam de Brasília doações de gente da alta sociedade. ;Como o objetivo era doar, mas sem parecer caridade, nós pendurávamos tudo em um grande varal e recebíamos em troca um tapete, um caminho de mesa, o que as pessoas pudessem dar;, explica o professor.
Pouco tempo depois, tudo funcionava mais ou menos assim: se um produzia feijão e o outro tinha abóbora, era feito o escambo. Se uma artesã tecia uma coberta ou um pano para calça, trocava por um saco de farinha. Assim, a comunidade atendia suas necessidades. Vendo isso, Laís idealizou a feira para chamar a atenção de um novo público e ampliar o mercado de trocas. Ela incentivou a criação da Associação de Artesãos, que mais tarde viria a assumir a direção do evento. Surgia, então, em 1974, a primeira feira, unindo duas práticas tradicionais na região: o escambo e o artesanato.