Diversão e Arte

Nordestinos Terezinha e Roque José enchem de tradição as feiras do DF

Irlam Rocha Lima
postado em 17/06/2011 10:07

Arte do improviso: os amigos nunca deixam de atender às sugestões de pessoas que os ouvemRoque José e Terezinha são artistas mambembes. Há 15 anos, esses dois emboladores nordestinos perambulam pelo país, alegrando plateias em praças e feiras, com improvisos e rimas sobre temas variados. Desde 2003, eles cumprem temporadas curtas no Distrito Federal, tendo como referência a Casa do Cantador, em Ceilândia, onde ficam hospedados, geralmente, por alguns meses.

Em abril, a dupla retornou à capital. Desde então, tem levado a poesia eminentemente popular ao público que os assiste com interesse e admiração. Embora a temática abordada tenha como suporte a herança cultural recebida na região de origem, os amigos ; como bons improvisadores ; nunca deixam de atender às sugestões de pessoas que os ouvem. Do aspecto físico de quem os provoca às relações amorosas, versejam sobre tudo, evitando fatos e acontecimentos ligados à política. ;Somos recebidos com carinho em todos o lugares onde temos levado nosso trabalho. As pessoas gostam de ouvir o repente e costumam participar, sugerindo temas para as rimas;, festeja Terezinha, 73 anos, norte-rio-grandense de Currais Novos.

Taguatinga, Samambaia, Brazlândia, Gama, Núcleo Bandeirante, Paranoá, São Sebastião e Planaltina são cidades em que já se apresentaram. No Plano Piloto, eles fazem a roda na Praça dos Artistas, no Setor Comercial Sul, e na passarela entre o Conic e o Conjunto Nacional. ;Ali, muitas vezes, surge o rapa (fiscais do GDF) e a gente tem que sair correndo.; No Entorno, já estiveram em Águas Lindas e Brasilinha (GO). Ceilândia, no entanto, é o lugar onde Roque e Terezinha mais se apresentam. A cantoria ocorre, geralmente, duas vezes por semana, entre 11h e 12h, na pracinha em frente ao Restaurante Comunitário e na Feira Permanente. ;Lá é a nossa base, mas já cantamos em praticamente todas as cidades do DF, sempre em praças e feiras;, conta Roque, 36 anos, pernambucano de Chã Grande, cidadezinha próxima a Caruaru.

Ao fim de cada cantoria de, no máximo, uma hora de duração, eles passam o pandeiro entre os espectadores que costumam fazer pequenas contribuições. ;É com isso que nos mantemos. Fazemos, também, a venda de CD (R$ 5) e do DVD (R$ 10), que gravamos há três anos no auditório da Casa do Cantador;, explica Roque. ;Estamos nos preparando para gravar um outro CD;, acrescenta.

Os shows são outra fonte de renda de Roque e Terezinha. Eles estão escalados para a próxima edição do Maior são- joão do Cerrado (festa junina fora de época, que vai ocorrer entre 4 e 14 de agosto, no Ceilambódromo). Estarão ao lado de astros e estrelas da música popular brasileira, como Gilberto Gil, Elba Ramalho, Alceu Valença, Jorge de Altinho, Frank Aguiar e Banda Calypso.

Como não se vexam diante de pedido para criar rima sobre assuntos mais diversos, por sugestão da reportagem, Roque fez esses versos saudando este jornal: ;O Correio Braziliense eu acho muito legal/ Todo dia eu compro ele/ Porque acho especial/ Por isso que eu admiro/ O melhor da capital;. Terezinha que o ouvia, disse que assinava embaixo.

Herança de pai

Terezinha é o nome artístico de Otília Dantas de Lima, repentista desde os 9 anos de idade. ;Meu pai era violeiro e repentista e foi quem me influenciou para que eu seguisse essa carreira. Ainda na infância, comecei a cantar nas praças Gentil Ferreira, do Alecrim e da Ribeira, em Natal. Durante 20 anos, fiz dupla com minha irmã Lindalva. Nós duas cumprimos longa temporada no Rio de Janeiro, morando em São João do Meriti e cantando no Largo da Carioca, na Cinelândia, nas praças XV, Mauá, do Pacificador (em Caxias, na Baixada Fluminense);, recorda-se. A dupla se separou e Lindalva voltou para Campina Grande (Paraíba).

Terezinha chegou a participar de vários programas de tevê, como os de Flávio Cavalcante, Os Trapalhões, Som Brasil (apresentado por Rolando Boldrin e Lima Duarte), em Hebe Camargo e no Domingão do Faustão. Com 15 filhos, 23 netos e 19 bisnetos, Terezinha fala com carinho de Roque: ;Ele é como se fosse um filho para mim. Nos entendemos bastante. Na roda, ele tira a rima e eu o acompanho;.

Foi igualmente o pai violeiro, Sebastião de Barros, quem incentivou Roque José a seguir a arte do repente, mas as influências maiores vieram dos conterrâneos Barra do Dia, Rouxinol Pereira e Caju & Castanha. ;No começo da adolescência, formei a dupla Melão & Melancia, com meu irmão João José. Cantamos muito nas feiras de Caruaru, Gravatá, Vitória de Santo Antão e Bezerro;, lembra. Com 23 anos, gravou um disco em São Paulo. Logo depois foi para o Rio, pois queria conhecer Terezinha, de quem era fã. ;Trabalho com Terezinha há 15 anos e para mim é uma realização, pois sei que estou ao lado de uma grande artista popular;, elogia.

Casa do Cantador

; No dia de São João, tem festa de raiz na Casa do Cantador. O projeto Sexta do Repente programa para a quarta edição, dia 24, às 20h, apresentações de Djalma Faustino e Zé Moacir, residentes no DF; Moacir Laurentino, de Campina Grande; e João Paraibano, de Afogados da Ingazeira (PE). A entrada é franca e a classificação indicativa, livre.

Assista ao vídeo de Desafio Malcriado

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação