postado em 10/06/2011 10:08
O surgimento do duo Cults, em Nova York, é muito parecido com o dos londrinos do The Vaccines. No ano passado, causou comoção nos primeiros ouvintes com o hit Go outside ; sensação de blogueiros indies mundo afora. Mas a identidade da dupla permanecia numa aura de mistério: do Brooklyn e com um som nostálgico, um noise que conecta timbres dos anos 1960 e 1990, o casal Madeline Follin e Brian Oblivion lançou, ainda em 2010, três músicas no portal Bandcamp. E, antes que o burburinho perdesse fôlego, assinou com a gigante Columbia (casa dos Vaccines), gravando disco homônimo pela In the Name Of, selo criado pela cantora inglesa Lily Allen.A alcunha (cult) pode denunciar frivolidades de hipster, e o visual de universitário/músico, comportamento afetado de quem gostaria de ter nascido há mais de quatro décadas, um saudosismo ilegítimo. A sonoridade, porém, desarma estereótipos precipitados: os dois, ambos com pouco mais de 20 anos, são da Califórnia e foram estudar cinema em Nova York. A música não começou como atividade completamente despretensiosa. Brian Oblivion ; nome emprestado de um personagem do filme Videodrome, de David Cronenberg ; conheceu Madeline enquanto gerenciava a banda Willowz, do irmão da cantora.
O EP Cults 7; ; um trio de faixas que explodiu com a força de um disco inteiro ; abriu caminho para um sucesso espontâneo, desses que se espalham na internet sem o conhecimento do próprio artista. A estreia em álbum, que chegou às lojas dos Estados Unidos nesta semana, captura o espírito inconsistente da dupla. ;Nós queríamos fazer um disco para o nosso lado adolescente, para meninos mal comportados, hinos de desapontamento, rebeldia e ansiedade;, contou Oblivion à revista Time Out New York. ;Todas as canções mais tristes que conheço são mascaradas de felizes. Acho que as coisas têm mais impacto desse jeito, quando existe uma natureza ambígua;, observou.
Gracioso e angustiado
A dupla personalidade dos Cults, inscrita num estado sentimental indeciso, ora leve, ora devastado, combina o pop grudento de duas décadas: guitarras e vocais melodiosos dos anos 1960, e ruídos lo-fi dos anos 1990. A voz de Madeline é abastecida de arranjos de piano e xilofone, e a sensação deixada por acordes e vozes é de um twee pop feminino menos delicado e gritante do que de costume ; quase um encontro entre My Bloody Valentine, The Cardigans e Best Coast.
Abducted, que ganhou videoclipe oficial, abre o álbum com a sinceridade de emoções dilaceradas: ;Ele levou meu coração embora e me deixou sangrando, sangrando;. A sequência, Go outside, quebra o lamento com versos igualmente cortantes: ;Eu realmente quero sair e parar de observar o seu dia;. O arco que concentra o melhor de Cults é fechado com uma balada retrô e charmosa. ;E eu não consigo dormir sozinha à noite / Sim, você sabe o quero dizer;, Madeline desabafa no refrão. Em outros momentos, nota-se a versatilidade de Oblivion no comando da guitarra. Em Oh my god e Rave on, ele despeja simplicidade em ecos e reverberações ; virtudes do pop sessentista.
Adocicado e amargo, o rock do Cults compila arroubos adolescentes de ternura e aflição, em 11 canções que, apesar das referências, não soam como homenagens artificiais a épocas passadas. Cabecinhas juvenis, de quem ainda aprende a conviver com dias bons e ruins, parecem ser a real motivação desses estreantes.
Se gostou, ouça
Givers
; O grupo de Louisiana tem a cara de um novo Vampire Weekend, com um line-up sorridente e multi-instrumental. Estreou em
2011 com o álbum In light. Conheça em www. myspace. com/givers/music.
Vondelpark
; O trio londrino é de temperamento crepuscular e foi comparado a The Weeknd e The xx. Lança seu segundo EP, nyc bags and nyc stuff, em julho. Conheça em www. viceland.com.
Leopard of Honour
; Com apelido em homenagem à canção homônima do Destroyer, o inglês David Roocroft remixa Toro Y Moi e How to Dress Well e atualmente trabalha em EP autoral (e gratuito). Conheça em www.myspace.com/leopardofhonour.
CULTS
Conheça o casal de Nova York em www.myspace. com/cultscultscults. O disco homônimo, com 11 faixas, é um lançamento da In the Name Of/Columbia. Importado.****