Diversão e Arte

Ben H. Winters lança remake de romance da escritora Jane Austen

postado em 08/06/2011 10:25

Jane Austen nunca foi tão pop. Seus livros são alvos usuais de adaptações do cinema e da tevê há décadas. Também são os preferidos dos chamados remixes (ou mashups) literários. Seth Grahame-Smith começou a onda de modernizar clássicos da literatura em 2009, com Orgulho e preconceito e zumbis: as irmãs Bennet, em vez de frágeis moças à espera dos maridos ideais, são exterminadoras de mortos-vivos, na paródia sangrenta que não desrespeita a estrutura original. Ben H. Winters, americano de Boston, intrometeu-se em outra obra conhecida da autora inglesa e lança no Brasil Razão e sensibilidade e monstros marinhos (Intrínseca). Outro remake do escritor, que ainda não chegou às livrarias nacionais, inscreveu Lev Tolstói numa ficção científica: Androide Karenina.

Winters subverte romance de Jane Austen, escrito no século 19, em paródia com terríveis criaturas marinhas;É uma ideia muito simples e poderosa: o que acontece quando você pega uma coisa que todo mundo considera ;séria; e ;importante; e acrescenta a ela os elementos mais bobos, ridículos que você pode pensar? Como polvos mortais, águas-vivas assassinas, e piratas mesquinhos? Comédia, certamente, mas também um frescor e uma maneira de se engajar novamente com um clássico;, conta Winters ao Correio, em entrevista por e-mail.

O romance, como pretendeu Jane no século 19, narra as vidas em constante metamorfose das jovens Elinor e Marianne Dashwood, obrigadas a deixar Norland Park após a morte do pai e rumar para Devonshire. Numa casa apertada e desconfortável, as irmãs vivem as agruras e as alegrias de um cotidiano agitado por romances, intrigas e fofocas ; e aberrações ameaçadoras saídas das profundezas do mar.

Mix de gêneros
Segundo o ;parceiro; da britânica, a narrativa mashup é mais do que entretenimento. ;Acho que tem um valor mais profundo. Quando pegamos algo que achamos que conhecemos e entendemos, e brincamos com isso, saímos com um entendimento mais profundo do original, uma noção melhor do que o torna não especial, tão duradouro;, diz.

O processo de aproveitar cenários e personagens criados há duas centenas de anos e, a partir dos conceitos matrizes, encaixar assustadores seres marinhos, é trabalhoso. ;Tudo começa com cartões anexos. Para cada capítulo do original, fiz várias anotações sobre a aparência dos personagens, como a trama avança, e ideias para mudanças relacionadas a monstros marinhos. Quis ter certeza de que entendi inteiramente o livro antes de começar a escrever minha versão;, comenta.

O exame de Jane sobre família e sociedade, com uma ironia que resistiu à passagem do tempo, recebe de Winters uma chacoalhada de proporções cinematográficas, num desequilíbrio absurdo ; e às vezes exagerado ; de drama de época, fantasia e terror. Para ele, as liberdades tomadas não profanam a fonte. ;O elemento chave foi o estilo da prosa. Se eu conseguisse encontrar um jeito de usar a voz de Jane Austen para expressar essas coisas horríveis e ridículas, então eu estaria com metade da missão cumprida;, interpreta.


RAZÃO E SENSIBILIDADE E MONSTROS MARINHOS
De Ben H. Winters e Jane Austen. Tradução: Maria Luiza Borges. Intrínseca, 320 páginas. R$ 29,90.

Leia trecho do livro:

Capítulo 1

A família Dashwood estava estabelecida em Sussex desde antes da Alteração, quando as águas do mundo se tornaram frias e abomináveis para os filhos do homem, e as trevas se moveram sobre a superfície dos oceanos.

A propriedade dos Dashwood era vasta, e a residência se erguia em Norland Park, exatamente em seu centro, a várias centenas de metros da linha das costa e rodeada por tochas.

O dono anterior dessas terras era um homem solteiro, que vivera até muito avançada e que por muitos anos e sua vida teve na irmã uma fiel companheira e governanta. A morte dela veio de surpresa, dez anos antes da sua; ela batia roupa numa pedra que revelou ser o exosqueleto camuflado de um imenso crustáceo, um caranguejo-ermitão estriado do tamanho de um pastor-alemão. O animal enfurecido afixou-se ao rosto da mulher com um efeito previsivelmente lamentável. Enquanto ela em vão rolava na lama e na areia, o caranguejo a feria mais e mais, sufocando-lhe a boca e as vias nasais com sua estrutura cutâneo-mucosa. Sua morte ocasionou grande alteração no lar do idoso Sr. Dashwood. Para compensar essa perda, o velho homem convidou e recebeu em sua casa a família do sobrinho, o Sr. Henry Dashwood, herdeiro legal da propriedade de Norland e a pessoa a quem pretendia deixá-la.

Henry tinha um filho de um casamento anterior, John, e três filhos da atual esposa. O filho, um jovem equilibrado e respeitável, fora amplamento aquinhoado pela fortuna da mãe. A herança da propriedade de Norland, portanto, não era tão importante para ele quanto para suas meias-irmãs; como a mãe delas nada tinha, sua fortuna dependia de que seu pai herdasse a propriedade do velho cavaleiro que um dia lhes seria transferida.

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