Luis Turiba
postado em 12/06/2011 08:00
Rio de Janeiro ; Ao descer do avião, respire fundo. Curta de entrada o frescor do ar carioca. Sinta a temperatura amena e a diferença flagrante entre o início de seca brasiliense, em que o nariz endurece, os olhos se irritam e os pulmões reclamam, e o outono do Rio de Janeiro, com dias lindos e a brisa da Mata Atlântica nos invadindo de oxigênio. Ed Mota tem razão: é muito mais gostoso do que aquele verão brabo de 40 graus, a nos queimar os fundilhos.Chove de vez em quando e até faz um friozinho agradável depois das seis. Mas ninguém deixa de pegar um solzinho na praia pela manhã, ir aos pontos turísticos à tarde e à velha e sonora Lapa à noite. Não tem como fugir desse triângulo dos com e sem bermudas. As escolas de samba ainda estão nos trabalhos internos, escolhendo seus enredos, portanto, fora do cardápio.
Corcovado, Pão de Açúcar e Museu de Arte de Niterói são lugares quase que obrigatório para qualquer turista que venha ao Rio. Não seria diferente para os brasilienses. Mas dá para buscar variações e novas aventuras, gastando até um pouco menos.
Depois de respirar e se acomodar em hotel ou casa de amigos, pense em que favela você quer subir. Sim, não dá para vir atualmente ao Rio sem visitar uma comunidade, fazer o teste da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), andar por vielas estreitas, ouvir funk na base, ser guiado por meninos do lugar e se possível almoçar lá, beber cerveja numa birosca e conhecer a cidade lá de cima, do morro, onde o galo canta um pouquinho mais alto, mas civilizadamente. O visual é indescritível e o passeio ficará para sempre em sua mente.
Uma boa dica é subir o Morro do Cantagalo. Vá de Metrô até a estação Ipanema ; Praça General Osório, última da Zona Sul ; e de lá se informe sobre o elevador que o levará até o Mirante da Paz. Sem grilo, sem estresse, sem medo. Seja comunicativo com os moradores, que adoram receber visitantes, dar informações sobre o lugar e indicar alguma birosca ou pensão que você possa almoçar ou lanchar.
Opções para bons almoços não faltam. Sugiro um no Centrão, na inesquecível e centenária Confeitaria Colombo, na Rua Gonçalves Dias. É esplendoroso, um luxo só almoçar ao som de um piano clássico em dos lugares mais glamorosos do Rio. Se o glamour não é o seu forte, aconselho almoçar no japonês Gohan, no alto da Lapa, Rua Joaquim Silva, quase debaixo dos Arcos que levam à Santa Teresa. Arroz integral e peixe, bom e barato.
Belas opções
À noite, o velho e bom Lamas, no Flamengo, é sempre uma pedida. Ou Da Silva, no Rio Designer, no Leblon; ou Cervanjes, no início da Barata Ribeiro. Planeje uma caminhada pela Ataulfo de Paiva, no Leblon, pois você pode até encontrar o Zeca Camargo tentando ;exmagrecer;, como diria o filósofo Dr. da Cuíca. Agora, por favor, não deixe de ir ao Belmonte e saborear um chopp black com uma empada aberta. Tem no Leblon, em Ipanema, Botafogo e também na Lapa. O chopp é inigualável, dissolve na boca deliciosamente.
O Belmonte da Lapa é no olho do buchicho, passagem obrigatória pelo velho bairro boêmio de Noel Rosa ; refiro-me à esquina mágica deaRua Mem de Sá com Lavradio. Nesse cruzamento ficam o Bar da Boa, o Antônius Bar e o Garrafas. Quatro belas opções para início da noitada. Um pouco à frente a casa de show Carioca da Gema, de segunda a segunda tem boas opções de samba e choro, mas de preferência vá numa terça-feira ouvir Paulão Sete Cordas e sua banda, que dão aulas sobre mestres do samba, ou quarta-feira, quando Makley Matos expõe seu vozeirão até altas madrugadas. Seguindo pela Lavradio, você pode curtir e dançar à vontade na Rio Scenarium, perto da Praça Tiradentes, onde fica a gafieira Estudantina. Ufa!
Exposições
Fora desse circuito boêmio imperdível, há sempre excelentes exposições no CCBB, no Complexo da Caixa, e nos Correios. Atualmente, a RioFoto 2011, evento coordenado pelo professor Milton Guran, está ocupando as grandes galerias com belíssimas exposições fotográficas. As fotos invadiram as paredes, os salões e até os shoppings. Uma excelente mostragem pode ser vista no Espaço Hélio Oiticica, na Rua Luís de Camões.
Outro lugar mágico que você deve colocar na sua agenda carioca é o Theatro Municipal, totalmente reformulado com suas coberturas de ouro brilhando como o sol do fim do dia. São programas normalmente caros, como um balé de vanguarda da Débora Colker ou um concerto de Keith Jarret, o músico que transa com o seu piano.
O Rio está repleto de boas opções teatrais, debates literários, exposições performáticas. Mas de vez em quando a Tropa de Choque age contra traficantes onde a chapa é quente, e a Praça da Bandeira enche toda vez que cai um toró.
Em julho é a vez da Flip 2011, na linda cidade de Parati, a três horas do Rio. Este ano a festa homenageará o modernista paulista Oswald de Andrade e seus manifestos antropofágicos. A grande novidade é a apresentação do músico escocês David Byrne, ex-integrante da banda new wave Talking Heads, mas Zé Celso Martinez, do Oficina, promete performances pra lá de sexuais.
Nada mal pra você que perdeu o show do Paul McCartney e a despedida do Petkovic do Flamengo, domingo passado no Engenhão.