Se um filme da história do Polo de Cinema de Sobradinho fosse produzido, certamente a película seguiria o gênero drama e apresentaria uma série de imperfeições e ranhuras na imagem. Em 2011, o polo completa 18 anos de inauguração ainda sem fôlego. A situação de sucateamento das instalações em Sobradinho mantém-se crítica. Entre vários problemas, a estrutura do telhado do único estúdio está apodrecida e pode desabar ameaçando equipamentos e parte de um pequeno acervo armazenado no local. Os vazamentos no telhado já destruíram cenários de duas produções brasilienses. A deterioração da estrutura física do Polo de Sobradinho é apenas a parte visível do estado em que se encontra a política cultural no Distrito Federal.
Enquanto isso, em Paulínia, cidade do interior de São Paulo, o esquema produtivo criado pelo governo desperta interesse entre a comunidade cinematográfica nacional. A cidade tem população próxima dos 85 mil habitantes e exibe uma das melhores infraestuturas para produções cinematográficas do país, com quatro estúdios montados e apoio incondicional, dinheiro vindo em grande parte dos royalties do petróleo recebidos pela prefeitura.
O contraste, cada vez maior entre os dois, pode suscitar comparações entre as gestões dos polos de cinema no país, o daqui e o de lá. ;Quem tem um polo de verdade é Paulínia. Nós temos um projeto de polo que, na minha avaliação, nunca saiu do papel;, avalia José Delvinei Santos, subsecretário de patrimônio histórico, artístico e cultural, área que engloba a diretoria de cinema e audiovisual da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.
A criação do Polo de Cinema de Paulínia, em 2006, foi motivada por um fator econômico. A economia da cidade é praticamente dependente da existência de um riquíssimo polo petroquímico na região. O governo municipal precisava encontrar alternativas para geração de postos de trabalho em atividades diferentes. Uma das alternativas foi o investimento maciço de capital advindo do petróleo na indústria do entretenimento. ;A cidade tem problemas graves para dispor de economia sustentável.
[SAIBAMAIS]Não existiam alternativas para que fossem instalados outros segmentos econômicos além do petroquímico e acreditávamos que um arranjo produtivo para o audiovisual poderia suprir essa falta;, explica o secretário de Cultura do município de Paulínia, Emerson Alvez.
Incentivo
As facilidades oferecidas na cidade paulista tem atraído realizadores veteranos e estreantes. A diretora Lúcia Murat (Brava gente brasileira) está rodando o longa Sala de espera, com participação no elenco do ator italiano Franco Nero. O ator Selton Melo rodou o segundo longa como diretor, O palhaço, em Paulínia. Ambos conseguiram patrocínio de um programa de incentivo à produção de longas e curtas-metragens nacionais do Polo de Paulínia que distribui R$ 9 milhões, anualmente, por meio de edital. No DF, o FAC distribui R$ 34 milhões para ser dividido com todas as expressões artísticas.
Em 2009, foram feitas modificações no concurso para proteger o mercado cinematográfico da região. Por exemplo, os contemplados no edital paulista devem prever parte das filmagens em Paulínia e cidades próximas, metade do valor recebido do governo municipal deve ser gasto com mão de obra e serviços oferecidos no município e profissionais da região têm de ser contratados pelas produções.
Outra das exigências vincula produção com exibição. Os filmes contemplados pelo edital têm de ter estreia necessariamente feita nas instalações do Theatro Municipal de Paulínia.De preferência, durante o festival da cidade. Este ano, das sete produções selecionadas para a edição que acontecerá entre 7 e 14 de julho, cinco foram rodadas lá.