A paixão pelo método de sua professora de português da adolescência, que fazia os alunos transformarem em peças alguns poemas clássicos da literatura brasileira, aproximou a atriz Priscila Camargo do teatro. O acaso, sob a forma de um acidente de carro, abriu seus canais espirituais e acendeu o desejo de ser contadora de histórias. Anos de estudos e maturidade aproximaram essas duas vertentes e, hoje, ela mistura histórias tradicionais e sagradas de todos os cantos do mundo com cenário elaborado, figurino no capricho, músicas ao vivo no palco e bonecos. De amanhã a domingo, a atriz estará em Brasília com dois espetáculos: Histórias da mãe África e Contos da terra dos mil povos, no Teatro Plínio Marcos do Complexo Cultural da Funarte.
Em Histórias da mãe África (De amanhã a domingo, às 17h), ela faz um passeio afetivo por tradições sagradas africanas, sem apego a mapas ou a geografia. ;Encontrei uma versão egípcia de Cinderela, que está registrada em papiros;, conta. Seus relatos passam pelos animais, pelo mundo muçulmano, circulam pela Etiópia, entram no universo musical do Senegal e chegam ao repertório de lendas afro-brasileiras.
Além de cantar e dançar músicas que ela compôs ao lado de Via Negromonte, com a companhia de músicos no palco, ela traz à cena o Griot ; típico contador de histórias da África, uma espécie de memória viva, juiz de paz e autoridade inquestionável das tribos. Nesse caso, o rosto do boneco foi inspirado em um ator e contador de histórias de Burkina Faso ; outro país africano. O espetáculo nasceu diante da necessidade de levar a África às escolas brasileiras de forma interessante para a criançada. ;É bom que os secretários de educação de todo o país saibam que há um belo produto sobre esse continente para as crianças;, avisa Priscila, que já encenou Histórias da mãe África em Cabo Verde.
Raízes
A trajetória como contadora começou em 1989, período marcado por um hiato em sua carreira de atriz. Priscila tinha um desejo especial de sensibilizar quem já deixou a infância para trás. ;A gente perdeu a beleza no olhar, a inocência , a ingenuidade, o poder de se ver, de se harmonizar;, avalia. Depois de contar histórias para grupos pequenos, amigos, pessoas que enfrentavam fases difíceis e lutavam contra doenças, ela decidiu levar aos palcos seu formato teatral de contar histórias.
;Atores e contadores me olhavam torto. Levaram um tempo para entender e aceitar o que eu queria fazer;, revela. Depois de Brasília, as duas montagens passarão por Goiânia, Porto Velho, Rio Branco, Macapá e Palmas. A maioria, cidades que Priscila ainda não conhece, prato cheio para novos mergulhos em lendas a tradições do Brasil.
HISTÓRIAS DA MÃE ÁFRICA
Direção: Cacá Mourthé. Adaptação e atuação: Priscila Camargo. De amanhã a domingo às 17h, no Teatro Plínio Marcos, (Funarte ; Eixo Monumental ; Setor de Divulgação Cultural Lote II ; 3322-2025). Ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia). Classificação indicativa livre.
CONTOS DA TERRA DOS MIL POVOS
Direção, pesquisa, adaptação e atuação: Priscila Camargo. Supervisão artística: Cacá Mourthé. De amanhã a sábado às 21h e domingo, às 20h, no Teatro Plínio Marcos (Funarte ; Eixo Monumental ; Setor de Divulgação Cultural Lote II ; telefone). Ingressos a R$ 20 e 10 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.