postado em 16/06/2011 08:28
No Distrito Federal, ano após ano, cineastas e produtores brasilienses se sentiram desmotivados para usar as instalações do Polo de Cinema de Sobradinho. A insatisfação da classe cinematográfica com a administração do Cine Brasília e com o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro é visível em fóruns de debates do setor. O produtor brasiliense Marcelo Torres tem 51 anos de idade, 30 de profissão, e contabiliza pelo menos 50 produções de longas-metragens no currículo. Trabalhando neste momento no Rio de Janeiro, Torres começou profissionalmente em Brasília, em A difícil viagem, de Geraldo Moraes. Ele é um dos que preferem não utilizar o polo.O produtor executivo voltou à capital para as filmagens do longa Somos tão jovens, biografia do cantor de rock e líder da banda Legião Urbana, Renato Russo, dirigida por Antonio Carlos Fontoura. O retorno à cidade onde cresceu e iniciou a carreira não foi entusiasmante. ;Quando filmamos Louco por cinema (de André Luís de Oliveira, em 1994) no polo, tínhamos a esperança de que o mercado cinematográfico em Brasília iria melhorar ao longo dos anos. Era essa a sensação. Nós voltamos agora para fazer uma produção que vai levar a imagem da cidade para o resto do país e encontramos tudo deteriorado;, constatou Torres. Somos não tem patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, mas receberá apoio logístico do governo.
Demanda
Na ponta do lápis, a produção reúne 19 profissionais brasilienses atuando em funções técnicas, de um total de 50 de vários estados, e contará com a participação de 30 atores locais e 700 figurantes. Coincidentemente, outra produção envolvendo a imagem de Renato Russo foi produzida aqui este ano. A etapa Brasília das filmagens de Faroeste caboclo, de René Sampaio, acaba de ser encerrada. Apesar da movimentação, o giro de capital em Brasília foi muito menor do que poderia ter sido.
Sócio e gestor da locadora de equipamentos cinematográficos, Movie Center de Brasília, Gustavo Miguel, 59 anos, diz que não locou qualquer equipamento para as duas produções e não registrou um aumento de movimento de saída este mês. ;Nós não fomos contactados por nenhuma das produções. Os equipamentos devem ter vindo de fora. Estamos alugando para curtas-metragens brasilienses em produção, mas a movimentação não aumentou este mês;, contabilizou o empresário.
[SAIBAMAIS]O subsecretário de patrimônio histórico, artístico e cultural, da Secretaria de Cultura, José Delvinei Santos, reconhece a precariedade da situação. ;Não existe uma política para discutir o cinema como indústria aquisitiva. Precisamos pensar o polo dentro de uma política pública para o audiovisual e além disso, criar uma demanda específica para ele;, admite. Segundo Delvinei, nenhuma alteração será feita sem discussões entre governo e a comunidade cinematográfica do DF. A previsão do subsecretário é que fóruns sejam organizados na edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro deste ano.
Em relação ao Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o assessor técnico legislativo da Secretária de Cultura, Pedro Henrique de Carvalho Costandrade, evita comparar textos de projetos de outros estados. ;O FAC trabalha com várias linguagens artísticas. Não há um concurso específico para o cinema. Os editais do Ministério da Cultura são modelos interessantes como também os do Rio Grande do Sul e Pernambuco;, esclarece. Ainda segundo o assessor, o FAC até hoje é mantido por meio de portarias. ;Nunca houve editais. Nós estamos escrevendo o edital que deve estar pronto no final deste mês ou início do próximo;, prevê.