postado em 13/06/2011 08:49

Em entrevista ao Correio, ela falou sobre o filme e diversos outros assuntos. A paulistana falou sobre drogas, carreira, projetos e prostituição. O tema que a fez ser nacionalmente conhecida não é um tabu. Ao contrário, ela fala abertamente sobre o assunto e se diz dividida em relação à legalização da atividade.
Filme
A exposição que eu tive com o filme Bruna Surfistinha é muito maior do que a que alcancei com o livro O doce veneno do escorpião ; que inspira a obra cinematográfica. A repercussão tem sido essencialmente positiva. A maioria dos comentários é de elogios, há também algumas críticas, mas lido bem com isso. Eu estava com medo de como seria me ver no cinema, mas posso garantir que me enxerguei do início ao fim.
Deborah Secco
No começo eu fiquei desconfiada, era um pouco difícil imaginar a Deborah interpretando uma garota de programa. Ela sempre fez papel de boazinha na televisão. Mas eu nunca fui mocinha, muito menos a Bruna Surfistinha. Ela me surpreendeu, mostrou que é uma das maiores atrizes dessa geração. Encarnou a personagem, consegui me ver nela. Quando a conheci, lembro que fiquei surpresa como ela é humilde. Durante as gravações ela pediu para me conhecer, achei isso emocionante.
Produção
Participei muito indiretamente da produção do filme, para ser sincera. Depois do contrato assinado, conversei com o diretor, Marcus Baldini, e os roteristas antes deles começarem, mas só vi o roteiro pronto. Nem na seleção de elenco estive presente. Não tive contato nem mesmo com a Deborah durante as filmagens. A ideia foi do Sérgio Penna, preparador de elenco, porque ele não queria que a Bruna do filme fosse uma caricatura minha. Quando vi o filme, o material já estava praticamente todo pronto. Percebi que tinha algumas mudanças em relação ao livro, mas aprovei e gostei delas.
Bruna ou Raquel
Sinceramente, posso falar que a Bruna Surfistinha é maior que a Raquel Pacheco. Todas as minhas conquistas na vida estão ligadas a essa personagem, não tem como negar. As duas são inseparáveis, por isso entendo as pessoas me chamarem de Bruna, na verdade, esse é o nome pelo qual eu sou mais conhecida. Eu sou bem resolvida com isso, aprendi a separar as coisas. Quando estou com minhas amigas, sou a Raquel e nem converso sobre sexo e prostituição.
DJ
Eu comecei a investir na carreira de DJ. A vontade de discotecar é uma coisa da Raquel, mas percebi que as pessoas queriam ouvir a DJ Bruna Surfistinha. Aí não esquentei a cabeça, entendi que era algo que seria benéfico para esse projeto. Atualmente, sou residente toda quinta-feira no At Nine, um bar de São Paulo. Meu estilo preferido é anos 1980, mas acabo tocando umas músicas mais atuais, principalmente no bar eu toco muito house e pop.
Projetos
Estou tocando alguns projetos, um site (naonaopara.com.br) de conteúdo erótico para o público feminino, uma linha de sabonetes íntimos com a marca Bruna Surfistinha e estou trabalhando em um outro livro. Eu quero contar um pouco da minha vida ;pós-prostituição;, mostrar esse outro lado. O material está quase todo pronto, falta apenas o capítulo sobre o filme, quero as informações definitivas. Deve sair ainda em 2011.
Blog
Tudo começou com o blog. Criei o primeiro em 2003, não durou porque fiquei com medo da exposição. Aí em 2004, resolvi fazer outro. Criei sem muita pretensão, mas quando vi estava fazendo sucesso. Acho que meu diferencial é escrever bem, recebi diversos e-mails perguntando se eu era prostituta mesmo. Eu sempre fui antenada e tive uma base educacional boa. Escuto muita gente falando que não precisa estudar porque a Bruna Surfistinha ganhou muito dinheiro. Me destaquei por conta do estudo, senão seria só mais uma
Prostituição
Eu ajudei e colaborei para diminuir o preconceito. Acho que, a partir do meu caso, as pessoas mudaram a visão sobre a prostituição, começaram a enxergar como uma profissão. Mudei o estereótipo também. O pessoal viu que garota de programa não é somente a menina pobre vinda do interior que precisa mandar dinheiro para a família todo mês. Eu era da classe média paulista, assim como várias amigas, e decidi me prostituir aos 16 anos para sair da casa dos meus pais.
Legalização
Esse é um tema delicado. Por um lado, seria importante para acabar com a exploração, com a violência e com a ;cafetinagem;. O problema é que se você perguntar para as meninas, elas vão falar que não. Tudo isso por causa do registro na carteira, ninguém quer a profissão de garota de programa. A maioria tem a prostituição como o maior segredo da vida. Pelo menos essa é a opinião das pessoas com quem eu trabalhei. Sabe como é, as pessoas esperam muito pouco de uma prostituta, acham que ela só sabe fazer sexo, que ela é incapaz de ser uma vendedora de loja, por exemplo.
Drogas
Ao contrário do que todo mundo fala, a vida da prostituta não é fácil. A menina sente dor, nojo dos homens, problemas com a família e começa a viver com medo de tudo. Aí o caminho natural é usar drogas, é uma espécie de fuga daquilo tudo. Por isso, é quase impossível desassociar as drogas da prostituição. Nesse círculo, todo mundo usa, mas é claro que tem algumas exceções, não dá para generalizar.
Bullying
Eu sofri bullying na escola, foi difícil e na época nem tinha esse nome. Hoje, percebo que estou muito melhor do que as pessoas que riam da minha cara. Essa revolta de ser discriminada só me deu força para mostrar aonde eu poderia chegar, independentemente do caminho escolhido. Apesar de tudo, mostrei para todo mundo que eu sou capaz.