;Eles têm de ter consciência de que, se quiserem pegar alguma coisa das minas, têm de fazer isso de uma certa distância. Não podem nem chegar perto;, avisa um das autoridades de Zâmbia, sem saber que a câmera de Ivo Bystoléan já estava ligada, enquanto o cineasta solicita autorização para fazer gravações no país africano. Esse é um dos trechos do documentário da República Tcheca A idade do cobre, um dos médias-metragens que abrem a mostra competitiva do 13; Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), em Goiás Velho, a partir de hoje.
Até domingo, serão exibidos 40 filmes entre curtas, médias e longas-metragens de vários países. Os títulos serão divididos em mostras competitivas e paralelas. Em comum, todos versam sobre a relação entre o ser humano e o meio ambiente em festival que acompanhou a evolução do tema representado no cinema e na televisão. ;No começo, os filmes apresentavam os problemas como se fossem catástrofes. Eram mais apocalípticos. A tendência hoje é que eles apresentem possíveis soluções. Cada vez mais, os cineastas têm produzido obras de poesia. Filmes artísticos;, acredita Lisandro Nogueira, um dos coordenadores do Fica.
Não só grandes desastres ambientais são denunciados durante o Fica. A falta de verbas para sustentar um abrigo de cachorros de rua na Armênia e o consequente extermínio da população canina é apresentado em Eu sou contra, do grupo Sunchild Eco-Club of Yeveren. Mas, sem engano: a falta de cuidado com o meio ambiente não é privilégio dos países pobres. Ocorre principalmente em países em desenvolvimento. ;Nós mostramos o outro lado da China. A mídia tradicional tem batido na tecla do desenvolvimento econômico de lá, mas muito pouco sobre a devastação do país, o outro lado do desenvolvimento chinês;, adianta Nogueira. Como não poderia deixar de ser, em tempos de aquecimento global, um dos temas prediletos dos cineastas foram as mudanças climáticas.
Experiências brasileiras
Do Brasil, destacam-se dois longa-metragens Lixo extraordinário (Waste land) e Terra deu, terra come. Dirigida pelo trio Lucy Walker e pelos brasileiros João Jardim e Karen Harley, a coprodução com a Inglaterra foi um dos concorrentes ao Oscar de melhor documentário neste ano. Nela, as câmeras acompanham o trabalho do artista plástico Vik Muniz ao lado de catadores de material reciclável em Jardim Gramacho, periferia do Rio de Janeiro. Já a inspiração para Terra deu, terra come aconteceu quando o cineasta Rodrigo Siqueira topou com o garimpeiro aposentado Pedro de Alexina, um dos guardiões da tradição quilombola da cantoria de vissungos da Chapada Diamantina. Juntos, em cumplicidade, diretor e personagem planejam uma trapaça maravilhosa. Terra deu teve uma das estratégias de lançamento mais ousadas dos últimos anos no cinema brasileiro. Siqueira distribuiu gratuitamente DVDs por cineclubes do Brasil enquanto o filme estava sendo exibido em circuito comercial. O filme já foi visto por mais de 5 mil espectadores. Número alto para documentários brasileiros.
A programação de cursos e palestras terá a participação do cineasta e comentarista político Arnaldo Jabor (que ganhou uma mostra especial com quase todos os seus filmes) e o cineasta marginal e agora documentarista Andrea Tonacci (Bang bang e Serras da desordem), que ministrará um curso sobre os limites entre cinema de ficção e de realidade. Durante os dias de festival, a cidade se movimenta também com a programação musical, com participação de 17 artistas goianos selecionados em concurso. Na sexta, haverá apresentação da cantora Maria Rita. No sábado, é a vez da primeira atração internacional passar por lá: o cantor Manu Chao. O encerramento será com Rita Lee, no domingo. Assim como as exibições no cinema, todas as apresentações serão gratuitas.
Carlos Manga em Ouro Preto
Lixo extraordinário também está na programação da 6; Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP), em Minas Gerais, que acontece no mesmo período, de hoje a segunda-feira. O homenageado deste ano em Minas será o diretor Carlos Manga. Vários títulos dirigidos por ele dentro do mítico estúdio da Atlântida (1941-1962, no Rio de Janeiro) estão na programação, como O homem do Sputnik e Matar ou correr. Mas também fazem parte da programação títulos recentes, como a comédia adolescente de Rosane Svartman, Desenrola, e Brasil animado, de Mariana Caltabiano, o primeiro produzido em 3D no Brasil. As exibições serão feitas no Centro de Artes e Convenções, no Cine Vila Rica e na Praça Tiradentes. Assim como acontece em Goiás Velho, o CineOP também oferece cursos e oficinas durante os dias de realização. Mais informações podem ser obtidas no site http://www.cineop.com.br/.
Veja trailers de alguns filmes participantes:
Curta "Acercadacana" (Brasil-PE, 2010, Direção: Felipe Peres Calheiros)
Filme "Fractais Sertanejos" (Brasil-CE, 2009. Direção: Heraldo Cavalcante)
Curta "Eu Sou do Contra" (I am Against, Armênia, 2010. Direção: Sunchild Eco-Club of Yeveren)