Ricardo Daehn
postado em 16/06/2011 10:00
;Foi um curso de cinema e de humanidade;, é a definição do renomado cineasta português João Canijo, quando o assunto é a adaptação para o palco da clássica obra Persona, do monstro sagrado da dramaturgia sueca, Ingmar Bergman. Depois de boa acolhida em Portugal, o espetáculo estreia, hoje, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Integrada à MIT ; Mostra Internacional de Teatro, a apresentação ainda vai propiciar contato amplo com a plateia, amanhã (às 16h30), com um debate entre Canijo e o público.Pragmático, o cineasta que, por exemplo, viu as seleções de filmes dele nos festivais de Cannes e de Veneza como ;importantes pela garantia de financiamento dos filmes seguintes;, não faz mistério, ao comentar o caldo da fusão entre as tradições lusitana e escandinava: ;Não há embate entre as culturas, pois o filme continua moderno e o tema dele ; o desfazer da máscara ; é universal;.
Aos 54 anos, a experiência de quem já lidou (nos palcos) com textos de Eugene O;Neill e David Mamet (afora as incursões em cinema de colaboração com Manoel de Oliveira e Wim Wenders), reservou segurança para cutucar o universo de Bergman. ;Não tive receio, ao descobrir a forma de adaptar. Há muitos anos, tive uma epifania com uma frase de Aristóteles (;As palavras faladas são sinais das expressões e dos afetos da alma;). Isso, para mim, quis dizer que uma interpretação depende da pessoa e da sua circunstância, ou seja, não há nem pode haver duas interpretações iguais. Sendo assim, o receio some. Também foi importante o exemplo do Wooster Group (uma trupe experimental) que montou, de modo genial, peça que remeteu ao Hamlet, feito em 1964, por Richard Burton.;
Sem dificuldades para a negociação da obra (vista nos cinemas em 1966) ; ;foi fácil já que os suecos compreendem o interesse da divulgação da cultura deles; ;, o diretor de Três menos eu e Noite escura, na nova montagem do Teatro Turim, conta com as atrizes Katrin Kaasa, Teresa Tavares e Anabela Moreira. No palco, a projeção da fita em preto e branco de Bergman ;coreografa; a encenação teatral, em que Canijo ressalta privilegiar ;o trabalho com os atores;. Daí, a sinceridade ser elemento de base, e de convencimento, para as ;interpretações independentes; daquelas adotadas por Liv Ullmann e Bibi Andersson. No enredo, a mudez súbita de uma atriz (chamada Elizabeth Vogler) a coloca em contato com uma enfermeira, não por acaso, batizada como Alma. A relação avança pelo mais inimaginável dos caminhos.
Persona
Teatro do Centro Cultural do Banco do Brasil (SCES, Tr. 02, Lt. 22,
3310-7087). Hoje e amanhã, às 21h. Adaptação de João Canijo para a obra de Ingmar Bergman. Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50 (meia). Não recomendado para menores de 16 anos. Para o debate (amanhã, às 16h30), entrada franca, mediante inscrição prévia, pelos fones 3108-7623 e 3108-7624.