postado em 22/06/2011 12:00
;Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão; era o suficiente para Glauber Rocha. ;Uma ideia criativa e um bom planejamento; é o que pregam os novos empreendedores. Essa é a máxima do crowdfunding, o equivalente em inglês para um conceito simples em português: financiamento colaborativo. A prática tem se difundido na web com velocidade extraordinária e ajudado vários projetos culturais a sair do papel.A primeira plataforma brasileira surgiu em janeiro deste ano. Hoje, são pelo menos 20. A principal função delas é selecionar projetos para a vitrine do site e viabilizar a captação de recursos. O autor envia a proposta e define o valor de que precisa. Se a ideia for aprovada, ele tem um prazo limite para atingir o montante estipulado. O colaborador escolhe o quanto quer doar e, de acordo com o valor, são oferecidas recompensas, que vão desde CDs e DVDs até um encontro com o artista. Caso a quantia mínima não seja atingida, todo o dinheiro arrecadado é devolvido para quem colaborou. É o modelo tudo ou nada.
A banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju, por exemplo, buscou financiamento para o festival Móveis Convida inscrevendo o evento num site, o Embolacha. ;Nós recebemos mensagens de fãs de outras cidades dizendo que queriam ajudar na realização do festival mesmo sem poder ir. Então resolvemos participar;, conta o baixista Fábio Pedroza. ;O Móveis é uma banda que depende exclusivamente do público. Nós temos uma relação de muita proximidade;, acrescenta.
A 12; edição do Móveis Convida, que começa neste sábado, tem programação extensa, com shows, oficinas e palestras sobre música. Fãs e simpatizantes da causa têm até sexta-feira para ajudar na viabilização do projeto. Entre as recompensas está uma visita da banda à casa do colaborador.
O Embolacha é uma plataforma de crowdfunding que nasceu na Bolacha, empresa que agencia e distribui música. ;A ideia surgiu da nossa experiência, da dificuldade financeira para realizar os nossos projetos;, conta o coordenador Paulo Monte. Como a maioria dos sites colaborativos, o Embolacha fica com cerca de 5% do valor arrecadado para cada proposta bem-sucedida. ;É óbvio que existe o interesse comercial, mas queremos estimular essa forma diferente de produzir cultura. É como se estivéssemos pavimentando e andando na rua ao mesmo tempo, tentando construir um cenário mais favorável para podermos atuar. Sabemos que não é a solução para o mercado, mas resolve alguns problemas;, diz Paulo.
Os pioneiros
Diego Reeberg, um dos criadores do pioneiro Catarse, conta que a principal referência foi o site norte-americano Kickstarter. ;Queríamos empreender alguma coisa e procuramos projetos bacanas lá fora que poderiam dar certo no Brasil;, comenta ele, que tem 23 anos e inaugurou a plataforma depois de quase um ano de pesquisa, ao lado de Luís Otávio Ribeiro, 20, também estudante de administração da Fundação Getúlio Vargas. ;Na hora de selecionar, nós avaliamos os trabalhos que a pessoa já desenvolveu, a coerência entre o projeto e o valor, as recompensas e o quanto ela está empolgada. Ela precisa estar apaixonada para convencer os outros de que a sua ideia merece ser financiada;, explica Diego.
Com cinco meses de funcionamento, o Catarse já movimentou cerca de R$ 270 mil. Dos 36 projetos cujos prazos se encerraram, 25 foram bem-sucedidos, ou seja, levantaram a quantia mínima necessária no tempo limite. E se por um lado existe um piso, por outro, não existe um teto. A maioria dos projetos arrecadou valores superiores ao demandado. É o caso do Videocirco, do Núcleo de Estudos e Experimentações com Circo e Transversalidades (Necitra), que atingiu 285% do valor de que precisava. A Banda Mais Bonita da Cidade, sensação na internet, também está na página: 12 músicas foram selecionadas e aquelas que conseguirem a quantia mínima entram no primeiro disco do grupo curitibana. Até agora, só Oração, o hit do YouTube, tem o seu lugar garantido. O prazo se encerra em 1; de julho.
Outro modelo
Com uma proposta diferente, a Benfeitoria recebe os títulos de única plataforma colaborativa gratuita do mundo e de única que permite contribuições não financeiras, como prestação de serviços e doação de materiais. ;Nós achamos que cobrar os custos de transação e a comissão é uma grande barreira para quem está precisando dos recursos;, afirma Murilo Farah, um dos idealizadores do site. ;Acreditamos em outro modelo de negócio. A receita pode vir por meio de parcerias com empresas ou serviços adicionais prestados ao usuário. Mas o nosso maior objetivo é tentar envelopar boas ideias e gerar impactos positivos para um indivíduo ou para a sociedade.;
;O que move uma pessoa, move outras;, diz Vanessa Oliveira, do site Movere. ;As pessoas querem ajudar e ter liberdade de ação. A gente só facilita, oferecendo mais uma ferramenta.; O Movere é a plataforma que teve o projeto que mais arrecadou recursos no Brasil até agora: a gravação de um CD do grupo carioca Sururu na Roda em homenagem ao centenário de Nelson Cavaquinho (R$ 35 mil). ;Às vezes as pessoas não conhecem o autor da proposta, mas gostam da ideia e se mobilizam. As pessoas têm uma capacidade enorme de serem incríveis;, conclui Vanessa.