postado em 27/06/2011 08:55
Há muito tempo, o teatro de Antunes Filho se universalizou. O que ele faz no palco do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) dialoga com o mundo. Não só pela qualidade com que monta espetáculos, mas, sobretudo, da forma como o encenador entende o teatro, como uma arte capaz de aprimorar o homem. Esse fio espiritual e missionário norteia a trajetória do diretor, responsável por grandes feitos nas artes cênicas nacionais. Um deles, o de teatralizar clássicos da literatura sem trai-los, como A pedra do reino, de Ariano Suassuna, e Macunaíma, de Mário de Andrade. Ambos, marcos de sua teatralidade nos palcos nacionais.É diante de um mestre que José Wilker encerra a primeira temporada de Palco e plateia, que vai ao ar hoje, às 21h, com reprise domingo, às 12h30, no Canal Brasil. Os dois, apresentador e entrevistado, não conversavam havia três décadas. O clima de descontração marca a entrevista, gravada no Sesc Consolação em São Paulo, e Antunes Filho repassa a trajetória, indo para momentos marcantes, como a sua formação no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), onde se formou com a leva de diretores estrangeiros que chegaram ao país para trabalhar com Franco Zampari. Ali, quando havia uma busca concreta para profissionalizar o teatro nacional, montando grandes textos internacionais, sobretudo, ele observou o método dos diretores Ziembinski, Adolfo Celi, Luciano Salce, Ruggero Jacobbi e Flaminio Bollini.
É nessa escola que ele se forma para fazer parte da primeira geração de encenadores do país, um dos melhores diretores de Nelson Rodrigues e criador do sistema denominado de Hierofania, ;para o desenvolvimento do potencial expressivo do artista, sempre fundamentados na ideologia de que é preciso formar e transformar o ser humano para que se forme o ator.; Boa parte da entrevista é dedicada a entender o sistema e a metafísica que envolvem a encenação de Antunes Filho, que visa atingir a realidade subjetiva, daí a qualidade de sua teatralidade.
Um dos poucos programas no país dedicado ao teatro, Palco e plateia termina a sua primeira temporada como uma das melhores investidas do Canal Brasil. Com a preocupação em reconstituir a memória das artes cênicas no país, o programa passeou pela preocupação histórica de recompor trajetórias e questões fundamentais para se entender por que o teatro brasileiro, um dos melhores do mundo, é tão destratado pelo poder público em suas diversas instâncias. Esse objetivo foi conseguido não por um tom panfletário do ator, diretor e apresentador José Wilker, mas pela diversidade de artistas que passaram por essa temporada. Aderbal Freire-Filho, Charles M;eller, Bia Lessa, Amir Haddad, Chica Carelli e Marcio Meirelles (Bando de Teatro Olodum), Rodolfo García Vázquez (Grupo Os Satyros), Eduardo Moreira (Grupo Galpão), Guti Fraga (Grupo Nós do Morro), Hamilton Vaz Pereira, Gabriel Villela, Miguel Falabella, Bibi Ferreira e Antunes Filho formaram o elenco de ouro, produzindo um invejável material que pode render uma ótima caixa de DVDs para estudiosos e amantes do teatro. Agora, é aguardar a próxima temporada.